Por Clerisvaldo B.
Chagas, 9 de outubro de 2014 - Crônica Nº
1.275
Situado a 210
quilômetros de Maceió e a 300 da serra da Barriga, palco de luta do Quilombo
dos Palmares, o município foi colonizado pelos arrendatários de terras e
sesmeiros descendentes de portugueses. Pelo primeiro documento encontrado sobre
Santana do Ipanema, datado de 1771, vê-se claramente que a região sertaneja já
estava semeada de proprietários rurais instalados em léguas de terras selvagens
que caracterizam o início do povoamento branco. A área era ocupada pelos índios
Fulni-ô ou Carnijós que habitavam o território da vizinha Águas Belas,
Pernambuco. Os Fulni-ô foram acessíveis àqueles diferentes, formando o mestiço
curiboca, mameluco ou caboclo, sendo esta última, a expressão mais usada até
hoje. O caldeamento branco mais índio formou assim um novo tipo humano
resistente de pele branca, queimada: o caboclo nordestino.
O gado já
havia invadido o Rio dos Currais e as pequenas ribeiras do semiárido alagoano,
surgindo à figura destemida do vaqueiro, caboclo tratador do gado por
excelência e que ao boi dedicou a sua vida. Foram assim formadas a origem e a
descendência do povo santanense com a aristocracia rural branca de sangue
português e a coragem bravia dos índios da caatinga.
(...) Os
negros em Santana, todavia, possuem um elo que tentamos descobrir com os
quilombolas da serra da Barriga. É bem possível que Martinho Rodrigues Gaia,
fazendeiro vindo da Bahia, tenha trazido escravos que ajudaram no abrir de
picadas até Santana, em 1787, data da fundação da cidade.
Entre 1640 e
1695 (morte de Zumbi) ocorreu o auge e as guerras dos negros refugiados na
Barriga. Levando-se em conta a data de 1687e a chegada de Martinho, em Santana,
1787, apenas 100 anos separaria o espaço entre os acontecimentos. É de se
supor, contudo, que, tanto pela extensão do quilombo de Zumbi que ia até a foz
do rio São Francisco, quanto pelos desertores das várias batalhas com os
brancos, tivessem chegado por aqui os primeiros e esporádicos elementos ou
representantes da raça negra.
· Extraído do livro “Negros em Santana”, editado em 2012, páginas 5 e 6.
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