Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2022
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Os sertões nordestinos vão perdendo cada vez mais a
vegetação nativa do seu Bioma. A caatinga vai se transformando em área pelada,
não pelas secas periódicas, mas sim pelas ações destrutivas provenientes da
falta de consciência de donos de terras. Sertão pelado faz desaparecer fauna,
flora, construções e objetos sustentados pela mata em pé.
Fumaça na mata, fumaça na matéria-prima, fumaça no produtivo. Assim vai se
evaporando a tradição, menos pela chegada do moderno, mas pela falta de amor
aos devastadores da Natureza. E eles não são poucos. A cerca
de varas está no meio dos feitios sertanejos, mas em extinção apesar de tantas
mostradas por aí.
O uso geral desse tipo rudimentar de cerca é mais encontrado
em casas, sítios e propriedades rurais cujos donos possuem baixo poder
aquisitivo. Antes, era a falta do arame farpado depois, a própria economia,
pois despesa com arame e estacas de madeira ou de cimento continua nas alturas.
Antes as cercas de varas protegiam os jardins feitos pelas donas de casa e a
roça verdejante da sanha devoradora do gado miúdo: bodes e carneiros. Hortas
eram coisas raras nos sertões, pois a valorização estava apenas na lavoura do
feijão, do milho da mandioca. E a proteção de cercas de qualquer tipo contra o
bode, a cabra, o cabrito, é coisa praticamente perdida, pois o bicho sobe até
em árvores e faz malabarismos por cima de cercas de varas.
Cercas de madeira podem ser verticais e horizontais, feitas
de varas, de vime, de cipós, de garranchos, de tábuas, de bambu ou mesmo de
estacas juntas abraçadas por aramado. No tempo do cangaço facilitava
bem a investida silenciosa dos cabras de Lampião às residências casebres de
taipa. Apesar de ser uma coisa barata e simples, não é para todo mundo a
habilidade de se construir uma cerca bem feita de quilômetros de distância. Na
atualidade, porém, é saber onde conseguir essas varas com o sertão pelado.
Quanto a outras serventias em possuir uma cerca de madeira é
a precisão em ministrar uma surra num cabra safado, dizia um amigo nosso. O
marido chega bêbado em casa, perturbando, só resta a dona do lar “danar-lhe uma
surra de vara para quebrar-lhe as pontas”.
O amigo tinha experiência!
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