Por Sálvio
Siqueira
Augusto Santa
Cruz personagem maior do livro “Guerreiro Tocado” do saudoso Pedro Nunes
Filho, 1ª edição 1997, pela Editora Universitária da UFPE – Universidade
Federal de Pernambuco – nos presenteia com Fatos Históricos de Alagoa do
Monteiro, numa biografia altamente meticulosa, nos idos do ocaso do século XIX
e aurora do século XX.
Por motivos
políticos o latifundiário, ‘coronel’ e advogado Augusto Santa Cruz rebela-se
contra autoridades da, hoje, cidade de Monteiro – PB, no cariri paraibano, que
se junta ao Dr° Franklin Dantas, da cidade do Teixeira – PB, pai de João Dantas
que seria o assassino de João Pessoa e em seguida assassinado, sangrado, mais o
cunhado dentro da Casa de Detenção da Cidade do Recife, e, com seus jagunços
partem, da cidade de Patos - PB em direção a capital do Estado deixando um
rastro de sangue pelo caminho. Suas jornadas foram até São João do Cariri – PB,
aonde cientes de que o Governo Federal havia enviado tropas de Campina Grande –
PB para combatê-los, encerram as agressividades, dispersão alguns de seus
chefiados e, aquele, segue para a ‘Meca’ nordestina a fim de proteger-se pelo
sacerdote de Juazeiro do Norte – CE, o que lhe rendeu grande resultado, e este
retorna ao seu centro de comando no Teixeira – PB.
Alguns dos
homens que Santa Cruz tinha como jagunços foram cangaceiros, pistoleiros,
assassinos e outras profissões da espingarda. A família, não só o advogado
Santa Cruz, seus dois irmãos também eram formados em Direito, era dona de vasto
território divido em distintas propriedades, aonde esse ‘cabras’ eram
distribuídos. Mas, bastava um recado, um chamado, que todos vinham correndo.
Abaixo, tendo
como fonte a obra do amigo e saudoso “Pedrinho Nunes” (Pedro Nunes Filho),
procuraremos descrever quem era cada jagunço que lutou ao lado do Guerreiro de
Toga.
Depois de um
de seus ‘homens’ ter sido preso e sua prisão ter sido decretada, Augusto Santa
Cruz sente-se desmoralizado e passa a planejar uma maneira de dar uma resposta
a altura em seus adversários políticos. “- Tenho que encontrar uma forma de me
vingar dessa traição! Isso não pode fincar assim. Essa gente tem que me pagar
caro – remoía solitário, sem perder de vista a idéia de vindita.” (PN. Pg 130,
1997)
Na manhã do
dia seguinte, já com as ideias claras e um plano bolado, Santa Cruz chama o seu
mais chegado capanga: Vicente Preto, que também era conhecido por “Vicente do
Areal”. Areal é o nome da fazenda de Augusto.
Além daqueles
que moravam nas fazendas dos familiares, havia aqueles que faziam parte, porém,
moravam em outras localidades como nos municípios de Prata e de São Tomé, hoje
Sumé, ambas na Paraíba. O patrão dá a seguinte ordem a Vicente do Areal: “Reúna
os meus rapazes que eu quero dar ordens para um serviço que pretendo executar.”
(PN. Pg 130, 1997)
O comandante
de toda ‘operação’ que veio em seguida foi exatamente o negro Vinte Preto.
Vicente possuía o dom, coisa nata, naturalmente a natureza lhe doou a concepção
de guerrilheiro, portanto, era um mestre em ‘Guerra de Movimentos’.
Vicente Preto:
natural de Sumé, chamada antigamente de São Thomé, PB. Depois da refrega toda e
os ânimos acalmarem-se, por volta de 1912, Vicente ainda permaneceu escondido
até o ano seguinte, 1913, ano em que seu patrão e chefe, o advogado augusto
Santa Cruz foi submetido a júri popular e ter saído livre e solto. Depois
Vicente segue para outra terras. Fica seus pés e passa a fornecer seus serviços
para o coronel Francisco Martins de Albuquerque, pai do coronel e coiteiro de
Lampião Audálio Tenório.
Vicente era
dono de ‘um porte atlético, tinha uma maneira firme de apoioar-se no rifle e
traços psicológicos indecifrávei, era racatado e sempre espreitava os
visitantes de longe’. Talvez por isso que, aa década de 1920, o famoso chefe
cangaceiros, Virgolino Ferreira, vulgo Lampião, ao fazer uma ‘visita’ ao
coronel Audálio, conheceu e agradou-se de Vicente Preto. O chefe cangaceiro
filho de Vila Bela, PE, avaliou Vicente dos pés a cabeça e, agradou-se tanto,
que convidou ele para que fizesse parte de seu bando. “Gostei daquele cabra,
Coronel... quem é ele? Perguntou Lampião interessado no porte de guerreiro do
mais famoso cabra de Santa Cruz.” (PN. Pg 131, 1997)
O coronel
Audálio chama Vicente e o apresenta ao cangaceiro mor. Lampião conhecia a
história de Augusto Santa Cruz através do boca – a – boca e dos versos nos
folhetos de cordéis, e não deixou de elogiá-lo diante de seu comandante.
Vicente Preto não aceitou o convite e não passou a fazer parte do bando de
Lampião.
“Antônio
Garcez: negro muito valente e perverso (...). Em 1913, quando o Dr. Augusto
levou os cabras a júri, Antônio Garces recebeu dinheiro para ganhar o mundo
porque pesavam trinta e tantas homicídios em sua cacunda era um dos que não
tinha condições de se livrar.”
Augusto Santa
Cruz, depois que foi inocentado de seus crimes, juntou seus homens e, aqueles
que tinham condições de serem julgados, segundo sua avaliação, e solto, ele
defendeu um por um. No entanto, aqueles que ele sabia não haver possibilidade
de inocentá-los, livra-los da prisão, dava uma boa soma em dinheiro e mandava
que fosse embora da região.
Mestre
Felizardo Garcez: irmão de Antônio Garcez, foi cangaceiro e mestre-escola-
‘professor’, no povoado da Prata.
Manoel Garcez:
era irmão de Antônio e Felizardo. O trio de irmão sempre andavam juntos aos
irmãos cangaceiros “Manoel e Antônio Rodrigues”.
“Vicente
Padre: Era um homenzinho alvo e baixo. Morava no Juá. Veio das bandas de
Livramento esconder-se por causa de mal feitos que lá fizera.”
“Antônio
Virício, sujeito perigoso e bem mandado, tinha como principal característica
cantar toadas com provocações na hora dos tiroteios, o que era um costume
trazido do cangaço”.
João Cicero:
fez uma morte no Pajeú, micro região pernambucana, e migrou para esconder-se no
Cariri paraibano.
Manoel
Chapeuzinho: outro que havia praticado crime sabe-se lá onde e vindo pedir
proteção teve na fazenda Areal. Sobre esse jagunço, há outro detalhe, ele tinha
uma filha e essa se torna uma amante do Dr Augusto. ”Tinha uma filha chamada
Hosana (...). Hosana era a rapariga mais bonita do doutor.” (PN. Pg 136, 1997)
Manoel do
Mato: “(...) dizia-se com o corpo fechado, razão por que andava sempre com um
rosário de contas azuis pendurado ao pescoço, expunha-se aos maiores perigos,
sendo merecedor de uma admiração especial do chefe que não lhe poupava elogios,
por ser um homem religioso, valente e dotado de um excelente caráter.”
Hymno de Tal:
“...acudia pela alcunha simplificada de Sei Hino, sujeito alto, de pele clara,
olhos azuis e muito ligeiro no gatilho, era natura do sítio do Melo, localidade
situada nas proximidades do povoado da Prata. Depois de Vicente Preto, era o
cabra mais destacado do bando.”
Horácio
Patriota: “Era primo de Zezé Patriota, comparsa de Manuel Rodrigues,
cangaceiros atuantes na região de São José do Egito, PE, Teixeira, PB e outras
localidades limítrofes, bem adequadas à ação de bandidos que se protegiam
simplesmente cruzando (os limites) entre Pernambuco e Paraíba, para fugir da
volantes que só atuavam no Estado onde destacavam.
“Horácio
nasceu para ser cangaceiro sem nunca ter resvalado para o banditismo. Valente,
corajoso, perverso, costumava encarar as pessoas olhando de baixo para cima.
Ara alto, corpulento, pele clara, olhos azuis, um homem disposto tanto para
trabalhar quanto para brigar. Ele e os Ribinga ficaram frustrados quando
souberam que Lampião havia mudado de rota e desistido de atacar a Fazenda boa
vista, onde s encontravam entrincheirados em serrotes estratégicos ao longo dos
caminhos, doidos para um confronto com o famoso bandido. Além de homem afeito
às armas, Horácio era também mestre de fornalha em engenhos de rapadura.”
“Moço,
esquentado, um dia desentendeu-se com um soldado de nome Luiz Ferreira no meio
da feira de Boi Velho (Ouro Velho – PB), matando-o a golpes de faca.”
“Orgulhava-se
de haver participado dos incidentes do Bacharel Santa Cruz.”
“Uma das
características de Horácio era a solidariedade com o grupo familiar. Ninguém
podei tocar num parente seu que tomava as dores. Mesmo se não gostasse de algum
familiar, respeitava-o como membro do grupo, pessoa do mesmo sangue. Costumava
dizer: “Parente se assa, mas não se come!”
Germano: “o
cabra Germano era pessoa destacada no grupo de Santa Cruz, chegando a comandar
o bando algumas vezes. Quando esteve no Juazeiro (do Norte – CE), fez amizades
por lá, para onde se mudou e constituiu família, depois da derrota do bando em
1912.”
Manoel Nunes:
“O mais perigoso dos cabras de Santa cruz, era um executor.”
Júlio Salgado:
“Parente de Santa Cruz, era outro cabra de sua confiança.”
Francisco
Félix da silva: “16 anos de idade, analfabeto, natural de Garanhuns,
Pernambuco, contou em depoimento dado num processo-crime que se achava no
Juazeiro, Estado do Ceará, quando ali chegou Dr Augusto Santa Cruz , com uma
força de cabras entre os quais fez amizade com um tal de Severininho e
Epaminondas. Vulgo Mindô. Incorporou-se as grupo, tendo acompanhado os amigos
quando retornaram à Paraíba, arranjando serviço na Fazenda Lapa, pertencente a
Manoel Ramos.
José Gabriel:
“Fazia parte do corpo de guarda aos reféns aprisionados na Fazenda Areal.
Segundo relato da própria vítima, ele pegava na artéria do pescoço do Promotor
Inojosa Varejão com uma mão e segurando o punhal com a outra dizia: -Veia boa
para se sangrar. Sangue azul de doutor branco(...)”
Cabo Severiano
Benício: “Desertou da Polícia paraibana e incorporou-se às forças de Santa
Cruz.” Seu valor para Santa Cruz era por saber e passar táticas e estratégias
usadas pela PMPB.
Antônio Sabiá
e Manoel Rouxinol: “Eram dois cabras de muita confiança de Dr Augusto. Eles
faziam parte do corpo de guarda aos reféns durante o período de 12 dias que
passaram na Fazenda areal.”
Lulu Conserva:
“Morava em Acauã. Era chefe do piquete do Sitio do Melo, enquanto José Alves
comandava o piquete da Lapa e José Bernardo, o piquete localizado por trás da
casa-grande.”
João de Mello
e José Clementino: “guarneciam as trincheiras protegidas pelos piquetes.”
Luiz Preto:
“Irmão do negro Vicente Preto, não tinha a fama de seu irmão, mas era
respeitado e admirado pelos comparsas por causa de seus requintes de
perversidade.”
Quirino, o
Borboleta: “Natural do sítio do Melo, gostava de brincadeiras, trejeitos e
ginga, movimentava o corpo para dar golpes ofensivos e defensivos, iludir e
desnortear o adversário; por isso recebeu o codinome Borboleta.”
João Sabino:
“Morava no Sítio São Francisco. Foi trazido para o grupo por seu irmão Antônio
Sabiá, profissional veterano no gatilho.”
Antônio
Pereira: “Era um cabra idoso e dotado de grade experiência. Apesar de seus 68
anos de idade, vivia pelo mundo afora pintando miséria, armado de rifle e
vestido de surrão de couro”.
Batista de
Vitalino: “Como a maioria deles, não tinha profissão definida.”
José
Clementino: “Tinha como missão vigiar os movimentos das tropas. A função era de
alto risco, tanto que assim que lhe valeu a prisão pelas forças paraibanas que
estavam vasculhando a área.”
Sinhozinho
Quincas e Santino: “Integravam o grupo porque pertenciam à parentela de Santa
Cruz e sentiam-se na obrigação de com ele serem solidários.”
Moleque Chico:
“Ferido nas costas no fogo do Areal, era o mensageiro que levava comida,
munição, ordens e recados do Estado Maior para os piquetes e trincheiras.”
Antônio
Batista Gonçalves e João de Mello: “Receberam propina do Capitão Albino e de
Victor Antunes. Na hora do tiroteio, facilitaram a fuga daqueles reféns.”
Sexta-Feira:
“Incorporou-se ao grupo no Juazeiro. Participou da emboscada ao destacamento
comandado pelo Capitão Augusto de Lima no boqueirão da serra que dava acesso ao
povoado de São Thomé, fato ocorrido no dia 27 de dezembro de 1911. Foi ele que
quis arrancar, de dentro da casa do Coronel Adolfo Mayer, um soldado ferido no
incidente, a fim de sangrá-lo no meio do povoado.”
Segundo o
autor, além dos escritos, fizeram parte do grupo comandado pelo Bacharel:
“Epaminondas Cypriano, José da Banda, Manoel Rouxinol, José Bernardo, João de
Melo, Godê, Mãezinha, João Cassimiro, Manoel Torto, Cobrinha, Capuxu, Pilão
Deitado, João Trezena, Belmiro, Santo Catingueira, Manoelzão de Antonião, Zé de
Zuza, Pelado de Umbulindo, João Coco, Cipriano, Antônio Rodrigues, Manoel
Clementino, Morumba, José Bisaco, João Cabral, Manoel Salvino, Quinta Feira, do
Olho d’Água do Neto, Cobra Preta, do Piancó, Caninana, Generino, João Viana, Zé
Francisco, Raul da Lapa, Francisquinho, Xexéu, Manoel Mulatinho, Manoel Jordão,
Zé Umbuzeiro, Manoel Galdino, Aristides Rodrigues, Severo, Chico Vidal, Capiba,
João, Aprígio, Honório, Hermírio, Medalha, cobra-Verde, Chico severo, Sibino,
Boca de Fogo, João guedes, Budim e um negro do Urubu chamado Suçuarana.”
Esse pessoal,
ao serem “convocados”, fiaram perfilados, amontoados na caçada e no terreiro da
casa-grande. Augusto Santa Cruz contou-lhes o que havia acontecido, a prisão do
cabra Peba pelas autoridade que estavam mancomunadas com seus adversários
políticos... Daí pra frente o mundo fechou-se. Mas, essa parte da história
contarei em outra oportunidade.
Fonte
“Guerreiro Togado – Fatos Históricos de Alagoa do Monteiro” – FILHO, Pedro
Nunes. 1ª edição. Editora Universitária da UFPE. Recife, 1997
Fotos O.C.
R. E. Ofício
das Espingardas
Para ver todas as fotos acesse o link:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário