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sexta-feira, 9 de junho de 2023

DOIDO DE MORRER

Por Hélio Xaxá 



Quando eu bater as canelas

Como faz todo ser vivente

Não chorem por mal-defunto

Por que irei-me sorridente...


Não me velem com amargura

Nem gastem tostões imbecilmente

Com corôas, flores ou velas

Comprem um litro de aguardente


Convidem toda a freguesia

Façam uma festa de carniceiro

Pra que eu acorde do pesadelo

Num inferno bem brasileiro.


Com a perca da alma errante

Que em cachaça se revolvia

Só sentirei falta dos rolos

E das farras em que eu vivia.


Terei saudade também dos vultos

Que vigiavam madrugadas frias

De minha mãe toda descabelada

Preocupada com minhas orgias


Dos muitos e queridos amigos

Que comigo embriagavam-se

E pelos cabarés endoidecidos

No colo das negas abrigavam-se.


Se acaso ainda lamento

Ou se me arrependo ainda

É de não ter descabaçado

Aquela virgem tão linda...


Só dessa musa sonhadora

Aceito um ramo de flores

Pra que eu leve pra sempre

O perfume de nossos amores.


Sempre a verei bela e nua

Como naquele sonho tão real

Aguardarei-a no Sol ou na Lua

No Céu num paraíso astral.


Joguem numa fossa rasa

À terra, minha carcaça embrutecida

Ponham uma cruz e na pedra:

Foi poeta, cachaceiro; doido da vida.


Damas da noite, mulheres vadias

Que meu corpo amavam tanto

Mijem sobre a minha cova

Que com o cheiro retorno e levanto...


Da noitinha até a suave aurora

Na noite enquanto a seresta entoa

Cachaceiros, abram outra garrafa

Brindem-me com uma cana boa!


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