O dia 13 do
ano é 1927 foi um dia de sorte para os mossoroenses e de azar para Lampião. O
bandido resolve invadir a cidade mesmo sabendo que ela possui igreja de duas
torres, que é dedicada a Santa Luzia (Lampião era cego de um olho) – sua
padroeira – e que isso seria um risco grande por conta da sua superstição de
vir a acabar levando um grande castigo. Mas mesmo assim decidiu correr o risco,
pois a riqueza da cidade era tamanha que valia a pena pelo menos tentar.
Ao centro José Leite de Santana o cangaceiro Jararaca, um dos mais perigosos facínoras do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, capturado ferido
e enterrado ainda vivo na cidade de Mossoró-Rn.
No final da
manhã o bando entra na cidade. À frente estão Jararaca, Colchete e Menino de Ouro.
Eles entram cantando os versos da canção paraibana “Mulher Rendeira…” “Ô mulhé
rendeira!/ Ô mulhé rendá/ Me ensina a fazê renda/ Qu’eu te ensino a guerreá…”
Mas a música
será interrompida pelos tiros disparados pela população da cidade que
entrincheirada resolvera reagir sob a liderança do então prefeito Rodolfo
Fernandes. Foram montadas sete trincheiras cuja missão era evitar que Lampião
chegasse ao centro da cidade e assim pudesse saquear Mossoró.
O tiroteio
começa repentinamente e é muito forte. Dura uma hora. Ao final desse tempo
estarão mortos Colchete e Menino de Ouro ( um dos cangaceiros mais queridos de
Lampião, dotado de uma bela voz). Jararaca, um dos mais temidos, estará ferido
e será capturado.
Contam que
Lampião ao ver que havia caído numa cilada ordenou a debandada, pois “igreja
que tem a bunda redonda e que até o santo atira, não é um bom lugar para
lutar”. E assim fugiram deixando para trás ‘Jararaca’ gravemente ferido.
O lugar que
Lampião se referia é a Igreja de São Vicente, lugar que ficava ao lado da casa
do então prefeito Rodolfo Fernandes e onde estava a principal trincheira. O
santo que atirava era alguém atrás da imagem de São Vicente que fica no
primeiro módulo da torre do sino da igreja (hoje está tapada) e acima outro que
disparava da ponta da torre onde ficava o sino.
O repórter do
jornal O Mossoroense, Fenelon Almeida, relata que Jararaca foi encontrado pelo
pequeno comerciante Pedro Tomé. Conta o repórter: “Ao aproximar-se da moita,
ainda para certificar-se da natureza dos sons que escutara, Pedro foi encontrar
um homem caído por terra, com as vestes ensanguentadas, respirando com
dificuldades, sentindo fortes dores no peito direito. Era um homem de cor,
compleição forte, ainda jovem. Era Jararaca, que caiu na Praça São Vicente se
arrastara até ali, numa tentativa de fuga. Mostrando-lhe o bornal que era
também a sua caixa-forte, Jararaca prometeu ao desconhecido pagar-lhe
generosamente, se ele encontrasse em algum lugar e lhe viesse trazer um pouco
de água, sal de cozinha e pimenta-malagueta. E também um canudo de mamoeiro”.
Pedro Tomé
prometeu atender-lhe o pedido. Recebeu o dinheiro de Jararaca e foi à procura
do primeiro soldado que descobrisse no caminho. Entre o instante do encontro do
comerciante com o cangaceiro ferido e a vinda dos soldados que o prenderam,
desapareceram o dinheiro, as joias e outros objetos de ouro e quase todos os
demais pertences do cangaceiro.
Já na
delegacia e atendido por um médico, Jararaca insistia em obter o canudo de
mamoeiro e pimenta-malagueta. Perguntaram-lhe como usar isso, e ele, explicou,
dizendo: “No bando, quando alguém recebe ferimento como este, sopra a malagueta
pelo canudo colocado na ferida. Sai a salmoura no outro lado. Arde muito, mas a
gente fica curado.”
Continua
Fenelon: “Jararaca dava sinais de que estava melhorando, mas sábado, dia 18 de
junho de 1927, alta hora da noite, o capitão Abdon Nunes de Carvalho, retirara
o cangaceiro da cadeia, dizendo que ia levá-lo para Natal. Ao invés disso,
levaram-no diretamente para o cemitério local, onde uma cova estava aberta à
sua espera”.
Ao ordenarem
ao condenado que descesse do veículo e entrasse no cemitério, o motorista
Homero Couto ouviu quando Jararaca disse, a meia voz: -“Valha-me, Nossa
Senhora!” Ao ver a cova que lhe fora preparada, Jararaca tornou a falar: “Vocês
querem me matar. Mas não vou chorar de medo, não. Nem pedir de mãos postas pra
não me tirar à vida. Vocês vão ver como é que morre um cangaceiro”.
“Não havia
ódio nos gestos e palavras de Jararaca. Havia desprezo, muito desprezo; não
ódio.” Foi o que relatou o repórter Lauro da Escóssia, que entrevistou um dos
matadores de Jararaca.
O bandido
estava com as mãos amarradas às costas. Primeiro, uma coronhada na nuca. Em
seguida um golpe de sabre esfacela a garganta. Ainda se debatendo Jararaca foi
pisoteado e depois teve o corpo empurrado o interior da cova. Imediatamente,
cobriram-no de terra quando ele ainda estava de olhos abertos.
Alguns anos
depois Jararaca foi mote de uma graça alcançada por Neide Santiago, funcionária
da Estrada de Ferro de Mossoró, que em agradecimento ergueu um túmulo ao
cangaceiro. A onda espalhou-se e hoje é o túmulo mais visitado de Mossoró. Na
lápide está escrito: “Aqui Jaze José Leite de Santana, vulgo ‘Jararaca’. Nasceu
em 1901- Faleceu-19-06-1927”.
* As imagens
também foram retiradas do texto.
Umburana de
Cheiro.
Fonte: Facebook
Página: Marise Helena
de Araújo
Grupo: O Cangaço
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