Seguidores

domingo, 23 de outubro de 2022

O POETA MINERAL EM SUA VISÃO CONCRETA.

 Por José Cícero

Esta noite parece que a lua decidiu descer à terra, e agora mesmo flutua completamente nua na poça d'água formada após a chuva sobre os duros paralelepípedos da rua.

Enquanto isso, corujas, sapos, lagartixas, vaga-lumes e grilos passeiam tranquilos como gentes pelos becos, querendo imitar de qualquer jeito, os namorados e os boêmios seresteiros da zona do baixo meretrício.

E a noite, também se derrama em seus açoites e seus segredos indizíveis pelos quarteirões escuros e esquecidos do tempo. Ainda que sobre a penumbra morta do passado as sombras vivas do esquecimento ensaiam seus gemidos quânticos juntos com os bêbados noturnos e o cio dos gatos, entre outros seres vivos, cheios de amores e de pecados naquele lugarejo.

E é líquido o sonho dos poetas desaquecidos, como invisível e mineral o destino dos fantasmas que ali passeiam calados no plenilúnio em meios aos postes de iluminação apagados da pracinha, do cemitério e dos antigos mercados.

Nada mais que se digne contar aqui sobre a vida e o sofrimento humano, quer seja como encantamento ou pura perdição da imaginação de tudo que não mais faz nenhum sentido prático, nem sentimental no mundo.

De resto, tudo o que sobrevivera ali ao tédio, a loucura e o silêncio hão de ser dor e solidão dos mortos-vivos que já se deram por vencidos, e não mais acreditam, nem em Deus nem tampouco no amor dos seus inimigos íntimos.

Mas mesmo assim, os galos sertanejos do passado, ainda cantam dentro do tempo, como que anunciando a última madrugada do mundo.

https://www.facebook.com/photo/?fbid=10221630769700211&set=a.10202538902575465

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário