Seguidores

segunda-feira, 4 de julho de 2022

SANGUE NO SERTÃO: OS HORRORES DO CANGACEIRO CORISCO, O DIABO LOURO

 Por André Nogueira

Líder após a morte de Lampião, o alagoano ficou conhecido pela brutalidade e pouca diplomacia.

Corisco, principal alcunha do cangaceiro alagoano Cristino Gomes da Silva Cleto, entrou para o banditismo após ser declarado de morte por um coronel de Água Branca, ao matar um de seus homens. O jovem alto, bonito e forte adentrou ao grupo do Capitão Virgulino Lampião. Rapidamente, por suas habilidades físicas (e pouco diplomáticas), ele ganhou a confiança do sanguinário e se tornou principal líder de subgrupo de bandoleiros.

Assim, Corisco ganhou autonomia como comandante de ações, tendo praticamente o próprio bando. Nesse tempo, cometeu diversos crimes violentos, pelos quais era famoso. Pelas poucas palavras, ações sangrentas e mechas douradas, ficou conhecido como o Diabo Louro.

Brutalidade

Uma das ações mais brutais de Corisco foi o estupro de Dadá, ação que levou a mulher a sofrer uma hemorragia muito séria, e quase resultou em seu óbito. Sequestrada, ela se casou com o cangaceiro e passou a viver junto a ele, se tornando uma das mais brutais mulheres do cangaço. Contam às histórias que Corisco aprendeu com Dadá a ser mais gentil e delicado e a relação de ódio e imperatividade entre os dois se tornou um caso de amor.

Corisco e Dadá, em imagem colorizada / Crédito: Rubens Antonio

Ao mesmo tempo em que arisco, o cangaceiro ensinou a esposa a usar armas, ler, escrever e contar, coisa que aprendera antes de entrar para o crime aos 17 anos. Porém, essas habilidades não impediam o líder do cangaço de ser um brutal e sanguinolento bandido.

Filhos 

Corisco e Dadá tiveram sete filhos, mas apenas três deles sobreviveram aos primeiros anos e foram enviados para as cidades, para que não crescessem nos bandos nômades do sertão. Devido a algumas alianças com coronéis, ele conseguiu uma boa vida para esses sobreviventes.

As abordagens de Corisco corriqueiramente apelavam para a ironia. Ao mesmo tempo em que posava de superior, ele tratava de maneira violenta, e às vezes até sádica, suas vítimas. Lidando dessa maneira com populações pobres, Corisco e Lampião marcaram uma virada no cangaço, que no século 19 não tinha como horizonte possível um trato forçoso e sangrento com as vitimas da exploração sertaneja.

Há relatos de abordagens de Corisco em que a violência é usada apenas como diversão, principalmente contra populações indefesas. Muitas vezes, o cangaceiro não fazia distinção entre um comboio milionário e um sertanejo pobre.

Bando de Lampião, por Benjamin Abraão / Crédito: Domínio Público

No entanto, o caso de violência mais famoso do Diabo Louro ocorreu após o assassinato do bando de Lampião pelas volantes em Angicos, 1938. Após uma emboscada enquanto os bandidos dormiam, os policiais degolaram onze cangaceiros, entre eles Virgulino e Maria Bonita. Como Corisco e Dadá estavam distantes, na Fazenda Emendada, eles sobreviveram. Tornando-se os novos reis do cangaço, partiram para a vingança.

Atrás dos traidores que entregaram a localização de Lampião à polícia, Corisco descobriu com Joça Bernardo o local da fazenda de um antigo aliado, José Ventura Domingos e, lá, matou e degolou o fazendeiro e sua esposa, crendo completar sua vingança. Depois, matou os filhos de José. Acontece que, na verdade, Corisco fora enganado: o verdadeiro traidor de Virgulino fora o próprio Joça Bernardo, que tapeou o Diabo Louro para fugir.

A informação rapidamente se disseminou, pois Corisco enviou as cabeças degoladas ao tenente João Bezerra.

Tentativa de redenção

Então, as autoridades volantes saíram em busca de Corisco. O governo Vargas aumentara a patrulha e a estratégia contra os cangaceiros, e cada vez mais os líderes erram derrubados. Num ataque, o Diabo foi baleado de uma maneira que sua mão direita ficou paralisada. A partir de então, Dadá se tornou a atiradora do grupo. Suas alianças rapidamente deixaram de existir: os coronéis não gostavam dele, que era muito bruto.

Corisco, por Benjamin Abraão / Crédito: Wikimedia Commons

Por dois anos, Corisco conseguiu fugir das autoridades dos estados e do Exército, sem angariar mais confidentes. Por esse motivo, em maio de 1940, ele dissolveu o bando e saiu sozinho com Dadá pelo sertão baiano, buscando refúgio. Cortou o cabelo, passou a se vestir como vaqueiro e deu início a um planejamento em que pretendia largar o banditismo e recomeçar a vida.

Todavia, antes que isso fosse possível, eles foram novamente abordados pelas volantes: mesmo querendo se entregar, aproveitando a lei de Vargas que anistiava cangaceiros desistentes, ele declarou não ver Zé Rufino, policial que o atacara em Barra do Mendes, como digno de sua captura. Resistindo, foi metralhado na barriga, tendo seus intestinos lançados para fora. Viveu por mais dez horas, morrendo naquele mesmo dia.

+Saiba mais sobre o Cangaço por meio das obras disponíveis na Amazon

Apagando o Lampião: Vida e Morte do rei do Cangaço, Frederico Pernambucano de Mello - https://amzn.to/2RUsU7d

Lampião, Senhor do Sertão. Vidas e Mortes de Um Cangaceiro, de Élise Grunspan Jasmin (2006) - https://amzn.to/2RWQq3r

Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil, de Frederico Pernambucano de Mello (2011) - https://amzn.to/2YQNZ3Y

Os cangaceiros: Ensaio de interpretação histórica, de Luiz Bernardo Pericás - https://amzn.to/2YROsms

Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, a Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/sangue-no-sertao-os-horrores-do-cangaceiro-corisco-o-diabo-louro.phtml

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário