Desconsiderar a grafia
Era a manchete do "Jornal o Povo", no dia 5 de Março de 1928.
Como se não bastassem, ao Ceará, todos os flagelos
que o atormentam, como perspectiva de uma seca, a politicagem sanguinária e os
últimos cinco mezes que ainda restam ao sr. Desembargador Moreira, para
governar, anuncia-nos um telegrama de nosso correspondente, em Barbalha, que o
grupo sinistro de Lampião acaba de peneirar no território cearense, pelo sítio “Pissarra”,
município de Porteira.
As fronteiras estavam descuradamente
abandonadas, apesar das ultimas noticias de que o bandido, avinzinhando-se da terra,
que sempre o acolheu, pretendia mudar de ares, consultar seus médicos, ler os
nossos jornaes e, quem sabe? – comprar talvez armas e munições, para as suas
novas façanhas.
O effectivo do regimento, a serviço da
politicagem, não pode andar, por ali, disperso, a vigiar bandidos, que nos
possam invadir os municípios limítrofes de Pernambuco.
Antes de prevenir os males, que os
bandoleiros de Lampião possam fazer contra os agricultores, criadores e toda a
população laboriosa do sul do Estado, cumpre ao governo hostilizar os inimigos
pessoaes do sr. Presidente.
Em vez de em Porteira, contra o grupo de
Virgolino, os officiaos “valentes” devem ficar em Maranguape, para atacar o
deputado Antonio Botelho.
Massilon, Lampião e Sabino
Em logar de reação contra Sabino, ou
Massilon, preferem os áulicos governamentais o desarmamento ostensivo e essencialmente
político de Zequinha Magalhães, por ser democrata.
Não é pois de estranhar que Lampião haja
encontrado deserta de forças a fronteira do Ceará.
Bem montado, como sempre andou com a sua
gente, se conduzir o bandido, a investida até o coração do Cariry, onde não há força
de polícia em numero de enfrenta-lo, não será grande façanha para quem aprendeu
a luctar, tendo a seu favor a inercia do
governo.
Há cerca de um mez, que a imprensa vem
denunciando a marcha de Lampião, que abrolhando no Estado de Alagoas, tem vindo
aceitando combates, em rumo do Ceará.
Mas as autoridades cearenses, acreditando
talvez na possibilidade de algum recado do padre Cícero, ou na renuncia do
bandido de gozar as primícias do inverno, na Serra do Matto, preferiram cruzar
os braços, à espera da indesejável incursão, que finalmente se deu.
Lampeão está em casa
Agora, virá, naturalmente, mais cuidadoso
com os “menus” de Missão Velha, onde, da ultima vez, lhe forneceram à tropa
feijoada com sabão arsenical.
Na sua longa existência de bandido, essa
tentativa de envenenamento foi uma lição. Hoje, a mentalidade de Virgolino está
modificada.
O conceito que ele forma de seus amigos é o
peor de todos.
E veremos o que ele pretende fazer, nessa
região abandonada, por onde acaba de fazer a sua entrada calma e tranquila no
Ceará.
Colaboração
do confrade Raimundo Gomes
http://lampiaoaceso.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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