Por Osvaldo Abreu ( Abreu) Alto da Compadecida , 30 de setembro de 2020
A vida sempre vai ser assim,
Muitos e muitas vezes o sonho de menino,
Murcha e morre como as flores do jardim.
Cada homem carrega um destino,
O traço pode ser bom ou ruim,
Pode ser um mundo triste ou sorrindo.
Nunca sonhei em ser cangaceiro,
O homem é o ambiente,
De injustiça o planeta é cheio.
Com a falta de Justiça, o homem bem sente,
Quem sonha em viver em tiroteio?
Só se for uma mente doente.
O Coronel tudo podia,
O pobre sertanejo a se curvar,
Muita humilhação, covardia...
Pobre a Deus implorar.
Da terra, o sertanejo fugia,
A seca trazia a tristeza e o chorar.
A chovia não caia no sertão,
Bucho vazio, faltava comida...
Doía muito no coração,
A desgraça levava a vida.
Eu, Virgolino Ferreira, capitão Lampião,
Tive minha alma ferida.
Quando o homem vai à Justiça,
Pedi dela providência,
Ele não se dirige à missa,
Quer da Lei a decência,
Assim ele visa,
O sertão de Justiça tinha carência.
Fui sempre homem trabalhador,
Jovem com ocupação,
Artesão, tropeiro. A preguiça não dava valor,
Com tropa de burro andava no sertão,
Levedando mercadoria, comida que faltou ,
Dormia no sereno, ao luar ou na escuridão.
Nunca fui um desocupado,
Nunca vivi de vadiagem,
O trabalho sempre ao meu lado,
Estava sempre em viagem,
A calúnia é de cabra safado,
Indigno, não tem boa imagem.
Verdade, me tornei um justiceiro,
Na terra de pobre sem Justiça,
Não me fui o primeiro,
A injustiça leva à briga,
Ê preciso analisar a vida de um cangaceiro,
Todo homem quer paz, não quer intriga.
A Justiça não pode ser tendenciosa,
Coronel e homens de pé no chão
Não devem estar em diferença roça,
Justo é jugar com razão,
A injustiça mal causa e destroça,
É por isso que surge a revolução.
Perdi pai, perdi mãe e irmãos,
Fio expulso de Vila Bela,
Meu querido torrão,
O homem de bem Justiça espera,
Com a injustiça vira Leão,
Revoltado é uma valente fera.
Aí, nasce o cangaceiro,
Aí, brota o revoltado,
Sertão escuro de muitos candeeiros,
De pobre sem o bocado,
De crianças nuas que brincavam no terreiro,
Eu , Virgolino, Lampião, dê o recado.
Sertão pelos homens do poder esquecido,
Nas estradas de poeiras, as capelinhas,
Uma mãe a chorar o filhinho falecido,
Pobres meninos, pobres criancinhas,
É fácil me chamar de bandido
No sertão do nada tinha.
A fome batia à porta,
Se morria por falta d’água,
Na rede, se enterrava gente morta.
Na alma sertaneja, choro, lamento e mágoa.
Sem meditar fala o idiota.
Vida sem graça, que não se salga.
Neste sertão, eu me nasci,
Ouvindo o triste piar da coruja,
Nele eu me cresci.
Falavam : “Pra não morrer, fuja.”
A injustiça vivi e senti.
Nada é à toa, quando se cruza.
Quem pensar que eu me morri,
Vai viver de ilusão e alusão.
O corpo tem o dia de extinguir,
O espírito não morre, não.
Sou Virgolino - Lampião a luzir,
Rei do cangaço, governador do sertão.
LAMPIAO - 1936
Foto de Benjamin Abraão
https://www.facebook.com/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário