Por José
Mendes Pereira - (Crônica 06)
O lugarejo
todo já tinha sido informado que o sanguinário e perverso Virgolino Ferreira da
Silva o capitão Lampião estava para chegar. O cangaceiro não tinha dó de
ninguém, e cada indivíduo, tomasse um lugarzinho para se proteger dos absurdos
que ele praticava. Intimidava o sujeito só com um grito. Enfiava seu punhal com
mais de 80 centímetros pela clavícula do marcado para morrer, rasgando todo o
intestino, e atirava sem escolher quem, só para ver a queda do infeliz.
O vigário da
pequena capela do vilarejo celebrava a missa, mas não temia a sua chegada,
porque Lampião não batia e nem matava padre. O seu medo, era que, além de bater
nos fiéis da igrejinha, ele poderia levar todo o dinheiro que arrecadara no
momento da missa.
O dono de uma pequenina lanchonete precisava se ausentar do seu comércio, e ao sair, disse
ao seu empregado:
- Eu tenho que
resolver algumas coisas na feira, e talvez eu não volte mais hoje. Se você
ouvir falar que o capitão Lampião está no lugarejo, dê por encerrado o
movimento de fregueses. Cuida logo de baixar as portas, e não se demore, faça
fiapo em busca de casa. O capitão Lampião não tem nem um tico de dó de ninguém,
e o melhor mesmo é prevenir, para não passar por vexames. O que a gente sabe o
que ele faz por aí, não evitará de fazer também aqui no nosso vilarejo.
- Sim senhor!
- Respondeu o empregado.
Mas assim que
o dono da lanchonete saiu, infelizmente, chegou pelas laterais da lanchonete um
homenzarrão usando chapéu de couro, um facão, uma espingarda e um enorme
bornal. O suposto cangaceiro parecia o "king Kong", barbudo, braços
grossos, de voz assustadora. Chegara montando numa égua brava. Mas ela parecia
temê-lo, e ficou quietinha em seu lugar. Nem precisou ser amarrada. E foi
aquela correria. Mulheres, meninos, e até os homens estavam nervosos.
E alguém que
já corria pelas avenidas com medo, desesperadamente, gritava:
- Pelo amor de
Deus, gente, corra que o capitão Lampião já está no nosso vilarejo! E traz nas
mãos, um facão, uma espingarda e um enorme bornal cheio de balas.
Um velho
sapateiro que cochilava em uma espreguiçadeira de frente à rua, ao ver o
suposto capitão Lampião, ficou morrendo de medo, e ao se levantar, caiu lá
embaixo da calçada. E assim que ficou em pé, tentou correr, mas caiu desmaiado.
Um comerciante
ambulante que vendia miudezas em uma bicicleta, ao correr, perdeu todas suas bugigangas, restando-lhe apenas em seu poder, a bicicleta, que logo cuidou de
montar, e, rapidamente, mesmo desajeitado, entrou de mata adentro pedalando.
Os homens do
vilarejo não esperaram por nada, e não quiseram saber nem um pouco do capitão
Lampião, entraram de mata adentro.
O dono de um
barzinho de pinga, no alvoroço, querendo se salvar das enormes mãos do
cangaceiro, enrolou-se a uma cadeira ginga-ginga, e foi ao chão. E ao levantar
a vista, viu o valentão entrando com seus passos longos e desajeitados, e foi
logo de encontro a ele, gritando com um assustador vozeirão:
- Me dá uma
cachaça aí logo, sua peste!
E lá se veio o
homem correndo com a garrafa de cachaça nas mãos. Caso demorasse a servi-lo,
poderia pagar caso para ele.
O capitão
Lampião não esperou que o empregado abrisse a garrafa. Arrebatou-a das suas
mãos, quebrou o gargalho sobre o balcão, e bebeu tudo de uma vez só, nem ligou
para pedaços de vidro.
O comerciante
já havia dito a Deus que iria devolver o seu espírito, pois diante daquele
homenzarrão, já sabia qual seria o seu caminho.
- O senhor
quer outra! - perguntou o empregado procurando agradá-lo, já se desmanchando em
urina e outras coisas estranhas.
- Não, peste!
A que eu tomei já é o suficiente! – Dizia ele com a cara de mal.
O cangaceiro
saiu do bar, cuspiu fortemente, pigarreou, pôs uma enorme marca de fumo na
boca, sempre observando o espaço prum lado e pro outro, montou-se na sua égua
brava, e antes de sair, o comerciante perguntou-lhe:
- O senhor é
Virgolino Ferreira da Silva o capitão Lampião?
- Por que sua
peste me pergunta isto?
- É porque nos
jornais de hoje publicaram que o capitão Lampião já entrou no lugarejo, e com
certeza, irá decepar muitas cabeças de quem é morador daqui. Peste ruim, ele
não deixa um vivo, degola todos! E vem com uma grande quantidade de
marginais...
- O que me
diz? - perguntou ele com espanto.
- Sim
senhor...!
- Eu quero lá
saber do capitão Lampião! Deus me livre eu encontrar com aquela peste! Deus me
livre!
E sem mais
demora o suposto capitão Lampião esporou a sua égua, e saiu rapidamente do
lugarejo, com medo do capitão Lampião. Ao sair do bar, esqueceu de levar o
bornal. Verificado o que carregava dentro dele, estava cheio de rolinhas,
avoantes, asas-brancas, preas, Inhambus, papagaios,...
O homenzarrão
era apenas um veterano caçador, e não fazia mal a ninguém, só tinha tamanho e
avantajado corpo. Medroso ao extremo.
Minhas simples
histórias
Se você não
gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixa-me pegar outro.
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