Apenas um olhar num velho. Será? Apenas um velho sentado à sombra do seu
entardecer. Será? Apenas um velho marcado de tempo e levando à mão uma bengala
como o próprio passo. Será? Apenas um velho retirado numa casa do outro lado do
centro da cidade e convivendo com seu mundo de poucas vozes e muita solidão.
Será? Ou apenas um velho já esquecido por tantos e só encontrado aí nesse seu
mundo-vida? Não. Não e não. Não é um velho, e sim um livro. Não é um
velho, e sim uma estrada tão longa que olhos outros já não conseguem avistar.
Não é um velho, e sim um homem e sua história. Não é um velho, e sim um senhor
e o que o mundo possa lhe reconhecer e respeitar. Não, jamais apenas um velho.
E sim o Senhor João Saturnino dos Santos, o João Capoeira, em seu retrato vivo
e já secular na idade.
Quantos terão sua glória, quantos viverão sua história,
quantos viverão tanto tempo para contar as proezas, as alegrias e as dores de
um mundo distante? Mas Seu João ainda conta.
Enedina ex-esposa do cangaceiro Zé de Julião
Vaqueiro na Fazenda Capoeiras,
convivendo ladeado por cangaceiros e volantes, irmão de Enedina de Zé de
Julião, um viajante do mundo, um passo espinhento e florido na terra sertão, um
pássaro-vida em plena liberdade de ser o que sempre desejou ser: apenas
sertanejo.
O cangaceiro Zé de Julião ex-esposo de Enedina
Digo-te, Seu João, honrada é a terra que ainda tem sobre o seu chão
um tronco ainda tão opulento e uma raiz tão belamente florida. Honrada é a
terra cujo filho não se esquece de lhe pedir a benção. Benção, Seu João!
Rangel Alves da Costa
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