Por Jerdivan Nóbrega de Araújo
A oiticica é uma planta da família Chrysobalanaceae, endêmica na caatinga e na
vegetação típica da faixa de transição entre o sertão semiárido do Nordeste. É
encontrada nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Tem
grande importância, quer pelo aspecto ambiental de ser uma espécie arbórea
perene sempre verde que preserva as margens dos rios e riachos temporários na
região da caatinga, quer como espécie produtora de óleo. Durante todo o ano,
inclusive nos períodos de seca, comuns às regiões de ocorrência natural dessa
planta, mantém-se verde e fornece sombra ao homem e diversos outros animais.
Na “Outra Banda”, tínhamos diversas oiticiqueiras espalhadas por todo o sítio.
Na época da preparação das terras para o plantio era a sombra das oiticicas que
os trabalhadores faziam o seu “rancho”. Nada era mais gostoso do que tomar um
copo d' água tirada de um pote de barro que esfriou embaixo de um pé de
oiticica.
A sombra de uma oiticiqueira nos traz uma preguiça, uma vontade de se deitar de
papo pro ar e de nunca mais sair dali. Você olha para cima e não vê o a
luz do sol de tão espeça são as folhagens daquela árvore.
As “oiticicas de Ana”, assim elas eram conhecidas em toda a cidade, por se
situarem dentro das terras de Ana Benigno, nossa bisavó, ficavam às margens do
rio Piancó na “Outra Banda” num lugar chamado de “Panela”. A denominação
se dava por que algumas rochas por onde o rio escorria, com a erosão formaram
crateras que lembravam panelas de barro. Os banhistas disputavam as “panelas” onde
se deitavam, sendo massageados pelas águas correntes ao tempo que degustavam
uma boa cachaça.
As “oiticicas de Ana”, por um capricho da natureza, nasceram e cresceram a uma
distância de pouco mais de vinte metros entre elas, de forma que ao se
encontrarem na copa fundiram-se como se fora uma única árvore,
que proporcionando mais de trezentos metros quadrados de boa sombra.
Embaixo das árvores chegava a ser escuro já que as copas desciam por todo os
lados até próximo ao nível do chão. Mesmo em chuva torrencial era possível se
abrigar sem receber um único pingo d' água no corpo.
Sombra, muita água fresca e corrente, bem localizada as margens do
rio e distante da perturbação da cidade, foram as prerrogativas que
transformaram as oiticicas de Ana no balneário da cidade de Pombal.
Aos domingos o espaço era disputado por banhistas que iam para passar todo o
dia. Levávamos redes, fazíamos a comidas, pescávamos e cosíamos o
peixe ali mesmo. As galinhas e patos só valiam se tivessem uma boa história para
conta: fora roubada de quem? O dono percebeu? Quem pulou o muro? E assim se
davam as prosas com estórias e histórias que motivavam muitos
risos.
Eram panelas e mais panelas de arrubacão e muita cachaça consumida ao som
dos violões que ecoavam por todos os recantos da velha e aconchegante oiticica.
Mesmo cometendo injustiça é oportuno lembrar alguns frequentadores
em diversas gerações, que fizeram da “Oiticica de Ana” o seu ponto de lazer:
Pedoca de Deca, Aércio Pereira, Arnaldo Ugulino, Bebé de Antônio Gomes,
Curinha, Biró, Carlos Cesar, os irmãos Zeilton e Otacilio Trajano,
Manoelzinho de Deca, Amauri, Admilson, Paulo Queiroz, Mastonho, Gariba,
Verneck, Ridney, Beca, Gandhy, Gariba, Kleber Bandeira, Chico de
Maurita, Condida, Ademir Queiroga, Wellington, Beto Bandeira, Geraldo Águia,
Genário de Dora, José Tavares João Neto, João Maria de Cabina, Lairton, Pacote,
Leómarques, Luizinho Barbosa e também eu. Era um clube do Bolinha.
Ao final da tarde os farristas cambaleantes passavam de volta as suas
residências, trazendo nas mãos as panelas vazias e os violões que alegraram o
domingo de lazer.
Os jovens que povoaram aquela “bêra de rie” hoje são avós ou já se
foram, deixando para trás o cheiro do arrubacão e o som dos violões que insiste
em ecoar nos ouvidos dos saudosistas, que não abrem mão de relembrar tão boas
farras vividas nas sombras das “oiticica de Ana”.
Jerdivan
Nóbrega de Araújo. Escritor. Poeta. Advogado. Natural de Pombal/PB
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogodmendesemendes.blogspot.com
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