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quinta-feira, 21 de abril de 2016

O MASSACRE DO CALDEIRÃO DO BEATO LOURENÇO

Por Fátima Teles
Beato Lourenço e o jornalista Hildebrando Spinola

Uma luta pouco conhecida, que ocorreu no sertão do Ceará: uma comunidade sertaneja, formada por camponeses que partilhavam o trabalho e os produtos da terra, foi encarada como uma ameaça "comunista" pelas oligarquias; a repressão militar contra ela envolveu, pela primeira vez, o uso de aviação militar no Brasil.

Por Fátima Teles

1. Apresentação

O presente trabalho tem como objetivo mostrar em forma de artigo a trajetória de uma comunidade denominada de “Caldeirão” na região Nordeste do Brasil, sediada no município de Crato (CE), entre o período de 1926 até 1937, período histórico em que no Brasil se acirram as lutas urbanas, dado o avanço do processo de urbanização, onde o estado tratará a questão social como caso de polícia e a pobreza reinante no país será agravada por grandes epidemias da varíola, peste bubônica, febre amarela e outras patologias.

Momento também em que os programas sociais tinham caráter integrativo e estado, igreja e forças armadas eram unificadas através da força rígida e da imposição no combate à ideologia democrática que fortalecia a luta de classes em busca de uma sociedade justa e igualitária.

O artigo registra a luta de uma comunidade organizada, fundamentada na produção econômica coletiva, na prática do cristianismo numa concepção de amor ao próximo, na aquisição de terras para o uso da lavoura de inúmeros trabalhadores, no atendimento aos demais que ali chegaram em estado raquítico como consequência da fome, da seca, do estado de miséria e da exclusão social existente.

Em busca deste conhecimento fez-se necessário a pesquisa cientifica através de bibliografias e contato direto com um filho de remanescente desta luta que foi ofuscada pelo regime ditatorial dos coronéis da época vivida.

2. Contexto histórico, político, econômico e social do Brasil no final do Século XIX

O Brasil no final do século XIX era um país, do ponto de vista político, governado por uma elite dominante que buscava atender aos seus interesses. A República proclamada trouxe algumas mudanças. Porém, o grupo que estava no poder juntamente com os seus aliados fazia parte de uma oligarquia latifundiária. A política brasileira era influenciada pelas oligarquias agrárias principalmente de Minas Gerais e de São Paulo por serem os estados mais populosos e por concentrarem grande produção de leite e café. Esses dois estados exerciam tanto poder na política do país que havia um acordo para o presidente do país ser eleito saindo de um dos dois estados. Era a chamada política do café com leite. O Nordeste vivia a política dos coronéis onde o coronel da fazenda detinha o poder e interferia na política de sua vila, cidade ou estado. O voto não era secreto e, por isso, era fácil manipular as pessoas pela força, pela coerção ou pelos favores prestados. Eram os chamados currais eleitorais, conhecido por “voto de cabresto”.

Do ponto de vista econômico o Sudeste do Brasil crescia a olhos vistos. O Oeste paulista tinha extensas áreas de plantações de café, ferrovias eram construídas, o país dava seus primeiros passos rumo à industrialização. Era o Brasil dualista, o moderno e o arcaico.

No Nordeste a economia se baseava na agricultura e o homem do campo via no latifúndio explorador o seu único meio de sobrevivência.

Do ponto de vista social, o Brasil na sua essência era uma nação excludente onde quem usufruía de direitos como a educação, saúde, moradia, era a classe dominante. A população pobre era tratada com desprezo. A república não questionava a situação dos ex-escravos que agora libertos perambulavam pelas ruas da cidade, enquanto outros morriam desamparados. Ainda havia outros que preferiam continuar servindo aos seus senhores para garantir a alimentação já que eram idosos e outros construíam seus barracos em morros dando início ao processo de favelização das grandes cidades, como o Rio de Janeiro. O Nordeste era marcado por secas e o trabalhador rural não tinha outra opção senão a mão-de-obra barata que o empobrecia e enriquecia cada vez mais o seu patrão. A única saída dessa situação era entregar-se a fé proclamada pelo messianismo religioso com a esperança de dias melhores ou ao cangaço. É nesse cenário de miséria e pobreza que surgem figuras messiânicas como Antônio Conselheiro, Lampião, José Lourenço.

3. O “Milagre” da hóstia no Juazeiro do Norte (CE), a Chegada de José Lourenço na terra do Padre Cícero e o Sitio Baixa Dantas

O acontecimento da hóstia que a beata Maria de Araújo recebeu do Padre Cícero e virou sangue, tomou uma dimensão muito grande se expandindo por todo o Nordeste e daí centenas de pessoas virem até o povoado de Juazeiro do Norte em busca da fé, de conhecer de perto o Padre Cícero. Esse grande contingente de pessoas era de camponeses que vinham de outros estados e terminavam ficando no povoado, auxiliados pelo Padre Cicero e viviam sob sua orientação religiosa. Assim o povoado foi crescendo em termos populacionais e econômicos até ser o que hoje se denomina de “Capital da fé”, sendo um dos maiores centros de religiosidade popular da América Latina. 

O beato Lourenço 

Era o ano de 1890 quando o jovem José Lourenço chegou ao Juazeiro do Norte ao encontro de sua família, que tinha saído de Pilões de Dentro (PB), atraídos pelos “Milagres” ao Padre Cicero.

Em 1894 o beato José Lourenço arrendou o Sítio Baixa Dantas no município de Crato (CE) sob a orientação do Padre Cícero a quem ele seguia como referência de santidade, referindo-se a ele como “meu Padim”. Ali ele liderou a sua primeira experiência em comunidade com o trabalho coletivo. Foram com o beato para o Sítio Baixa Dantas órfãos, desempregados pessoas em conflito com a lei, camponeses cansados com o trabalho explorador. A maioria das pessoas que iam para o Sítio Baixa Dantas era enviada pelo Padre Cícero para que pudessem se oportunizar a uma nova vida através do trabalho reeducativo e religioso do Beato José Lourenço. Embora o terreno ali encontrado fosse pedregoso, a comunidade conseguiu através de mutirão construir casas de taipa, sistema de irrigação, produzir cereais, algodão, frutas, hortaliças.

Os sertanejos vinham de todo o Nordeste, sendo que a maior parte era do Rio Grande do Norte. Toda a produção da comunidade era repartida entre todos.

4. A Sedição de Juazeiro e a História do Boi Mansinho

O beato José Lourenço era um líder religioso pacifista. Na sedição de Juazeiro, uma luta travada entre as oligarquias cearenses e o governo salvacionista de Franco Rabelo. O beato não tomou nenhuma iniciativa diante do combate, pois era contra qualquer ato de violência. Ele prestou apoio ao padre Cícero no sentido de enviar alimentos para os sertanejos, mas não participou da guerra nem incentivou ninguém do Sítio Baixa Dantas para a luta. Porém, sofreu inúmeros prejuízos, pois as tropas do Estado invadiram e saquearam o Sítio Baixa Dantas para se alimentarem e praticaram na comunidade algumas atrocidades. “Os moradores, sob ameaças, foram obrigados a gritar: — “viva Franco Rabelo!”. Uma mulher que se recusou acabou morta (FARIAS, 2000, p. 17). Logo depois do conflito a comunidade reconstruiu tudo com o mesmo amor e vontade.

Ainda no Sítio Baixa Dantas o industrial alagoano Delmiro Gouveia doou um boi de raça Zebu para o Padre Cícero. Este enviou o boi para o Sítio Baixa Dantas a fim de que o beato José Lourenço cuidasse do mesmo já que não tinha como deixá-lo no Juazeiro. O boi serviu de reprodutor para as fazendas vizinhas no intuito de melhorar a raça bovina do Cariri. Como o animal era bonito e manso passaram a chamá-lo de Mansinho. O boi mansinho era tratado com zelo porque pertencia ao “Padim Ciço”, a quem todos tinham o maior respeito e veneração. O fato é que correram boatos, más interpretações advindas da vizinhança e por parte daqueles que eram inimigos do Padre Cícero, pois sabiam que os boatos iriam lhe atingir.

Diziam que o “boi Mansinho” era adorado pela comunidade, que realizavam procissão cultuando o boi e que utilizavam até sua urina como remédio. A pior versão foi a de que um romeiro para pagamento de uma promessa tinha oferecido uma “touceira de capim roubada ao animal, o qual prontamente recusou, rugindo penosamente” (FARIAS, 2000, p. 17). Daí o boi ser considerado “santo” segundo comentários populares.

Esses comentários terminaram prejudicando o beato que veio a ser preso a mando do Deputado Federal Floro Bartolomeu, braço forte do Padre Cícero. Floro Bartolomeu estava sendo atingido nos seus interesses políticos, pois os boatos tiveram repercussão nacionaI e a imprensa alimentada pelo espírito de sensacionalismo dizia que no Cariri havia “fanáticos” adorando um “boi santo”. Para proteger a sua imagem, Floro Bartolomeu ordena a prisão do beato, mesmo sabendo que não havia veracidade na história do “boi santo” e ordena também o abate do boi para que erradique a história de uma vez e o Juazeiro do Norte fique conhecido pelas romanas direcionadas para Nossa Senhora das Dores, Padroeira da cidade.

O Deputado Floro Bartolomeu ainda dá ordens para o beato comer da carne do boi que foi abatido.

O beato ficou preso durante 18 dias, resistiu veementemente e não consumiu da carne do boi que fora abatido. O beato conseguiu sair da prisão pela influência do Padre Cícero.

Pode-se analisar que o episódio da prisão do beato por causa do “boi Mansinho” foi um dos elementos que vieram contribuir para a perseguição a sua comunidade tanto por parte do estado como do clero.

O dono do Sítio Baixa Dantas, o senhor João de Brito pôs o mesmo a venda logo após a morte do Deputado Floro Bartolomeu em 1926.

5. A semente que caiu em terra boa, a vida no Caldeirão

“Um semeador saiu a semear. E semeando, parte da semente caiu ao longo do caminho (...)“: (...) outras, enfim, caíram em terra boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um (...)“; (...)a terra boa semeada é aquele que ouve a palavra e a compreende, e produz fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um” (Bíblia Sagrada, Mateus 13: 4; 8; 23).

Mesmo tendo saído do Sítio Baixa Dantas sem nada, o beato juntamente com todos os que o acompanhavam foram para um terreno do Padre Cícero chamado de Caldeirão dos Jesuítas localizado no município do Crato (CE), banhado pelos lençóis verdes da Chapada do Araripe.

Pode-se fazer aqui uma analogia do beato José Lourenço com a semente boa que compreende o sentido da vida pela tarefa redentora do trabalho e do amor ao próximo.

Alojados no Caldeirão eles deram início a toda uma construção e em pouco tempo fizeram daquele lugar um ambiente de prosperidade. Sempre imbuídos do ideal religioso abraçavam as adversidades da vida com fé, espírito de luta na esperança de dias melhores e com ideais de igualdade, autonomia e justiça, utilizando as terras consideradas improdutivas e transformando-as em solos férteis, produtivos, vivendo uma sociedade socialista primitiva, sobrevivendo com recursos próprios, legitimando a participação, construindo a cidadania, exercitando o caminho de homens sujeitos, criadores e fazedores de uma história que impulsionava a tomada de uma consciência de classe. Visto que classe social é uma (...) “categoria econômica fundamental que aglutina grupos, indivíduos e movimentos na sociedade civil e política” (...) (GONH, 1999, p. 39).

A labuta cotidiana era incansável e todas trabalhavam em regime de cooperação para o crescimento do Caldeirão. O beato José Lourenço procurava sempre dar o exemplo sendo o primeiro a seguir para o plantio da roça junto aos demais. Quando chegavam preparavam o jantar e logo depois iam para a capela orar até altas horas da noite. O Caldeirão era um lugar de trabalho e oração. A ida de Manoel Moraes, engenheiro prático, e sua família para o Caldeirão facilitou muito o andamento das construções. Lá o engenheiro Manoel ajudou a construir açude, capela, etc. Entre os moradores vindos da região, lá se encontravam terreiro, carpinteiro, pedreiro, fazendeiro, artesão, ceramista, etc. Sendo assim pode-se perceber que além da atividade agrícola havia também outras atividades econômicas. Uma cota do que era produzido era dado a cada família e com o excedente comprava-se aquilo que não era produzido na comunidade como querosene e remédio. 

Sobre o engenheiro prático, o beato José Lourenço e a vida na comunidade segue o relato do filho de um remanescente. O senhor Francisco Batista de Morais é filho do engenheiro prático Manoel de Morais que morou no Caldeirão e, na sua entrevista deixa a seguinte fala: 

A primeira carta que papai recebeu do meu “Padim Ciço” foi para construir o engenho no Caldeirão. As tachas foram compradas em Seridó (RN). Depois meu “Padim Ciço” disse a ele assim: “meu amiguinho”, tenho outro serviço para você, que era a construção de uma casa para o meu “Padim” na Rua Padre Cícero, um pouco acima da Rua Alencar Peixoto. A madeira dessa casa veio do Caldeirão. Meu “Padim” tratava as pessoas sempre por “meu amiguinho”. Depois meu “Padim” convocou novamente meu pai para construir o açude, a capela e a igreja no Caldeirão e foi morar lá com a família. O carro utilizado para construir o açude foi feito pelo meu pai. Minha mãe morreu de parada cardíaca aos 32 anos. Ela caiu em frente a capela. Mesmo com a morte de minha mãe, meu pai continuou a trabalhar no Caldeirão. Como não tinha casa de farinha no Caldeirão era preciso ir buscar em cima da Serra do Araripe, a farinha. Cerca de 18 burros vinham transportando a farinha. Quanto às festas religiosas e folclóricas como natal e São João eram comemoradas através de oração. Agora as pessoas iam para lá e o beato sempre matava um boi onde todas as pessoas comiam, mas não tinha festa não. O beato não dava dinheiro a ninguém, dava comida a quem chegasse. Tirava peças de pano e dava às famílias para fazerem roupas e lençóis. Era um homem caridoso.

O Caldeirão foi saqueado na época da revolução de 1930 por forças getulistas e embora tivessem causado grandes prejuízos à comunidade, o beato respondeu ao insulto em silêncio, tornando a reconstruir o Caldeirão.

A seca de 1932 foi terrível e várias famílias saiam do sertão em direção a capital. O governo manda formar campos de concentração espalhados pelo estado como forma de impedir o êxodo rural. No Crato, havia um campo de concentração chamado de Buriti. Nesse tempo o beato foi de grande ajuda para muitas famílias que foram levadas até o Caldeirão em busca de alimentação.

6. O peregrino Severino Tavares, a destruição do Caldeirão, o sítio União e a Morte do Beato José Lourenço

Severino Tavares, de aparência profética, cabelos longos e barbas, esteve no Caldeirão, mas não fixou-se no local. Ele vivia peregrinando pelo sertão nordestino anunciando tempos de mudanças e incentivando a ida dos sertanejos para o Caldeirão. 

Sendo um homem sábio ele com certeza combatia pelas suas pregações a desigualdade social.

Severino chegou a ser preso em Santa Quitéria quando de suas pregações, pelos militares que o acusavam de ser comunista e ter participado da intentona comunista, em razão de Severino Tavares ser do Rio Grande do Norte onde a mesma teve início.

O governo, o clero, os grandes latifundiários não viam com bons olhos a comunidade do Caldeirão em razão da influencia comunista no mundo, por causa da Revolução Russa, por causa da Coluna Prestes que passou pelo Nordeste e esse foi mais um dos elementos utilizados pela força dominante para a destruição do Caldeirão.

Com a morte do Padre Cícero em 1934, os padres salesianos herdaram parte de seus bens, inclusive a posse das terras do Caldeirão onde estava o beato, através do testamento do Padre Cícero. Os padres salesianos contrataram o Deputado Estadual da LEC (Liga Eleitoral Católica), Norões Milfont para abraçar a causa, tomando as terras do Caldeirão. A LEC era um partido religioso ligado diretamente à Igreja Católica e, indiretamente elegeu o governador do Ceará naquele momento, Menezes Pimentel, pertencente à elite conservadora.

O deputado Norões Milfont na sua defesa disse que a comunidade do Caldeirão representava um grande perigo visto que poderiam ser comunistas e “fanáticos”.

O Capitão José Bezerra veio em missão de espionagem para o Caldeirão e é bem recebido pelo beato. E, mesmo o capitão José Bezerra afirmando que não viu armas no local, enviou um relatório dizendo que a comunidade era um grande perigo comunista.

Em setembro de 1936 o estado envia tropas ao Caldeirão e, ao chegarem, invadem e ameaçam os moradores e, através de um recenseamento, chegam a seguinte conclusão diante da população: “70% dos habitantes do Caldeirão eram naturais do Rio Grande do Norte, 20% de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Maranhão e Piauí, e apenas 5% de cearenses natos”.

As forças militares ordenam que eles peguem os pertences e vão embora. No entanto, eles relutam dizendo que ali tudo é de todos. O capitão Cordeiro Neto decide destruir o Caldeirão. Saqueiam e incendeiam as casas e os armazéns e expulsam os moradores do local.

A comunidade se dispersa, mas logo se reencontra nas matas da Chapada do Araripe num local chamado Mata dos Cavalos. Lá eles construíram cabanas de palhas.

Alguns dos que estavam na Mata dos Cavalos junto ao beato se sentiam indignados e queriam agir por conta própria. Porém, o beato era pacifista e juntamente com muitos que o tinham como guia resolveu silenciar e reconstruir a comunidade. Severino Tavares foi solto e juntamente com outros camponeses que se sentiam injustiçados, resolveram tomar uma atitude diante da ação policial que levou a destruição do Caldeirão.

Boatos correram que Severino Tavares iria retornar ao Caldeirão. As forças militares se uniram e enviaram as tropas para a Chapada do Araripe. Lá eles foram recebidos de surpresa por uma emboscada. Um grupo de sertanejos travou uma luta sangrenta vindo a matar o capitão José Bezerra. Então, o governo estadual liderado por Menezes Pimentel e o governo federal sob a liderança de Getúlio Vargas que havia implantado o Estado Novo e não queriam movimentos sociais que na sua ótica viessem lembrar o comunismo, em maio de 1937, enviaram tropas militares e aviões autorizados pelo ministro da guerra Eurico Gaspar Dutra e, assim metralharam camponeses que lutaram e os que não lutaram que eram pacifistas, praticando assim o maior genocídio do Ceará no século XX.

O beato José Lourenço e alguns sobreviventes pediram permissão para voltar ao Sítio Caldeirão e lhes foi permitido. De 1938 a 1939 o beato morou no Caldeirão. Porém, os padres salesianos enviam ordem de despejo e, o mesmo se retirou e entrou com um pedido de indenização na justiça, o advogado de Antônio de Alencar Araripe entra com uma ação contra o estado do Ceará em busca do ressarcimento pelas ações maléficas causadas na comunidade. A justiça negou o pedido de indenização. Não seria interessante para o estado atender a ação judicial visto que os danos causados ao Caldeirão foram provocados pela ação militar que faz parte do estado. Foi realizado um leilão dos bens do Caldeirão vindo a ser devolvida ao beato uma pequena parte do que foi saqueado. Com o dinheiro devolvido ele foi para o município de Exu (PE), comprou um sítio ao qual deu o nome de Sítio União e reconstruiu a sua vida junto com alguns seguidores e continuou o mesmo trabalho de fé e caridade até sua morte em 12 de fevereiro de 1946 de peste bubônica.

O corpo foi transportado por uma multidão que lhe tinha devoção e fizeram uma caminhada de “70 quilômetros” (CORDEIRO, 2004, p. 52) até o Juazeiro do Norte, onde o enterraram no Cemitério do Socorro ao lado do Padre Cícero.

7.           Considerações finais

A pesquisa e o estudo sobre a comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do deserto possibilitou uma análise sobre a formação de uma classe que unida em torno do ideal religioso lutou pelo direito a terra e pela sobrevivência, criando assim um oásis no árido sertão nordestino, enfrentando a desigualdade social através do trabalho coletivo e igualitário.

Conclui-se que a união de um povo pelo ideal de liberdade é capaz de gerar uma transformação social e garantir com o seu processo de organização a autonomia de um povo onde na luta por igualdade torna-se emancipado e constroi a cidadania, elaborando, protagonizando a sua própria política e ideologia que assegura a qualidade de vida da população.

Referências bibliográficas

BÍBLIA SAGRADA, 75 ed. Editora Ave Mana Ltda. São Paulo-SP: Edição Claretianas, 1991.

CORDEIRO, Domingos Sávio de Almeida. Um beato líder: narrativas memoráveis do Caldeirão. Fortaleza: Imprensa Universitária. Universidade Federal do Ceará, 2004.

FARIAS, Airton de. O Caldeirão vivo — a saga do beato José Lourenço. Fortaleza: Tropical, 2000. 

GONH. Maria da Glória. Classes sociais e movimentos sociais. In: Capacitação em Serviço Social e Política Social. Brasília: CEAD, 1999.

(*) Fátima Teles é Assistente Social e colaboradora do Vermelho

http://www.vermelho.org.br/noticia/248228-11

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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