Clerisvaldo B, Chagas, 5 de março de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.022
Até quase o
final do século passado, o povo sertanejo alagoano usava bastante as palavras
bogó, cabaça, aió e trempe. Você da capital sabe traduzir? Então, mãos à obra:
Bogó é
uma bolsa de couro com boca estreita e dura. Serve para transportar água em
viagens. Quanto mais quente é o tempo mais a água esfria. Por ser pesado
estando cheio, é mais apropriado para ser transportado por animais como o
cavalo, o burro, o jumento... Foi muito usado por vaqueiros e cangaceiros.
Cabaça fruto
do cabaceiro, duro e cortado ao meio tem inúmeras serventias. Inteira, tem a
mesma função do bogó e que também foi muita usada pelos cangaceiros e forças
volantes, na caatinga. Também é usada em nome masculino como cabaço
que se tornou pejorativo para a virgindade da mulher. O primeiro documento de
Santana do Ipanema, menciona o rio dos cabaços, atualmente conhecido como
Capiá, o mais importante do Alto Sertão alagoano.
Trempe é
a junção de três pedras, fogo no centro, à lenha ou a carvão, geralmente no
solo limpo onde será colocada a panela – a maioria de barro – para cozinhar a
comida. Em algumas regiões do Nordeste a trempe também era chamada tucuruba,
nome indígena, cuja diferença era que as tucurubas tinham o fogo no chão
escavado, num buraco. Cangaceiros usaram muito as tucurubas.
Aió bolsa
de tecido especial, entrançado, para ser pendurado na cabeça do animal cavalar,
com ração, notadamente de milho. Foi muito usado por homens humildes do sertão,
a tiracolo como se fosse uma bolsa de couro atual. Esses indivíduos eram
discriminados e chamados com desprezo de “cabra de aió”. Isto é, sem confiança,
sem caráter. Essa expressão foi muita usada pelos coronéis sertanejos –
fazendeiros ricos, arrogantes e assassinos, cujos títulos vinham de patentes da
Guarda Nacional, criada pelo padre Diogo Feijó. Assemelha-se às expressões:
“cabra ruim”, “cabra peste”, “cabra safado” e “cabra de peia”.
Assim continua o terreno fértil sertanejo em aberto para os pesquisadores deste mundo encantado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário