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terça-feira, 3 de abril de 2012

A Semana Santa de antigamente

Casas do Nordeste

Especial: Páscoa

Quando chegava a Semana Santa numa cidadezinha ao Nordeste há alguns anos, tudo era diferente dos costumes de hoje em dia. A vida normal do povo dava lugar a um sentimento cristão,com tudo se voltando para Cristo.

Logo a partir de Domingo de Ramos, sem que houvesse decreto ou lei alguma, as pessoas passavam a respeitar aquele período: a irradiadora da pracinha não tocava músicas profanas, os comerciantes pesavam com mais critérios as mercadorias, deixando de roubar no peso, o cinema fechava as portas.

Na madrugada de sexta-feira para sábado, havia a queimação do Judas, boneco feito com roupas velhas para ser queimado ao final. Mas, antes, havia o testamento do traidor onde constava bens destinados a políticos, familiares e correligionários numa crítica à sua atuação administrativa. No sábado, às oito horas, era celebrada a missa da Aleluia. Algumas crianças, lá fora, recitavam animadas: “Aleluia, Aleluia, carne no prato e farinha na cuia”.

Antigamente, não se comia carne durante toda a Semana Santa. A abstinência era total e rígida e as fazendas da região tratavam de providenciar o abastecimento de peixes para a população, graças aos açudes que nelas havia. Traíras, carás e curimatãs eram os peixes mais procurados. Os doces, também eram evitados nesse período de penitência. Não se podia comer doce e nem chupar cana, pois seria falta de respeito, já que Nosso Senhor tinha bebido fel.

Algumas crendices populares tinham amplo uso nesta época. Coisas simples e sem nenhum sentido ofensivo eram consideradas pecaminosas, passando a serem proibidas. Olhar-se ao espelho, usar batom e mesmo perfume, por serem sinais de vaidade; tomar banho, pelo perigo das tentações à vista do corpo, namorar, cantar, dançar e até assobiar seriam sinais de uma alegria incompatível com um momento tão triste; manter relações sexuais durante a Semana Santa seria pecado mortal, principalmente na Sexta-Feira da Paixão. O homem que assim procedesse, ainda que legalmente casado, ficaria impotente para o resto da vida e a mulher ficaria incapcitada para gerar filhos. O rebento, coitado, nasceria com o “cão no couro”, sendo infeliz por toda a vida. Embriagar-se nesses dias, seria condenar-se a nunca recuperar o juízo.

Pesquisa em livros do escritor Mário Souto Maior.

Fonte: Lumen – Edição 42 – Abril de 2003.


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