Por: Luís Antônio Barreto
São desencontradas as informações
sobre Volta Seca, cangaceiro sergipano e um dos mais conhecidos e destacados
cabras do bando de Lampeão.
Em 29 de abril de 1929, quando
assistiu missa em Poço Redondo, com seus “rapazes,” o próprio Virgulino
Ferreira da Silva entrega ao padre Artur Passos, então vigário de Porto da
Folha, uma folha de papel pautado, escrita a lápis, com os nomes, os apelidos e
as idades dos integrantes do seu grupo de dez cangaceiros.
No precioso papel, que é
documento daquela que pode ser considerada a primeira entrada de Lampeão em
Sergipe, o último a ser citado, com o nome de Antonio Alves de Souza, e a idade
de 18 anos, com a observação “menino,” e tem o apelido de Volta Seca.
Sergipano de Itabaiana, filho de
Manuel Antônio dos Santos e Arminda Maria dos Santos, era o 6º dos 13 filhos do
casal, nascera em 18 de março de 1918. Volta Seca havia se juntado ao bando de
Lampião em 1929, aos 11 anos, e não era a primeira criança a ser aceita no
bando: Beija-Flor, Deus-te-Guie, José Roque e Rouxinho. Essas crianças eram
utilizadas na lavagem dos cavalos, no carregamento de água, na arrumação e
assepsia de pousos e acampamentos, e foram muitas vezes usadas nos serviços de
espionagem. Portanto, a sua passagem pelo cangaço foi rápida, não mais de 4
anos.
Volta Seca saiu pelo mundo devido
aos maus tratos da madrasta, pessoa violenta que espancava constantemente os
enteados. Percorreu sozinho, os sertões de Sergipe e Bahia, até encontrar
Lampião em Goroso, no município de Bom Conselho. Em entrevista concedida ao
jornalista Joel Silveira, em março de 1944, na Penitenciária da Feira do
Cortume, situado na Baixa do Fiscal, Volta Seca diz que no princípio apanhava
quase que diariamente de Lampião e outros cabras do grupo. Mas depois endureceu
o cangote e o “primeiro que me apareceu com ares de pai, recebi com a mão no
rifle.”
Por ser menor, Volta Seca teve
que aguardar a maioridade, 21 anos para ir a julgamento. Transferido para
Queimadas (BA), a fim de responder por crimes do banco naquele local. Condenado
a 145 anos de cadeia, no primeiro julgamento, Volta Seca teve a pena reduzida
para 30 anos de reclusão. Mais tarde, o processo foi revisto e a pena reduzida
para 20 anos. Em 1954, Volta Seca foi perdoado pelo presidente Getúlio Vargas.
Em liberdade, analfabeto e um homem
marcado pela sociedade vii-se diante de um grande desafio. Casou-se e foi morar
no Nordeste, quando recebe um convite para morar em São Paulo, do cineasta e
diretor Lima Barreto, para assistir e criticar o filme, O Cangaceiro (1953),
mediante uma gratificação. O ex-cangaceiro condenou a cena em que Lampião
chicoteia um cabra na cara. Diz que nos sertões, não se faz isso com homem, se
mata, pois cara de homem no Nordeste é sagrada. Graças às novas amizades
conseguiu emprego na Estrada de ferro Leopoldina, onde trabalhou por vários
anos.
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