Por José
Mendes Pereira
A inveja está presente em todas as classes sociais e até mesmo em todas as espécies de animais, porque, quando um ver outro capturar uma presa quer tomar de imediato, como se dissesse: “- Você pegou, mas é meu!”. E parte para o ataque do toma.
Se você
observar o comportamento de um animal, por exemplo, uma rês (eu vivi no
campo e conheço as astúcias de muitos deles), que geralmente tem ao seu lado
uma amiga ou amigo, ali, o ciúme doentiu está presente, que não quer nem que outra rês
fique perto do amigo ou da amiga. E assim caminha os seres vivos completamente
tomados pelo ciúme. A inveja nasce até mesmo por coisas que não têm valor
nenhum. E o ser humano é assim mesmo, pior do que os próprios animais. Inveja até o
lugar que o outro se senta, se deita, faz refeições, frequenta, debocha para acabar uma amizade...
O difícil é nós sabermos o que leva um sujeito ter inveja de um simples objeto, quase sem valor, chamado chocalho, que
só serve mesmo para ser colocado no pescoço de uma rês e soltá-la no campo, e com o seu som,
indicar ao vaqueiro em que direção está ruminando o animal chocalhado.
Rostand Medeiros
O historiógrafo
e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros escreveu o que segue sobre a grande
inveja do fazendeiro José Saturnino, que teve dos Chocalhos dos animais
de seu José Ferreira da Silva, pai dos famosos cangaceiros Lampião, Antonio,
Livino e Ezequiel Ferreira.
José Saturnino primeiro inimigo de Lampião
Vamos apreciar
o que diz o Rostand:
Ferreiras e
Nogueiras eram vizinhos. Um parente dos Nogueiras José Saturnino se mostrou
“despeitado” quando viu que o gado dos Ferreiras andava na caatinga com uns
chocalhos bonitos, dourados, comprados em Juazeiro do Norte, no Ceará.
Chocalho dourado
Até
então, todos os chocalhos que chegavam à fazenda Serra Vermelha eram negros e
sem graça. No sertão, onde o gado é criado sem cercado, o chocalho funciona
como um meio de o vaqueiro localizar bois, vacas e cabras. Saturnino invejando, amassou o chocalho do gado dos Ferreiras e sem eles nas suas reses perderam bois e vacas.
Vaqueiro e seu amado cavalo
Para não ficarem
por baixo os Ferreiras deram o troco, amassando chocalho do seu gado.
Saturnino não gostou; capou o cavalo de Virgulino. Virgulino cortou os rabos
das vacas de Saturnino. A briga cresceu e o juiz de Vila Bela obrigou os
Ferreiras a se mudarem. Foram morar no distrito de Nazaré, hoje Carqueja, com
uma condição; nem visitavam Serra Vermelha, nem Saturnino entrava em Carqueja. Mas
José Saturnino quebrou o acordo e os Ferreiras não gostaram.
Lampião e seu irmão Antonio Ferreira
Começaram a
fazer arruaças em Carqueja. Foram obrigados a se mudarem, desta vez para Alagoas,
onde um amigo de Saturnino, a pedido deste, matou o pai de Virgulino e feriu um
irmão.
Tenente Zé Lucena responsável pela morte de José Ferreira da Silva pai dos Ferreiras.
Virgulino decidiu vingar-se.
Integrou-se ao
bando do cangaceiro Sinhô Pereira e depois começou a agir por conta própria,
com seu próprio bando. Seu poder cresceu, ele passou a ser temido até pelos
governadores.
Em 1926,
chegou a propor ao governo de Pernambuco dividir o Estado em dois: à capital
caberia a administração do litoral, enquanto ele reinaria sozinho, no Sertão.
De cangaço em cangaço, Lampião terminou por ter a cabeça colocada a prêmio por
50 contos de réis.
Cabeças decepadas dos cangaceiros Lampião, Maria Bonita e seu bando
Em 1938, seu
bando foi desarticulado, ele e seus companheiros foram degolados e suas cabeças
exibidas em praça pública.
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