Texto de Ricardo Beliel
Foto de Denise Ribeiro.
Maria de Déia como era chamada Maria Bonita por parentes e vizinhos, viveu até a adolescência
nessa modesta moradia com onze irmãos e os pais, José Gomes de Oliveira, que a
construiu com as próprias mãos, e Maria Joaquina da Conceição, a Déia. Um de
seus irmãos, Ozéas Gomes de Oliveira formou família e continuou morando lá,
mas em outra casa, distante apenas um quilômetro em plena caatinga.
Durante
muitos anos se protegeram no anonimato, temendo represálias após a morte da
irmã. Nos anos 50 e 60, quando a temática do cangaço se tornou a preferida no
cinema brasileiro, viram quase todos os filmes que falassem da Rainha do
Cangaço, mas entravam e saiam do cinema em Paulo Afonso em silêncio, sem que
ninguém desconfiasse de seu parentesco com a protagonista da história. Em casa
se recusava a falar da irmã para seus 9 filhos e quando um, mais audacioso,
ousasse desvendar o tabu, apanhava sem dó. Seu Ozéas lembrava de um Seu
Virgolino amável com sua família, embora uma vez tenha ameaçado cortar a língua
de seu pai, quando chegou para acampar com a cabroeira em baixo das árvores do
seu pedaço de terra.
Maria estava casada com um primo, o sapateiro Zé de Nenê, que atendia às
encomendas de Lampeão fazendo chapéus e alpercatas de couro. "O casamento
não ia lá das pernas e nem os sapatos do marido garantiam o seu futuro",
lembra Seu Ozéas. Mulher de personalidade forte e independente, mesmo tendo se
casado aos quinze anos de idade, Maria não admitia a fragilidade e o gosto do
marido pela pinga e seguidas traições conjugais. Já, sua mãe, Déia, não
escondia uma calorosa admiração por Lampeão e, há quem diga, influenciou
intimamente a filha na escolha de sua paixão.
Oitenta anos e os primeiros sinais do Alzheimer separavam Seu Ozéas de suas reminiscências infantis. Lembrava vagamente de quando sua irmã se despediu da família para se lançar no oco do mundo. Contudo não se esqueceu de quando prenderam seu pai em Geremoabo e Lampeão ameaçou invadir a cidade para libertá-lo. Não foi necessário, pois o coronel João Sá, líder político da cidade, era mancomunado com o cangaceiro e bastou a ameaça para Virgolino ter seu sogro de regresso à casa.
Aos dois anos de idade, em 1930, pouco contato
teve com o bando de Lampeão e não confirmava, nem descartava, qualquer das
versões sobre como o casal mais famoso da história do cangaço se conheceu.
Muitos afirmam ser o cangaceiro Luis Pedro o responsável e intermediário,
fazendo comentários elogiosos ao seu capitão, depois de tê-la conhecido na casa
que hoje transformou-se em centro cultural.
O próprio Luis Pedro apaixonou-se
por sua beleza, mas aquietou-se e passou a vez para o chefe.
Maria quando
conheceu Lampeão foi amor à primeira vista. Largou a família, cinco anos de
casamento e com vinte anos de vida partiu da Malhada da Caiçara para ganhar o
mundo na companhia do seu grande amor. Maria do Capitão, no batistério do
cangaço, tornou-se a Maria Bonita das manchetes de jornais, dos cordéis e cantorias
das feiras.
Trecho do livro "Memórias Sangradas" de Ricardo Beliel e Luciana
Nabuco.
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