Por José Cícero
Esta noite parece que a lua decidiu
descer à terra, e agora mesmo flutua completamente nua na poça d'água formada
após a chuva sobre os duros paralelepípedos da rua.
Enquanto isso, corujas, sapos,
lagartixas, vaga-lumes e grilos passeiam tranquilos como gentes pelos becos,
querendo imitar de qualquer jeito, os namorados e os boêmios seresteiros da
zona do baixo meretrício.
E a noite, também se derrama em seus
açoites e seus segredos indizíveis pelos quarteirões escuros e esquecidos do
tempo. Ainda que sobre a penumbra morta do passado as sombras vivas do
esquecimento ensaiam seus gemidos quânticos juntos com os bêbados noturnos e o
cio dos gatos, entre outros seres vivos, cheios de amores e de pecados naquele
lugarejo.
E é líquido o sonho dos poetas desaquecidos,
como invisível e mineral o destino dos fantasmas que ali passeiam calados no plenilúnio
em meios aos postes de iluminação apagados da pracinha, do cemitério e dos
antigos mercados.
Nada mais que se digne contar aqui
sobre a vida e o sofrimento humano, quer seja como encantamento ou pura
perdição da imaginação de tudo que não mais faz nenhum sentido prático, nem
sentimental no mundo.
De resto, tudo o que sobrevivera ali
ao tédio, a loucura e o silêncio hão de ser dor e solidão dos mortos-vivos que
já se deram por vencidos, e não mais acreditam, nem em Deus nem tampouco no
amor dos seus inimigos íntimos.
Mas mesmo assim, os galos sertanejos
do passado, ainda cantam dentro do tempo, como que anunciando a última
madrugada do mundo.
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