Zulmira Lantyer de Araújo Cajahyba nasceu no dia 08 de de maio de 1901, durante a chamada República Velha, cujo Presidente do Brasil era o advogado Manuel Ferraz de Campos Sales (1898/1902), e no âmbito municipal, o intendente era o Sr. José Martins Leitão (1899/1904), aproximadamente quatro anos após a Guerra de Canudos (1897), período em que Queimadas serviu de base logística e militar para as tropas federais que desembarcavam na estação ferroviária.
Filha do casal: Francisco Lantyer de Araújo Cajahyba e Joaquina Nonato Borges Cajahyba, Zulmira Lantyer atravessou períodos importantes da história mundial (As duas Grandes Guerras, os períodos do pós-guerra, a Guerra Fria, etc.), da história do Brasil (A transição da República Velha para a Era Vargas "Estado Novo", a Redemocratização, a Ditadura Militar, os movimentos pelas Diretas Já e a Constituição de 1988), e da história municipal (as duas Grandes Enchentes 1910/1911, as passagens de Ruy Barbosa e de Lampião por Queimadas, etc).
D. Joaquina Lantyer, mãe de Zulmira, deu à luz nove filhos: Dejanira, João, Celso, Solon, Zulmira, Osvaldo, Valdemar, Cajahybinha e Adalgisa. Os dois últimos faleceram ainda crianças.
Zulmira Lantyer cursou o ensino primário em Queimadas, antes chamado de Ensino Elementar.
Aos dezessete anos, Zulmira foi eleita a senhorita mais bonita de Queimadas, com 287 votos, segundo a publicação no jornal da época, "A Nuvem" de 28 de dezembro de 1918.
Durante a passagem de Lampião e seu bando por Queimadas, Zulmira Lantyer que ensaiava uma peça teatral, reconheceu os cangaceiros e tentou avisar aos moradores, porém sua tentativa foi em vão.
Zulmira Lantyer era uma mulher bastante atuante, como relata a sua filha, Marly Lantyer:
" Ela atuou como atriz no drama "Ninho de Amor" em 1929, ano da passagem de Lampião por Queimadas. Realizou dois cordões carnavalescos, como eram chamados na época, intitulados "Cordão das Havaianas", na década de 40, e o outro, "Falenas Douradas", onde contratou a orquestra de Jazz, Apolo, da cidade de Juazeiro, Bahia. Este último cordão teve um concorrente: "As Princesas", organizado por um senhor cujo apelido era Mindú."
Zulmira foi a introdutora da Festa de São Marçal em Queimadas, na década de 30, na casa do Sr. Pedro Gonçalves Primo, na Praça da Bandeira, conhecida na época como Rua de Cima, e atualmente Everaldo Procópio.
Ela também foi membro da diretoria do Elite Clube, onde organizou a Festa da Primavera, com a contratação da orquestra Turunas da cidade de Alagoinhas, Bahia."
Zulmira Lantyer exerceu a função de voluntária, catalogando os prontuários dos pacientes do Hospital Terezinha Salles, situado no Alto da Jacobina, e que tinha como diretor, o Dr. Reinaldo Vicente de Sales, médico e político de grande destaque. Em uma das gestões de Dr. Reinaldo, como prefeito municipal, Zulmira Lantyer colaborou com a distribuição da merenda escolar entre as famílias carentes.
Nas Trezenas de Santo Antônio, Zulmira era convidada pelos ferroviários para ornamentar o altar na noite em homenagem a eles.
No dia 20 de janeiro de 1933, Zulmira Lantyer casou-se com Júlio de Oliveira Rêgo, passando a se chamar Zulmira Lantyer de Araújo Rêgo. Desse matrimônio nasceram dois filhos: Airton Luiz Lantyer Rêgo e Marly Lantyer Rêgo, hoje Marly Lantyer Azevedo.
No dia 05 de fevereiro de 1955, ela mudou-se para Alagoinhas para que a sua filha, Marly Lantyer, completasse os estudos iniciados nas Sacramentinas em Senhor do Bonfim.
Zulmira Lantyer também foi bastante atuante na política, uma mulher à frente de sua época.
Ela participou ativamente das ações da UDN (União Democrática Nacional).
Com a elaboração do primeiro Código Eleitoral do Brasil, em 24 de fevereiro de 1932, houve a criação da Justiça Eleitoral, de eleições padronizadas e voto obrigatório, secreto, universal, incluindo as mulheres, todavia esse direito era concedido apenas a mulheres casadas, com autorização dos maridos, e para viúvas com renda própria. Essas limitações deixaram de existir apenas em 1934, quando o voto feminino passou a ser previsto na Constituição Federal.
Com o direito assegurado, Zulmira Lantyer se candidatou ao cargo de vereadora pelo partido "Tudo por Queimadas", sendo a primeira mulher eleita e a ocupar uma cadeira no Legislativo Municipal.
A participação de Zulmira Lantyer na política, consta numa tese de Doutorado apresentada na UFBA (Universidade Federal da Bahia), com o título "Imagens reveladas, diferenças veladas" de Cláudia Andrade Vieira. Na tese, Zulmira Lantyer é destacada como liderança feminina e também como uma das quinze vereadoras eleitas no interior da Bahia nas eleições de 1934.
Em nota de rodapé, da mencionada tese, a pesquisa baseou-se em dados obtidos do Livro de Atas das reuniões ordinárias, extraordinárias e solenes da Federação Bahiana pelo Progresso Feminino (FBPF), 1931-1948. p. 12 e 13.
A senhora Zulmira Lantyer faleceu no dia 25 de junho de 1989, com 88 anos de idade, 08 meses depois da promulgação da Constituição Federal de 1988.
Zulmira Lantyer foi uma mulher empoderada, ativa e com importante participação social, cultural e política na história de Queimadas. Ela partiu deixando um importante e rico legado!
Zulmira Lantyer faz parte de nossa história. Da história de Santo Antônio das Queimadas.
Texto: Murilo Varjão
Colaboração: Marly Lantyer
Editado em 11/10/2020
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