Por José Mendes Pereira
Dona Chiquinha Duarte nasceu no dia 17 de Julho de 1895, na cidade de Ererê, no Estado do Ceará. Era filha de Manoel Lucas Sobrinho e Maria José de Souza.
Quando eu ainda residia na companhia do meu pai, Pedro Nél Pereira, fui um dos que sempre fazia favores a dona Maria José de Souza, a mãe de dona Chiquinha, como por exemplo: rachar algumas lenhas para ela usar no seu fogão a lenha, encher potes, ou fazer companhia a Antonio Rodrigues de Sousa, o "Naim", seu filho, que era retardado.
Não tenho real certeza, mas me parece que dona Maria José de Souza faleceu com 104 anos, mas ainda era lúcida, cheia de vida e conhecia todos da sua convivência, sem trocar nomes de ninguém.
Francisco Duarte Ferreira - Chico Duarte
Dona Chiquinha era a segunda esposa do viúvo e fazendeiro Francisco Duarte Ferreira, conhecido por Chico Duarte, dono de uma enorme propriedade, sendo esta nomeada "Fazenda Barrinha", que se estendia ao Sul, pelo lado leste de Mossoró, começando pelos sítios Curral de Baixo, Angicos, Martelo, Tabuleiro Grande, Sítio São Francisco, Mururé, Barrinha, aonde era localizada a sua fazenda, e terminava no Norte, no Sítio Melancias, estremando com as terras de um fazendeiro de nome Joca Correia.
Ex´-senador Duarte Filho
Chico Duarte Ferreira era pai do ex-senador Duarte Filho, e de Manoel Duarte Ferreira, sendo este último, o homem que na tarde do dia 13 de Junho de 1927, na ocasião da tentativa de invasão à cidade de Mossoró, pelo grupo do afamado Lampião, tem-se conhecimento que ele assassinou o cangaceiro Colchete e baleou o Jararaca.
Manoel Duarte - assassinou o cangaceiro Colchete
O casal também era pai adotivo dE Letícia Rodrigues Duarte, (freira Irmã Aparecida), sendo esta, filha de um dos irmãos do fazendeiro, mas foi criada e registrada como filha do casal.
Os meus pais e todos os meus tios, tantos os irmãos do meu pai Pedro Nél Pereira, como os irmãos da minha mãe Antonia Mendes Pereira, nasceram em sua propriedade denominada Barrinha, inclusive meus irmãos e eu, muito embora os nossos nascimentos não foram dentro da fazenda, mas um pouco perto.
Guardo ainda na lembranças, que sempre a Irmã Aparecida, morando no Colégio Sagrado Coração de Maria, e eu na Casa de Menores Mário negócio, colocado lá pela sua mãe dona Chiquinha Duarte, sempre ligava e pedia que eu fosse até o colégio pegar um dinheirinho, como espécie de ajuda. Agradeço de coração o que a irmã Aparecida fez por mim, juntamente com a sua mamãe.
Dona Chiquinha era uma mulher alta, de cor clara, costumeiramente só usava vestidos longos, isto é, abaixo do joelho, de preferência azul e estampado. Muito séria, mas era uma excelente pessoa. Foi a primeira motorista de Mossoró, mas alguns afirmam, ainda não comprovado, que ela também tenha sido a primeira enfermeira de Mossoró.
Após a morte do seu esposo, dona Chiquinha fez inventário dos bens, que haviam ficado em seu poder, entregando aos filhos do falecido (não eram seus filhos), as suas partes de terras, rezes, ovelhas e tudo que lhes era de direito.
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O que mais me chama a atenção até hoje, eram as suas fortes rezas, que quando um vaqueiro dava notícia que uma de suas rezes estava com bicheiras, ela se apoderava do terço, e iniciava uma longa reza. Dias depois, o animal havia sido curado.
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Como a palha da carnaubeira depois de seca não pode receber chuvas, porque a água lavará o que é mais precioso, o "pó", geralmente apareciam nuvens preparadas para derramarem uma porção de águas, e ela fazia o mesmo. E sob o alpendre da sua casa, andando de um lado para o outro, e com o terço em mãos, iniciava as rezas. E não demorava muito para que as nuvens resolvessem mudar de direção.
Dona Chiquinha tinha um desejo de que todos os filhos dos seus moradores estudassem, mas apenas eu, tive o privilégio de satisfazer o seu desejo, quando cuidou da minha formação, levando-me para a Casa de Menores Mário Negócio.
Pedro Nél Pereira - meu pai
Geralmente, quando o meu pai me mandava até à sua casa para que ela o emprestasse isso ou aquilo, eu sempre dizia: "- Dona Chiquinha, papai mandou dizer que a senhora emprestasse a ele uma cangalha, por exemplo, pra mode ele..."
Esta expressão "pra mode" é muito usada pelos camponeses, mas quando eu a pronunciava, parece que doía muito nos seus ouvidos. E todas às vezes que eu a usava, ela me dizia: "-Eu vou arranjar uma escola para você estudar, e deixar de falar esta expressão, "pra mode..., - O que significa pra mode?" - Perguntava-me ela. Eu que não sabia e nem tinha a mínima ideia o que significava, permanecia calado, apenas rindo.
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Eu agradeço muito o que ela me fez, por ter me trazido para Mossoró, apesar de ser desta freguesia, colocou-me em uma repartição do governo, Casa de Menores Mário Negócio - SAM - Serviço de Assistência ao Menor, nos dias de hoje - FEBEM, e hoje sou formado pela Universidade do Rio Grande do Norte, - FURRN - atualmente UERN, e já me encontro aposentado pela Secretaria de Educação, mas devo também a outras pessoas que aqui, cuidaram de mim. Deram-me casa, comida e água fresca.
Sei que muitos me ajudaram durante o tempo em que passei estudando, como dona Caboquinha, dona Severina Rocha, Beatriz, Maria de Lourdes, dona Maria Estela Pinheiro Costa, Dona Lucy Pinheiro, irmã desta última, mas o passo principal, foi ela quem me deu.
Francisca Rodrigues ou dona Chiquinha foi uma verdadeira mãe para todos os seus moradores. Faleceu em Mossoró, no dia 14 de Maio de 1988, bem próxima de completar 93 anos de idade.
Minhas Simples Histórias
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