NOTÍCIA DESAGRADÁVEL PARA DELUZ
Se para a família de João Marinho as coisas não andavam bem nem tão pouco para Deluz. Recebera uma triste notícia que acontecera no seio da sua família. A notícia trágica chegara de Pernambuco envolvendo a sua mãe e um irmão, os quais haviam falecidos num acidente de automóvel. Sem alternativa, o sargento Deluz disse que Iria procurar o causador do acidente e o mataria sem nenhuma compaixão. Com isso, fez juramento e marcou a data da viagem e da vingança. E também, logo que ele retornasse de Pernambuco caminharia até o Brejo e, aí sim, a vingança seria devastadora.
Mas o Deluz nunca imaginou que as suas palavras ofensivas contra a família do sogro poderiam caminhar em busca do Brejo e chegarem distorcidas na fazenda do João Marinho, através de um indivíduo qualquer. E não foi diferente. Chegaram mesmo antecipadas.
João Marinho ciente das ameaças do genro Deluz viu que só tinha uma maneira para resolver o amaldiçoado problema, muito embora precipitada. Mesmo o velho sem querer complicar os filhos, mas era o jeito, reuniu-os com a finalidade de uma decisão que acabasse de uma vez por toda com o inferno provocado por aquele delinquente.
Agora os filhos queriam saber do pai que solução ele tinha imaginado para afastar definitivamente o Deluz da sua família. Mesmo contra vontade, porque nunca tinha pensado que um dia colocaria os seus filhos no mundo do crime, o mais viável e com urgência seria matar o delegado cruel e arrogante. Ou eles assassinariam o delegado, ou um dia o militar os matariam como havia prometido. De imediato os filhos acataram a decisão do pai.
E Dalva e suas duas netas como ficariam? Nem a filha e nem as netas morreriam de fome. Onde comem dois, comem dez, pensava ele em seu “eu”. As três tinham o querido pai e avô para cuidar delas muito bem! Querendo Deus não morreriam de fome. O pior eram os horrores que passaram nas mãos daquele perverso e arrogante.
MARIA DALVA VOLTA AO TEMPO PARA RECORDAR O DIA DO SEU CASAMENTO.
É claro que a Dalva esposa de Deluz mesmo com todo sofrimento que passara em suas mãos iria sentir a sua morte, já que era casada com ele no religioso. E além do mais, pai das suas duas filhas queridas e amadas por todos da família.
Maria Dalva nem imaginava que o pai e os seus irmãos Totonho e Jonas tinham planos bem elaborados para assassinarem o seu esposo Deluz, Enquanto não sabia, pensava no dia do seu casamento que fora o momento mais importante de sua vida. Na Igreja matriz ela usando um lindo enxoval confeccionado fora do lugar. Os seus padrinhos elegantemente sorriam compartilhando a sua felicidade. Uma festa de arromba patrocinada pelo pai, que mesmo não acreditando na sua felicidade ao lado do Deluz, mostrava-se satisfeito. Nenhuma garota do Brejo foi capaz de provocar inveja às mocinhas que tentavam ganhar os beijos e abraços do famoso delegado Deluz. Só ela, a grande felizarda de ser acompanhada por ele até ao altar. Lembrou do momento em que o Deluz chegou à Igreja, metido num terno e de um bom linho.
Assim que o padre encerrou a celebração matrimonial caminharam em carros para a casa do pai, e lá foi uma festa de arromba, oferecida à toda vizinhança. Após o jantar, um som de acordeom, zabumba e triângulo estrondou na grande sala. Foi uma festa para homem nenhum botar defeito. A mãe orgulhosa não parou um só instante, levando pratos e mais pratos para os convidados. Sim Senhor!
De repente a Dalva pôs-se a perguntar? Por que o seu casamento tinha dado errado? Casara-se com um grande homem, famoso no seu trabalho, um dono da lei de nome e renome. Mantinha a ordem no lugar e por último, mudara o seu comportamento por total. Ela não se julgava culpada. Tinha vindo para sua companhia virgem, era uma mulher linda, nunca havia se entregado aos rapazolas do lugar e nem de lugar nenhum. O respeitava como sendo a sua senhora e homem nenhum era capaz de desmoralizá-la com assédios. Por último fora rejeitada por um homem que tanto tinha jurado o seu amor para sempre. Teria jurado somente da boca para fora? Ou estaria de olhos na pequena fazenda que o pai tinha?
NÃO TENDO OUTRA SOLUÇÃO O DELEGADO DELUZ VAI MORRER.
Enquanto a mãe e as filhas estavam no chiqueiro separando a criação as que iriam pastar e as que ficariam presas no cerco o sogro, genro e filhos terminavam de tramarem o assassinato do Deluz. Eles sabiam muito bem o que poderia acontecer depois deste assassinato, mas não queriam saber de nada, pelo menos por enquanto. Tudo combinado, acertado e não desistiria do plano. Era só esperar a oportunidade que viria com certeza.
Jonas filho do João Marinho teria que acompanhar os passos do maldito cunhado delegado Deluz, e não podia deixá-lo um só instante sem acompanhá-lo. Caso isso acontecesse de perder os seus passos o Deluz não morreria naquele dia.
Já o João Maria Valadão foi incumbido de fazer a execução do perigoso e vingativo militar. Fera que atormentava muita gente no Brejo e principalmente os familiares da Dalva sua esposa precisa que morrer.
Como eu falei anteriormente e você lembra muito bem que o carrasco Deluz já tinha prometido assassinar o causador da morte de sua mãe e irmão, para completar, prometeu que ao retornar para Sergipe iria trazer consigo um irmão tido como um dos mais sanguinários pistoleiros de lá. O irmão era famoso, chamava-se Otávio e com outros bandoleiros iriam atacar tirar a tranqüilidade do Brejo, não deixando lá nem um vivente. Eram os comentários que circulavam pelas ruas, bodegas e bares de Canindé.
Que infelicidade do Deluz! Marcou até a data e finalmente a viagem chegou. Jonas filho de João Marinho começou a vigiar o delegado. A saída seria pela manhã de sua fazenda com destino ao Canindé, e de lá iria satisfazer o seu “EU” em forma de vingança. João Maria Valadão foi avisado, e por volta da meia noite os Marinhos acompanhados de uns senhores chamados de: Vicente da Mata Grande, Mané Vigia e Cícero Cupira saíram da fazenda e tomaram rumo para o Araticum, na intenção de tocaiar o valentão Deluz e derrubá-lo do cavalo com tiros e deixá-lo já pronto para o enterro.
Era uma terça-feira do dia 30 de setembro de 1952. O dia vinha amanhecendo e os primeiros raios solares derramavam-se sobre a vegetação seca da caatinga nordestina. Deluz se preparou para viajar. O seu invejado cavalo pampa ronceiro, que por sinal era muito bem tratado e chamado Colonho, já selado, ainda estava na cocheira comendo a ração.
O cunhado Rosalvo Marinho era o único que Deluz tinha amizade no lugar, este iria cuidar da fazenda até o retorno do delegado.
(Aqui abro um espaço para informar que este Rosalvo Marinho era aquele que o cangaceiro Juriti estava na sua casa quando o sargento Deluz o prendeu e o levou até a sua fazenda Araticum e lá, o matou queimado dentro de uma coivara. Não sei informar que parentesco tinha o Rosalvo Marinho com o João Marinho, já que têm o mesmo sobrenome).
Assim que o cavalo terminou de se alimentar Deluz montou-se e chicoteou-o sem violência. O cachorro tentou acompanhá-lo como se estivesse adivinhando algo, mas ele não o deixou, raiando-lhe dizendo que voltasse. O cachorro o obedeceu voltando com o rabo entre as pernas.
Deluz encruzou o rifle no cabeçote da sela e em seguida deu uma cuspida saindo da boca uma saliva preta e grossa de fumo de rolo. Naquele dia para quem quisesse viajar o amanhecer estava frio e saudável, pois o clima era maravilhoso. Deluz caminhava de encontro à morte, porque os seus algozes estavam tocaiados na beira da estrada menos de um quilômetro. O comandante da empreitada era o João Maria Valadão que conduzia um rifle 44, papo amarelo.
Vicente da Mata Grande, Mané Vigia e Cícero Cupira com seus bacamartes assassinos estavam preparados para matar o cruel Deluz. Os vingativos estavam escondidos dentro de enormes moitas. Não havia possibilidade do marcado para morrer vê-los de forma alguma e nem de escapar daquele maldito castigo.
O sargento Deliz não tardaria aparecer na curva da estrada e teria que passar por um limpo ao lado de um grande pé de cipó-de-leite. Os executores não desgrudavam a atenção, completamente bem armados e preparados para eliminarem a fera humana.
Assim que a vítima saísse da curva e ocupasse o descampado da vereda seria alvejado por balaços imperdoáveis. Vicente e seus companheiros estavam amparados em umas touceiras de quipás, e João Maria Valadão havia se amoitado no cipó-de-leite. A distribuição dos matadores estava certíssima, e os seus planos seriam impossíveis darem errados.
Quando o sujeito é valente geralmente o boato sai que tem o corpo fechado. Com Deluz não foi diferente e todos diziam que ele era um desse, e achavam que jamais seria atingido por balas.
O trabalho teria que ser bem calculado e tomado todas as precauções necessárias. A única coisa para os vingativos era não errarem. O erro seria perigo para a empreitada. Deluz tinha que ser castigado, pois desde muito tempo era merecedor.
Ao longe avistaram o perverso que vinha caminhando. Vez por outra lentamente o chicote subia e descia sobre a parte traseira do cavalo. Os caçadores da suçuarana estavam observando sem retirarem os olhos da presa. As armas estavam engatilhadas e apontadas para o corpo da caça. O animal e seu cavaleiro se aproximaram mais ainda. A grande moita de cipó-de-leite que servia de esconderijo estava ali, à sua frente, na beirada da estreita estrada.
Dr. Archimedes Marques, Alcino Alves Costa e Elane Marques - https://www.panoticias.com.br/arquivo/2012/11/a-saudade-que-fica-do-caipira-de-poco-redondo/
Diz Alcino Alves Costa que logo o cruel delegado apareceu e mais adiante alcançou o limpo, dois grandes tiros estrondaram na imensidão do sertão ecoando ao universo. O perverso militar caiu do animal. Seu corpo desceu da sela do cavalo como se fosse uma tonelada de pesos. O musculoso Deluz caiu desajeitado, totalmente morto sobre o chão. Os vingadores se aproximaram do corpo que antes era o delegado do povoado. O valentão daquela terra estava estendido ao chão. Ao seu redor, um riacho de sangue fresquinho aparentava o rio São Francisco.
Diz Ivanildo Silveira que os matadores do Amâncio Ferreira da Silva o delegado Deluz não tinham pressa de se ausentarem do local. Minutos depois, lentamente retiraram-se do ambiente como se nada tivesse acontecido.
Finalmente chegou ao fim a história de Amâncio Ferreira da Silva o temido e carrasco sargento Deluz. Ele foi enterrado no cemitério da antiga Canindé.
Fonte de pesquisa: Lampião Além da versão Mentiras e Mistérios de Angico. Alcino Alves Costa
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário