DE FRENTE COM CORISCO:
A 13 de julho de 1931, o
tenente Manuel Neto levou a Vila Bela, para inclusão ou alistamento, os seus
amigos e parentes nazarenos, muitos deles quase crianças. E foi claro: “se
fosse rejeitado um daqueles meninos, seriam todos”. Estava ali formada a
volante dos nazarenos que, pouco depois, seguiria para a Bahia, onde o governo
se via sem forças para combater Lampião, que voltara a cometer suas costumeiras
selvajarias, e pedira a presença dos pernambucanos.
Para atender ao pedido do
governo baiano, foi designado o tenente Manuel Neto, que escolheu sua própria
força:
auxiliares imediatos,
sargentos David Gomes Jurubeba e Tibúrcio Soares da Rocha; cabo José Soares de
Lima Filho; soldados Pedro Gomes de Lira, Antônio Capistrano de Souza, Vicente
Ferreira de Lima (Vicente Grande), Cícero Freire da Silva, Antônio Valério de
Olinda, José Leite de Sá, Alexandre Domingos de Souza (Dudu), Enoque de Sá
Menezes, Arconso de Souza Ferraz, Vicentino Ferreira, José Vila Bela; recrutas
Augusto Leite de Sá, Antônio Cipriano de Souza, Armando Cipriano de Souza,
Afonso Virgulino de Sá, Francisco Marcionilo de Sá, Otacílio Gomes de Sá,
Miguel de Sá Nogueira, Herculano de Souza Nogueira, Henrique Gregório de Souza,
Manoel Capistrano de Souza, José Domingos Neto, Ancilon José da Silva, Manoel
Cosme dos Santos, Olímpio Valões, Arlindo Pereira de Souza, Aflaudísio Nunes de
Carvalho, José Antônio dos Santos, Pedro Antônio dos Santos, José Pedro de
Souza, Augustinho Ferreira (Augustinho Preto), Augustinho Ferreira (Augustinho
Doido), Elias Martins dos Santos, Pedro Barros (Vereda), Francisco Jerônimo
(Gavião), Luís Rodrigues (Dudu), José Dartinha, Antônio Benedito da Silva...
Nestor Domingos de Souza
(paraibano), Manoel Florentino de Souza e João Gomes de Lira. Esses homens
seguiram de Vila Bela no dia 28 de julho de 1931, entrando na Bahia no dia 3 de
agosto. Iriam enfrentar em campo estranho o famigerado Lampião que, havia três
anos, infernizava aquela região.
O serviço de informações do bandido funcionava com perfeição. Mal a força
atravessou o rio, já Lampião tinha conhecimento e armava a primeira emboscada
numa ponta da serra do Padre. Ali esperou de um dia para o outro a força que,
passando por outro local, escapou.
Um mês depois, aos 6 de
setembro, os policiais travaram na fazenda Aroeiras, município de Santo Antônio
da Glória, um tiroteio com o grupo de cangaceiros. O ataque partira dos
bandidos, havendo reação da tropa. Manuel Neto deu as ordens e, com um pelotão
de 15 homens, avançou correndo ao encontro dos celerados que fugiram.
João Gomes de Lira, que viu
de perto as ações de Manuel Neto, dizia que ele, “quando avançava, não olhava
para os lados, misturava-se logo, fosse com quem fosse”. Assim ocorreu naquele
dia.
Num dado momento, Manuel
Neto seguia acompanhado pelo soldado Vicente Grande. De repente, este gritou:
- “Olha os bandidos,
tenente.”
- “Cadê?, Vicente”.
Vicente não respondeu e
atirou. Os bandidos já estavam muito perto.
Logo Manuel Neto topou-se com Corisco, que vinha por dentro de um riacho. “As
primeiras palavras do cangaceiro Corisco foi perguntar de onde era aquela
força. Neto respondeu:”
- É de Pernambuco.
- Quem é o comandante?
- É o tenente Manuel Neto -, disse o nazareno.
- “Te prepara para correr, tenente fio da puta!”
O tenente que, mesmo sem
provocação, não enjeitava parada, reagiu rápido. Saltou dentro do riacho e
ficou frente-a-frente com o Diabo Louro. Atirou e pulou, avançando sobre
Corisco. O cangaceiro recuou.
- Veja, bandido, quem é o tenente Manuel Neto! Não corra. Espere para brigar.
Aqui é a força de Pernambuco. É Manuel Neto com sua força de meninos.
O COMBATE DE MARANDUBA:
A perseguição continuou,
enfrentando a força de Manuel Neto as mais difíceis privações, passando muita
fome e sede. Ao final do ano, na segunda quinzena de dezembro de 1931, a
volante voltou a Jatobá (Petrolândia) para ali passar as festas de final de
ano. “Para entrar na localidade, foi preciso” esperar o “anoitecer, isto porque
a força vinha quase despida.”
Passadas as festas e
refeitos, logo no início de janeiro Manuel Neto partiu à procura dos
cangaceiros. Tomara conhecimento de que o grupo se encontrava na vila de
Canindé (SE), “ferrando moças”. Requisitou o trem e seguiu para Piranhas.
Atravessou o rio e entrou no território de Sergipe, indo dormir na sexta-feira,
dia 8 de janeiro (1932), já perto dos cangaceiros.
No dia seguinte continuaram
rastejando, aproximando-se cada vez mais dos bandidos. Na vanguarda, o
destacamento de Manuel Neto e, mais atrás, os homens sob o comando do tenente
do Exército Liberato de Carvalho, na ocasião com o comando geral das forças.
Seguiam na frente os
sargentos João Cavalcanti e Hercílio de Souza Nogueira. O primeiro, por volta
das 16 horas, avistou os cangaceiros. Pediu a Hercílio que não atirasse;
esperasse a força encostar. Assim o ataque surtiria maior efeito. O bando
estava bem posicionado, num local estratégico, nas proximidades da fazenda
Maranduba.
Impetuoso, Hercílio
respondeu que não esperaria por ninguém. Cada qual fizesse o que pudesse.
Convidou o companheiro a ver quem avançava mais. Abriu fogo e partiu para cima
dos bandidos que, de imediato, reagiram, disparando e avançando contra os dois
sargentos e os companheiros que os seguiam.
Já próximo do acampamento
dos bandidos, Hercílio foi atingido e caiu.
- “Vala-me, Nossa Senhora. Logo na cabeça...” -, teriam sido suas últimas
palavras.
Ao seu lado tombou João Cavalcanti, ou João de Anísia (v. JSF, Tn 8), como era
conhecido (Cavalcanti era, por sinal, primo do célebre Horácio Cavalcanti de
Albuquerque).
Tomando conhecimento da
morte de Hercílio, Adalgiso, de apenas 15 anos de idade, abandonou o comando do
tenente Liberato e correu ao encontro do irmão. Foi atingido, tombando morto
sobre o corpo de Hercílio.
Seguiu-se o mais terrível
combate travado no eixo Bahia-Sergipe, envolvendo as forças conjuntas e o bando
de Lampião. Esclarece Billy Chandler (obra citada, p. 183) que, “embora o
número de soldados ultrapassasse o dos cangaceiros na proporção de três para um
(aproximadamente 100 soldados para 32 cangaceiros), foram eles quem mais
sofreram”. O bando tinha bastante munição e a polícia não conseguiu boa posição
para o ataque. “Liberato, em vez de flanquear os cangaceiros, imprudentemente
tentou atirar por cima das cabeças de seus colegas pernambucanos.
Em duas horas de combate,
as perdas da polícia, tanto infligidas pelos cangaceiros como por seus próprios
colegas, foram inúmeras. Pelo menos cinco soldados morreram na cena do combate;
entre os doze ou mais feridos, diversos morreram mais tarde, a maior parte por
falta de cuidados médicos.”
De Nazaré, caiu morto
também Antônio Benedito da Silva. E os cangaceiros, aparentemente, perderam
quatro homens, dois dos quais no local da luta. “Contam que havia um outro tão
ferido que Lampião, diante do seu sofrimento, matou-o a tiros.”
João Lira (obra citada, p.
512) diz que Manuel Neto, mais tarde, lhe confidenciaria que “nunca tinha visto
tanta bala como viu ali”, num “fogo cerrado de ambas as partes, misturados, sem
haver recuo”, lutando-se por duas ou três horas com bandidos alcoolizados.
CONTINUAREMOS AMANHÃ...
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