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quarta-feira, 1 de junho de 2016

AS LIÇÕES DA SECA NO RN

Maio 30, 2016


A grande seca - há muito anunciada - atinge pelo quinto ano o semiárido brasileiro, destroçando sua frágil economia agrícola e exaurido grande parte dos mananciais de água para o abastecimento humano do campo e das cidades. Um processo que tende a se agravar cada vez mais com a continuidade da seca no segundo semestre deste ano.

No contexto regional de seca generalizada, o RN é o estado que se apresenta em melhores condições de enfrentar o fenômeno, pois detém a segunda maior reserva de água do NE setentrional - acima do rio São Francisco, para uma população pequena de pouco mais de três milhões de habitantes, com o atenuante de que a maior parte dessas pessoas consome água do litoral pouco afetado pela seca. E, além do mais, é no interior, menos povoado, a onde se concentram as maiores reservas de águas superficiais e subterrâneas que ainda são largamente utilizadas em atividades voltadas para exportação de água virtual, na irrigação de fruticulturas e reposição da evaporação da água dos viveiros de camarão.

O quadro do RN é diferente do CE, PE e PB que comprometem grande parte das suas águas interiores com o abastecimento de regiões metropolitanas e grandes cidades, tais como: Fortaleza, Recife, Campina Grande e Caruaru.

No RN a seca castiga principalmente pequenas e médias cidades que se encontram desconectadas das maiores reservas de água do Estado. Um exemplo emblemático é o da mesorregião Central Potiguar, que engloba o Seridó e o Vale do Açu, com a maior disponibilidade hídrica per capta do Estado, paradoxalmente, a grande maioria das suas cidades, com destaque para Caicó, Currais Novos e Macau, se encontram fora da experiência bem-sucedida de sistemas adutores de caráter regionais desenvolvido nos últimos 20 anos no Estado.

Nessas regiões desassistidas as populações urbanas têm arcado com elevados custos de abastecimento de água por carros pipas, num modelo precário e privado de abastecimento com custo dezenas de vezes superiores aos praticados pela companhia estatal CAERN.

Pode-se afirma, portanto, que a gestão dos recursos hídricos do RN deveria, prioritariamente, assegurar: o controle dos usos menos prioritários da água em período secos extremos como o atual e a conclusão da infra-estrutura de adutoras de caráter regional sustentadas nas reservas efetivamente seguras como é o caso dos açudes Eng. Armando Ribeiros Gonçalves (segundo maior do NE) no rio Açu e Santa Cruz (oitavo maior do NE) no rio Apodi, que se encontram em melhores condições na Região.

No entanto, o grande desafio é a captação dos recursos financeiros necessários para os investimentos urgentes na implantação dos novos sistemas adutores num ambiente de escassez de recursos governamentais, cada vez maior.

Por outro lado, o elevado custo da água arcado pela população demonstra grande rentabilidade e capacidade de auto financiamento do setor, justificando a busca de parcerias público-privadas para melhorar os serviços públicos de abastecimento de água, fugindo-se, dessa forma, da disputa na vala comum dos parcos recursos emergenciais disponibilizados pelo Governo Federal no momento atual. Sendo essa, talvez, a principal lição que poderíamos tirar dessa terrível seca.

João Abner Guimarães Jr.
Engenheiro civil e professor titular aposentado da UFRN


Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogodmendesemendes.blogspot.com

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