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quarta-feira, 6 de março de 2024

TRADUZINDO PARA VOCÊ.

Clerisvaldo B, Chagas, 5 de março de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.022 

Até quase o final do século passado, o povo sertanejo alagoano usava bastante as palavras bogó, cabaça, aió e trempe. Você da capital sabe traduzir? Então, mãos à obra:

Bogó é uma bolsa de couro com boca estreita e dura. Serve para transportar água em viagens. Quanto mais quente é o tempo mais a água esfria. Por ser pesado estando cheio, é mais apropriado para ser transportado por animais como o cavalo, o burro, o jumento... Foi muito usado por vaqueiros e cangaceiros.

MUNDO ENCANTADO ENTRE JARAMATAIA E SERROTE DO JAPÃO (FOTO: B. CHAGAS).

Cabaça fruto do cabaceiro, duro e cortado ao meio tem inúmeras serventias. Inteira, tem a mesma função do bogó e que também foi muita usada pelos cangaceiros e forças volantes, na caatinga.  Também é usada em nome masculino como cabaço que se tornou pejorativo para a virgindade da mulher. O primeiro documento de Santana do Ipanema, menciona o rio dos cabaços, atualmente conhecido como Capiá, o mais importante do Alto Sertão alagoano.

Trempe é a junção de três pedras, fogo no centro, à lenha ou a carvão, geralmente no solo limpo onde será colocada a panela – a maioria de barro – para cozinhar a comida. Em algumas regiões do Nordeste a trempe também era chamada tucuruba, nome indígena, cuja diferença era que as tucurubas tinham o fogo no chão escavado, num buraco. Cangaceiros usaram muito as tucurubas.

Aió bolsa de tecido especial, entrançado, para ser pendurado na cabeça do animal cavalar, com ração, notadamente de milho. Foi muito usado por homens humildes do sertão, a tiracolo como se fosse uma bolsa de couro atual. Esses indivíduos eram discriminados e chamados com desprezo de “cabra de aió”. Isto é, sem confiança, sem caráter. Essa expressão foi muita usada pelos coronéis sertanejos – fazendeiros ricos, arrogantes e assassinos, cujos títulos vinham de patentes da Guarda Nacional, criada pelo padre Diogo Feijó. Assemelha-se às expressões: “cabra ruim”, “cabra peste”, “cabra safado” e “cabra de peia”.

Assim continua o terreno fértil sertanejo em aberto para os pesquisadores deste mundo encantado.


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