Por Sálvio Siqueira
“O Governo é bandido, porque mata a gente de fome. No sertão mata-se à faca, ou com bacamarte, mas não de fome. Isso é perversidade. Aqui, os presos passam dias sem comer e, quando soltos, são obrigados a furtar. Cadeia é a escola do crime.”
Relato referente a parte da entrevista publicada no jornal “O Estado de São Paulo” cedida ao corresponde Mário Melo pelo afamado chefe cangaceiro quando o mesmo já encontrava-se preso na Casa de Detenção do Recife, na Capital pernambucana.
Nas primeiras horas do dia 02 de dezembro de 1914 o famoso chefe cangaceiro de alcunha Antônio Silvino, escoltado, adentra pelos corredores da Casa de Detenção do Recife contendo um ferimento na altura do tórax, resultado de sua última troca de tiros com a Força Pública pernambucana comandada pelo Alferes Teófanes Torres, necessitando de cuidados médicos.
Segundo o jornal “Diário de Pernambuco” em sua edição do dia 02 de dezembro de 1914, Silvino fora atendido, na enfermaria da Casa de Detenção, pelos médicos Dr. Vieira da Cunha Filho, Dr. Tomé Dias e Dr. Odilon Gaspar. Relatos destes ao vespertino citado discorre que o paciente estava irrequieto, com dores e apresentando espasmos intermitentes. Que a leitura de seus batimentos cardíacos, pulsação, estava, naquele momento, com a contagem de 112 pulsações por minuto. O escritor Sérgio Dantas, em seu livro “Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito”, relata que o procedimento médico iniciou-se com aplicações de seis ventosas secas. Sendo que quatro destas foram colocadas na parte anterior, frente, do tórax e as demais na extremidade posterior, costas do paciente. O autor ainda refere que fora feito uma medicação a base de antibiótico a fim de conter a inflamação provocada pela infecção do ferimento. Dantas ainda nos diz que a noite o ex-cangaceiro era acometido por uma febre alta e intensa, levando-o ao delírio, tendo seus médicos que administrarem morfina e hidrolato de canela injetáveis.
No dia 04 de dezembro daquele ano, um dos médicos responsáveis pelo paciente, Dr. Vieira da Cunha publica o seguinte Boletim Médico, o qual é publicado pelo jornal “A República”:
“O estado de Antônio Silvino não é desesperador, mas ainda é grave. Provavelmente só daqui a vinte dias, pelo menos, poderá suportar interrogatórios. Não se pode confirmar a possibilidade de infecção tetânica. As contrações espasmódicas de Antônio Silvino são atribuídas ao seu temperamento desesperadamente nervoso”.
Apesar do que ‘reza’ o BM, o quadro clínico do paciente se agrava nos dias seguintes. Tanto que o próprio solicita a presença de um padre para que lhe dê a Extrema Unção. O Capelão do Presídio, a época, era o Frei Norberto Tolle, que atendeu a solicitação do prisioneiro. Dantas nos relata que “o preso estava visivelmente afetado pelas sucessivas infecções. Recebeu, porém, os Sacramentos e rogou ao Reverendo que o perdoasse pelos crimes que cometeu.”
Se um doente precisa de médico para aliviar suas dores, o pecador, o criminoso, precisa, necessita, de orações, de um pedido de perdão e a presença de um sacerdote para aliviar sua consciência.
Os dias passam e, aos poucos, o risco de morte não mais existia sobre as perspectivas médicas quanto ao paciente de número 1.112, de ficha-prontuário 959. No dia 04 de janeiro de 1915 recebe “alta médica”. A partir daquele momento, o cangaceiro Antônio Silvino deixa de existir e retorna a tona o homem sertanejo registrado com o nome de Manoel Baptista de Mores,, com residência fixa na pequena cela de número 35, sito ao “Raio-Leste” da Casa de Detenção do Recife.
Fonte: Obras e jornais citados.
Foto: Cariri Cangaço, O Malho, Tok de História
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