Por: Jair Eloi de Souza (*)
UM TEMPLO À ORAÇÃO DE PADRE JOÃO MARIA, FAZENDA -TRÊS RIACHOS.
Naqueles tempos, transcorria o terceiro quartel do Século XIX. Havia uma casa rústica, o dedo de Deus e um mestre escola. O cênico caseiro; uma fagulha de carência e de precisão material, mas a aselha do saber era o adereço nobre que estava sempre ombreado à fé inabalável do Clã Cavalcanti-Brito. Para os comeres, a natureza ainda estava prenha de mel, perdizes e jacus, os cervos da caatinga e desdentados como o peba, o tatu-galinha. As aves aquáticas havia em abundância e, somadas às criações e legumes cultivados, eram a base alimentar daquele núcleo de sitiantes.
Mas as secas e o voo em travessia da asa branca fugitiva, sem comida, eram motivo de reflexão, que fazia do espírito e do estado d’alma um nicho de sabedoria e inconformismo para dois jovens daquela família. Amaro, o mais astuto, ambição de felino para evitar o ócio daquele lugar. João Maria, a mansidão e um olhar terno para a vida em comunhão cristã, de clausura, na qual em silêncio pudesse rezar e ouvir os cânticos gregorianos. Personalidades díspares, porém havia um pensamento comum entre aqueles dois varões: o de aprender a todo custo a língua mãe, o Latim. Esse idioma era o primeiro degrau e também o passaporte para aqueles infantes transporem fronteiras internas e até d’além mar.
Assim, a vontade divina e a sabedoria naqueles jovens se fazem na estrada da vida. Amaro tornara-se o jurisconsulto do Império, após oficiar como Consultor do Presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos da América, como prêmio pela tese da pós-graduação. Ainda, Ministro da Corte Internacional de Haia, na Holanda. Deputado Geral, Senador, Prefeito do Rio de Janeiro, Ministro do Império e do Supremo Tribunal Federal, deixando tratados de Direito Público ainda consultados pelos doutos.
E João Maria, o Santo? Ah!... João Maria, após a ordenação sacerdotal, tornara-se paladino da solidariedade humana. Apóstolo da assistência aos enfermos. Caminhava léguas e mais léguas, a fim de ofertar as últimas recomendações aos que estavam se despedindo deste mundo. Para as gentes pobres, a simbologia maior é endereçada para a obra apostolar e de solidariedade deixada exemplarmente por João Maria. Nenhum catequista das terras potiguares, dos sertões do Seridó, deixara legado maior com exclusividade para as gentes desvalidas na fome, na doença, que escutavam a pancada do mar.
A simplicidade caridosa de João Maria não almejava qualquer panteão que viesse a homenageá-lo, nem em vida, nem no pós-mortem. No entanto, os que sabiam ser sua obra de assistência dimensional, seja no plano material ou nas instâncias das coisas celestiais, nominaram-no em praças, logradouros, artérias citadinas. Jardim, seu berço, pois, é onde fica o antigo feudo Logradouro, hoje Fazenda Três Riachos, fizera um pouco mais. Construíra no lugar onde João Maria, o santo, esboçara o primeiro sopro de vida, um altar templário e sacro, para a comunhão dos cochichos da fé cristã. Quem sabe se não venha levantar-se de seu silêncio em Deus e faça renascer uma nova Jardim, na busca da cura dos dependentes em drogas, no respeito ao ancião, na melhor assistência à saúde das crianças pobres, na lisura quando no trato do dinheiro público, não só na forma zelosa quanto à utilização, mas, sobretudo, naquilo que traduza mais serventia.
A alma de Padre João Maria é uma eternidade, habita um lugar de destaque na Corte Celestial, mas, não acredito que continue em silêncio e não venha iluminar os caminhos da vida, do renascimento de uma Jardim, que utilize melhor a inteligência e bravura do seu povo.
Em tempos de lua crescente/2012.
(*) Professor de Direito da UFRN e escriba da cena sertaneja.
Fonte: Alcimar Araújo
Fonte: Alcimar Araújo
Extraído do blog: Edna Araújo
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