por João Abner
Maio 30, 2016
A grande seca
- há muito anunciada - atinge pelo quinto ano o semiárido brasileiro,
destroçando sua frágil economia agrícola e exaurido grande parte dos mananciais
de água para o abastecimento humano do campo e das cidades. Um processo que
tende a se agravar cada vez mais com a continuidade da seca no segundo semestre
deste ano.
No contexto
regional de seca generalizada, o RN é o estado que se apresenta em melhores
condições de enfrentar o fenômeno, pois detém a segunda maior reserva
de água do NE setentrional - acima do rio São Francisco, para uma população
pequena de pouco mais de três milhões de habitantes, com o atenuante de que a
maior parte dessas pessoas consome água do litoral pouco afetado pela seca. E,
além do mais, é no interior, menos povoado, a onde se concentram as maiores
reservas de águas superficiais e subterrâneas que ainda são largamente
utilizadas em atividades voltadas para exportação de água virtual, na irrigação
de fruticulturas e reposição da evaporação da água dos viveiros de camarão.
O quadro do RN
é diferente do CE, PE e PB que comprometem grande parte das suas águas
interiores com o abastecimento de regiões metropolitanas e grandes cidades,
tais como: Fortaleza, Recife, Campina Grande e Caruaru.
No RN a seca
castiga principalmente pequenas e médias cidades que se encontram desconectadas
das maiores reservas de água do Estado. Um exemplo emblemático é o da
mesorregião Central Potiguar, que engloba o Seridó e o Vale do Açu, com a maior
disponibilidade hídrica per capta do Estado, paradoxalmente, a grande maioria
das suas cidades, com destaque para Caicó, Currais Novos e Macau, se encontram
fora da experiência bem-sucedida de sistemas adutores de caráter regionais
desenvolvido nos últimos 20 anos no Estado.
Nessas regiões
desassistidas as populações urbanas têm arcado com elevados custos de
abastecimento de água por carros pipas, num modelo precário e privado de
abastecimento com custo dezenas de vezes superiores aos praticados pela
companhia estatal CAERN.
Pode-se
afirma, portanto, que a gestão dos recursos hídricos do RN deveria,
prioritariamente, assegurar: o controle dos usos menos prioritários da água em
período secos extremos como o atual e a conclusão da infra-estrutura de
adutoras de caráter regional sustentadas nas reservas efetivamente seguras
como é o caso dos açudes Eng. Armando Ribeiros Gonçalves (segundo maior do NE)
no rio Açu e Santa Cruz (oitavo maior do NE) no rio Apodi, que se encontram em
melhores condições na Região.
No entanto, o
grande desafio é a captação dos recursos financeiros necessários para os
investimentos urgentes na implantação dos novos sistemas adutores num ambiente
de escassez de recursos governamentais, cada vez maior.
Por outro
lado, o elevado custo da água arcado pela população demonstra grande
rentabilidade e capacidade de auto financiamento do setor, justificando a busca
de parcerias público-privadas para melhorar os serviços públicos de
abastecimento de água, fugindo-se, dessa forma, da disputa na vala comum dos parcos
recursos emergenciais disponibilizados pelo Governo Federal no momento atual.
Sendo essa, talvez, a principal lição que poderíamos tirar dessa terrível seca.
João Abner Guimarães Jr.
Engenheiro civil e professor titular aposentado da UFRN
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogodmendesemendes.blogspot.com
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