Por Rangel Alves da Costa
O Poço Redondo (município dos sertões sergipanos) que se tem hoje nasceu como Poço de Cima, depois foi Poço de Baixo, até passar a ter a denominação atual. E sem esquecer que, para os antigos, sempre foi Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, denominação, aliás, muito mais apropriada para um município que desde muito vem definhando sua fé.
Poço de Cima por que povoação surgida em local mais elevado e nas proximidades de cacimbas ou “poços” existentes no riachinho logo adiante. Poço de Baixo pela denominação dada às fazendas que surgiram mais abaixo e se espalharam pelas distâncias. Com as fazendas, um novo núcleo habitacional formado principalmente por forasteiros. E Poço Redondo por outro “poço” existente no Riacho Jacaré e que em época de seca grande servia para iludir a sede dos bichos. “Aonde vai compadre?”. “Vou ali no ‘poço redondo’ dar água ao gado”. Assim surgiu Poço Redondo.
Pois bem, como dito, Poço Redondo nasceu no Poço de Cima, povoação logo um pouco mais acima do centro da cidade e que ainda subsiste somente no nome, na Capela de Santo Antônio de Poço de Cima e em alguns toscos casebres que insistem em se manter de pé, e por verdadeiro milagre. E também por um cemitério que resolveram inventar por lá, vez que aquele local nunca foi espaço público para enterros. Somente os originários do local possuíam e ainda devem possuir o privilégio de ter descanso ao redor da capelinha.
Mas por que não preservar o que ainda resta das antigas moradias daquele embrião sertanejo e que foi lar de nascimento de muitas famílias ainda frondosas? Os Sousa, os Cardoso, os Lucas, os Feitosa, dentre outras, vingaram naquela povoação e somente depois desceram a estrada. Imaginar que um dia ali as famílias e suas posses, os currais, os rebanhos, os escravos, os senhores e as sinhazinhas, a religiosidade incontida de um povo. E missas na igrejinha logo construída.
O que se tem hoje, contudo, são apenas restos e escombros de uma história que jamais poderia ser relegada ao esquecimento. Três casinhas demonstram bem o triste momento chegado pelo Poço de Cima. A primeira e a mais destruída, fica logo no início da estrada para que vai em direção ao hoje cemitério do Poço de Cima. A segunda fica defronte à capelinha e a última, logo adiante, ao redor de uma imensa barriguda, servindo apenas como depósito de velharias. Todas caindo aos pedaços, com o barro despencando mais e mais a cada sopro do tempo, do vento e das trovoadas que surgem num tempo e noutro.
A primeira casinha praticamente já não existe mais. O barro foi deixando uma desalentada nudez e os varais de madeira recurvando aonde raízes sertanejas se firmaram um dia. O mesmo acontecerá com as demais acaso nada se faça. É apenas uma questão de tempo para que o Poço de Cima desabe inteiramente na sua última moradia. Por que deixar que tudo aconteça assim, sem que ninguém se preocupe em, ao menos, jogar uma mão de barro por cima daqueles restos?
Sim, atualmente prega-se a destruição de toda e qualquer casa de barro para que em seu lugar seja levantada uma de tijolos. Mas este não é o caso daqueles restos ainda existem no Poço de Cima. Aquelas casinhas têm de ser preservadas, cuidadas e mantidas, pelo próprio significado histórico que possuem. Os seus donos devem ser alertados para a necessidade de preservação e caso não possam - por dificuldades financeiras - fazer os reparos necessários, então que os poderes públicos ajam para que a história não desabe de vez e, mais tarde, tenha-se que construir uma que faça relembrar aquele passado tão grandioso para a história e a memória de Poço Redondo.
Eu, como nada posso fazer, apenas fotografo para que os retratos sejam o meu álbum de tristeza e dor. Mas também de felicidade: o prazer de ter convivido com a história primeira de Poço Redondo. Fato que certamente, pelo passo do descaso, não mais será vivenciado pelas futuras gerações.
Escritor
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