A ex-cangaceira Aristéia Soares já havia abandonado o cangaço quando as cabeças passaram por sua cidade. Ela viu de longe. A polícia segurando e gritando: "Esta cabeça é de Lampião. Essa, de Maria Bonita..." Apesar disso, estava feliz por ter se entregado à polícia e não passar mais os sofrimentos da vida no mato. Mesmo assim, não falava sobre essa parte de sua vida. Pedro Soares, 54, seu filho, cresceu sabendo vagamente do passado da mãe. Aristéia falou mais sobre o assunto depois que o pesquisador João de Souza tornou-se seu amigo e começou a descobrir as histórias.
Aristéia e João de Sousa Lima - Escritor e pesquisador do cangaço
A mãe, nos últimos meses, depois de uma visita a Fortaleza, onde encontrou Durvinha, sua antiga amiga no cangaço, perguntava-se: "Mas será que ainda vou ver Durvinha?", e gostava de dizer que a companheira havia sido a mulher mais bonita no cangaço. A dúvida se desfez negativamente este mês com o falecimento de Durvinha, em Belo Horizonte. Ela era uma das boas lembranças de uma época à qual não deseja retornar. Aos jornalistas que lhe perguntam ainda hoje se gostaria de voltar ao cangaço, responde: "Deus me defenda, homi".
A revelação dessas histórias não mudaram a vida de Pedro. O trabalho na roça e a vida simples no povoado de Jardim Cordeiro, no município alagoano de Delmiro Gouveia, continuam até hoje, vez por outra interrompida por alguma viagem em que acompanha a mãe nos eventos sobre o cangaço. Além dessas excursões, restou daqueles tempos um certo remorso ao ver a foto da cabeça de uma de suas tias, Eleonora, que não conseguiu escapar. "Se eu pudesse encontrar o cara que matou ela, eu ainda tinha coragem de fazer alguma coisa. Mas isso acabou, né? Porque dizem que ela já tinha se rendido e outros contam que ele matou enganado, pensando que era um homem".
(© O Povo, 25.07.2008)
Extraído do blog:
"O Cangaço em Foco"
do Delegado de Polícia Civil no Estado de Sergipe e pesquisador Dr. Archimedes Marques.
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