Seguidores

segunda-feira, 23 de março de 2020

MARIA BONITA E DADÁ

Por Francisco Alvarenga Rodrigues
Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita) e Dadá mais reais através das cores de Rubens Antonio
(Foto: Rubens Antonio/divulgação)

Maria Bonita e Dadá eram dois polos opostos. Maria, apesar de ser a companheira do chefe do grupo, não se prevalecia disso, comportava-se de forma cordata, sóbria, até humilde. Mesmo quando dava uma ordem, fazia-o pedindo por favor. 

Dadá, pelo contrário, conforme observa Rodrigues de Carvalho, não era apenas intolerante e intolerável, mas rancorosa e perversa qual uma pantera, de modo que, dentre as mulheres que fizeram parte do bando de Lampião, era a que merecia, com justiça, o qualificativo de bandida, tendo muita mulher de fazendeiro dançado o sorongo na ponta de sua famigerada faquinha de cabo de prata, com a qual furava as vítimas devagarinho, mordendo o lábio inferior, enquanto os olhos cintilavam de sadismo. 

Nas festas, Maria Bonita dançava não só com Lampião, mas também com outros cangaceiros e com coiteiros amigos. Nas danças improvisadas nas fazendas, ela mesma chamava o dono da casa ou os filhos dele para dançar, o que eles faziam se pelando de medo, com receio de que Lampião ficasse com ciúme. 

Os cabras divertiam-se quando Maria fazia troça das zangas e manias de certos companheiros. Por exemplo, os apelidos. Embora fosse comum todo mundo ter um apelido, Luís Pedro, o braço direito de Lampião, não gostava de ser apelidado. Mas ele tinha, claro, apelido: Caititu. Quando, nos momentos de descontração do bando, no meio de todo mundo, Maria Bonita chamava Luís Pedro de "Caititu", a cangaceirada adorava. Ela podia; eles, não. 

Outro que implicava com o apelido era Mané Moreno. Quem quisesse ver o diabo era só chamá-lo de Bico Aberto (por ser banguelo – não tinha os dentes superiores da frente). O feroz cangaceiro Juriti, além deste tinha mais dois apelidos – Gavuzinho e Maçarico. Gavuzinho ele aceitava, mas não tolerava ser chamado de Maçarico, porque soava como “marico" (maricas, efeminado). Mas quando era a mulher do Capitão quem pronunciava o nome proscrito até ele achava graça. 

Corisco era contra esse negócio de mulher no bando. Quando entrava um novato, ele avisava:

- Venha só. Nun traga muié. De muié pra dá trabaio já basta a mia.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário