(*) José
Romero Araújo Cardoso
Décio Holanda era genro de Tylon Gurgel, homem respeitado na região do Apodi,
cujos domínios se efetivavam principalmente em Pedra da Abelha, hoje município
de Felipe Guerra (RN).
Cearense de Pereiro, Décio Holanda possuía hábitos e valores nada louváveis, como cultivar ódio em grau exponencial, não conseguindo perdoar desafetos ou pessoas que o desagradassem. Era vingativo ao extremo, movido por verdadeira sede de revanche.
Amigo de ex-comboieiro de nome Massilon Benevides Leite, Décio Holanda foi um dos mentores que fomentaram o aliciamento de séquito de bandidos objetivando atacar Mossoró.
Aurora, no Ceará, um dos redutos dominados pelo poderoso “Coronel” Isaías Arruda, foi outro ponto estratégico de apoio à empreitada que resultou na tentativa audaciosa de ataque à segunda cidade potiguar, em 13 de junho de 1927.
A investida bandoleira contra Mossoró estava prevista para ser realizada no mês de maio, mas quando do início da marcha do bando de Lampião em direção ao Rio Grande do Norte, houve combate em Belém do Rio do Peixe, hoje Uiraúna (PB), resultando em sério revés para o grupo cangaceiro, quando perderam dois importantes membros, pois a torre da igreja havia sido empiquetada. Nesse ínterim, Lampião descobriu ter sido ludibriado. A munição adquirida estava imprestável para uso.
Acatando as ordens do chefe, o bando deu meia-volta e retornou ao Ceará para se refazer do combate desastrosos em Belém do Rio do Peixe, em fazenda do “Coronel” Isaías Arruda, um dos maiores coiteiros de cangaceiros.
A junção de forças, de Lampião e dos demais grupos de cangaceiros que cerraram fileiras com o “rei do cangaço”, com o bando de Massilon estava prevista para acontecer nos primeiros dias do mês de maio, mas devido ao revés ocorrido na Paraíba, ficou absolutamente impossibilitado de acontecer o encontro dos famanazes bandoleiros das caatingas.
Seguindo instruções de Décio Holanda, Massilon e seu bando atacaram Apodi no dia cinco de Maio de 1927. O objetivo era concretizar o ódio devotado pelo irascível genro de Tylon Gurgel contra o chefe político de Apodi.
O “Coronel” Francisco Pinto era um homem que havia colecionado um rosário de inimizades, estando Décio Holanda entre os desafetos mais perigosos. Massilon e seu pequeno bando dominaram facilmente a localidade, exigindo usual tributo e aprisionando sem mais delongas o alvo principal dos atacantes.
Humilhado e conduzido como animal pelas ruas de Apodi, Chico Pinto viu a morte de perto na forma de impressionante punhal arrastado por Massilon para sangrá-lo ali mesmo, na frente de todos, talvez, agindo assim, serviria como aviso para que todos respeitassem Décio Holanda.
A intervenção oportuna do pároco local foi providencial para evitar o martírio do chefe político apodiense. Era conhecido o respeito que os cangaceiros devotavam aos padres. Naquele dia, Padre Benedito tornou-se o grande herói do Apodi, pois os cangaceiros atenderam ao pedido e deixaram Chico Pinto vivo, não obstante no ano de 1935 ter sido assassinado por questões políticas.
O ataque do bando de Massilon a Apodi, junto com o aviso dado por Joaquim da Silveira Borges e com a carta enviada por Argemiro Liberato de Alencar, de Pombal (PB), destinada ao compadre Rodolfo Fernandes em Mossoró (RN), serviram de aviso para que a inquietude reinasse no peito do bravo chefe político mossoroense de que a iminência de uma invasão cangaceira estava prestes a acontecer a qualquer momento, fato concretizado no mês seguinte quando a audácia de Lampião e seus seguidores chegaram às portas da capital do oeste potiguar exigindo a exorbitante quantia de quatrocentos contos de réis para poupar a cidade de uma invasão violenta. O resultado todos sabemos qual foi.
(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
http://sertaoinformado.com.br/conteudo.php?id=19519&sec=2&cat=Jos%E9%20Romero
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário