Por Luiz Serra
CANUDOS. Uma
guerra brasileira na pós-República, que eliminou entre 25 e 30 mil patrícios às
margens do leito "serpeante" do Vasa-Barris, cinco mil militares e
mais de 20 mil jagunços tombaram. No meio da caatinga o peripatético Antônio
Conselheiro constituiu a maior vila do sertão baiano daqueles tempos:o arraial
do Belo Monte. Milhares de jagunços e militares foram enterrados naquele chão
ressequido da caatinga baiana.
Tudo começou
para muitos num equívoco pueril de compra de madeiras para construção da igreja
nova, que poderia ser solucionado via de diálogo com autoridade local. No
confrontar o líder messiânico do arraial do Belo Monte, a turba de fanáticos
reagiu a seu modo, e nos dias seguintes foram relatados pequenos saques a
armazéns nas vilas das redondezas.
Cenário
que um dia foi a da guerra do fim do mundo...Canudos...milhares de
jagunços e militares foram enterrados no chão ressequido da caatinga
baiana... História Ilustrada
Havia o
chefe-geral, o marechal dos jagunços, João Abade e os chefes-de-piquete, que
lideravam até 30 jagunços armados de foice, facão e espingardas lazarinas, como
Pedrão da Várzea da Ema e Zé Venâncio, o terror da Volta Grande.
O sertão
tingiu de sangue. Custosos e inapeláveis avanços de quatro expedições do
Exército brasileiro com batalhões de infantaria e artilharia reforçados com
pelotões das polícias do Amazonas, do Rio Grande do Norte e de São Paulo, além
de uma guarnição de jagunços da polícia baiana.
Foto
da Quarta Expedição parte do 24º Batalhão de Infantaria.... alguns soldados com
as vestes rotas e descalços, pela jornada de fome, sede e combates intensos no
sertão baiano, por que passaram.....set 1897... Fotógrafo correspondente da guerra, Flávio de Barros
(Biblioteca do Exército).
Consideradas
três derrotas fragorosas das forças republicanas e a derradeira – a custo –
conseguiu abater os conselheiristas sob os bicos de aço dos canhões Krupp.
Memorável
referência literária: Os Sertões de Euclides Pimenta da Cunha.
TRECHOS de
nosso próximo Ensaio:
“Na realidade
no espaço ocupado do arraial de Canudos era uma antiga fazenda de gado com uma
edificação em estado de abandono. O vasto terreno pertencia ao município de
Monte Santo e, por volta de junho de 1893, Antônio Conselheiro iniciou a
ocupação do local junto a seus prosélitos, estabelecendo uma comunidade de
cerne religioso e mesclado ao discurso contra Republicano. De pronto substituiu
o topônimo do lugar de Canudos por Belo Monte”.
Foto
de mulheres sertanejas que defenderam o arraial do santo Conselheiro... facões jacaré... História Ilustrada.
“O arraial do
Belo Monte ficava de entradas abertas. Não se reclamava antecedentes de quem
chegava. Se chegou até lá é por que veio de “alma liberta”, num dos ditos da
seleta de santo Conselheiro. Além do mais acolhiam o desejo de contemplar a
imagem de Cristo. Nisto chegavam famílias de retirantes, gente maltrapilha e
sofrida, também indivíduos de má fama, acorriam para lá. A todos era oferecido
um teto. A comuna tinha suas obrigas, incumbências e preceitos do chefe do
povo, João Abade, como assistir aos ofícios e ladainhas, e no cotidiano eram
vedados comportamentos como os referentes a embriaguez, por exemplo”.
Sobreviventes
repetiam que o peregrino só vivia de "fazer o bem" e os exortava
"à salvação das almas". Tudo constituiu-se numa inversão de
conceitos, e a destruição daquele que passara a incomodar a sociedade do
litoral foi determinada.
Sobreviveram Pedrão,
à esquerda, que foi da Guarda Católica do Conselheiro, além de chefe-de-piquete
nas batalhas, e o jagunço Manoel Ciríaco, ambos chegados a quase cem anos... História Ilustrada
As expedições
(primeira) tenente Pires Ferreira (1896); (Segunda) Major Febrônio de Brito
(1897); (Terceira) Coronel Moreira César (1897); e (quarta) General Arthur
Oscar (1897), fizeram o esforço heroico e ingente de defender a República
contra a guerrilha quase invicta de Conselheiro.
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