Por Geraldo Maia do Nascimento
O Rio Mossoró
corta a cidade ao meio, formando ilha, se mostrando em sua plenitude. Nasce nos
limites do Rio Grande do Norte com a Paraíba, em São Brás, Município de Luís
Gomes, e faz um percurso de 300 Km aproximadamente, sendo o maior rio do
Estado. Não há como entrar na cidade sem o ver. Atravessa-a de sudoeste a
nordeste. Antes era rio livre; travesso. Corria majestoso em suas enchentes,
formando grandes redemoinhos, cortando barrancos às suas margens, arrastando
troncos de árvores em suas águas barrentas e veloz. Travessuras essas que
fizeram com que os nativos que aqui habitavam o chamassem de mô-çoroc, vocábulo
indígena que significa “fazer roturas, rasgar, abrir”. Esse vocábulo, segundo
alguns historiadores, teria dado nome a cidade.
Para evitar os
males das enchentes, foi feito um desvio do leito do rio, entre os anos de 1877
a 1880. Mas acontecia também do rio secar, preocupando a população. Foi assim
em 1905, quando o Rio Mossoró parou de correr por trinta meses, fato assombroso
e preocupante. Mais uma vez veio a intervenção do homem. Em 1917 o engenheiro
Pedro Ciarlini (Pietro Luigi Maria Del la Palude Ciarlini), veio para Mossoró
com a incumbência de estudar e construir obras contra as secas, entre as quais
barragens no Rio Mossoró. Foram construídas sete barragens submersíveis,
espalhando-se por quase três quartos do seu percurso no Município. Com isso o
rio não mais secava. Era o resultado de várias tentativas para solucionar o
problema de água de Mossoró. Mas as coisas não funcionaram como haviam sido
previstas. A qualidade da água represada não atendia as condições de água
potável, servindo apenas para outros gastos.
Antes da
construção das barragens, e quando as chuvas permaneciam por mais tempo, era
possível navegar no rio. Foi assim que em 27 de janeiro de 1866 o vapor
Maranguape, da Companhia Pernambucana, chegou ao local Roncadeira, bem próximo
ao Porto da Jurema, distante apenas 18,0 Km de Mossoró. A rota pelo rio ligava
a cidade à orla marítima.
O escritor
mossoroense Raul Fernandes descreve a cidade de Mossoró nos idos de 27. E sobre
o rio ele diz: A cheia do rio constituía um evento na vida dos mossoroenses. A
notícia da cabeça-dágua, na cidade de Pau dos Ferros, difundia-se célebre.
Chovia em todo o sertão e no Piauí. O inverno estava pegando. Não tardaria em
Mossoró. Aguaceiros torrenciais caíam sobre as várzeas de massapê, carregando o
que encontrava ao rio. Vazantes ficavam submersas. Nessa época, as barragens do
rio já estavam prontas. Na continuação da narrativa, Raul Fernandes diz: O
sangramento por cima da barragem, em cascata, fazia um ruído contínuo e surdo.
Peixes, na luta pela sobrevivência, pulavam contra a correnteza. Tentavam
transpor o paredão. No salto, eram apanhados em landuás. Atravessava-se o rio
em botes, canoas e bateiras a remo. Canoeiros pechinchavam o preço das
passagens. Levavam passageiros de uma a outra margem. Ecoavam, no espaço,
lânguidos mugidos de boiadas ao serem forçadas a atravessar a nado, as água
turbulentas. Vez por outra se ouvia o soar grave dos búzios, de alguém
insulado, a pedir socorro. Ao romper do dia, o cenário cotidiano das
lavandeiras, dava movimentado colorido a orla fluvial.
Mas a cidade
precisava crescer e para isso fazia-se necessário a construção de pontes sobre
o rio. Com a construção das pontes, mal se percebe a ilha de Santa Luzia que
passou a ser uma extensão da cidade. Os problemas das enchentes, que vez por
outra causava calamidades na cidade, foram resolvidos com a dicotomização do
rio, através da abertura de um novo canal. E o rio, antes travesso, ficou
calmo. Preso entre suas barragens permanece imóvel, sendo poluído
constantemente, olhado de cima por todos que passam pelas pontes. Rio verde,
sem vida, sem liberdade, cuja tristeza é ressaltada todas as tardes quando
reflete, melancolicamente em suas águas, a rotina do por do sol.
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