E continua Joaquim Pereira da Silva, "a interação entre as duas sedes sempre foi muito normal. Fosse a cavalo ou a pés, nas veredas de ligação entre as duas sedes tinha alguém levando ou trazendo notícias/recados.
"Coincidentemente, as duas últimas visitas de campo na preparação do Cariri Cangaço de Serra Talhada a comitiva fez o mesmo trajeto que fez o pequeno grupo em número de sete, dos irmãos Ferreiras (Antônio, Livino e Virgolino), Antônio Rosa, Primo, Meia Noite e João Mariano indo da Pitombeira para Carnaúba para se juntar ao bando de Sinhô Pereira em agosto de 1920
... acontece que eles se apresentaram a Isidoro Conrado , na Pitombeira, inclusive, na ocasião gerou um certo alvoroço pois quando vistos não sabia se cangaceiros ou volantes (para os Pereiras não fazia diferença, ambos causavam medo/terror na época); o próprio Isidoro foi chamado e ao observar disse: tenham calma, estão se aproximando de forma ordeira, ou seja, em fila indiana e mão nas bandoleiras dos seus rifles 44 ou de suas armas. Chegaram, se apresentaram e disseram o motivo, daí foi enviado à campo um vaqueiro de confiança para localizar o bando de Sinhô e foi fácil, ali próximo na Fazenda Carnaúba o encontrou e resto da história todos nós sabemos; nascia logo em seguida o Mito Lampião, assim também foram as duas últimas visitas da Pitombeira para a Carnaúba", conclui Joaquim Pereira.
Era 6 de novembro de 1919, a volante de Zé Caetano; formada por cerca de 70 homens, formada por militares, contratados e civis; dentre esses estava Sindário Carvalho; recebe a informação que havia grande concentração de cangaceiros na região da serra da Forquilha, perto de da atual Mirandiba e de Tupanaci ;comandavam a tropa além de Zé Caetano, os tenentes Manuel da Costa Gomes e Augusto de Lira Guedes. As tropas chegaram ao coito do bando com a luz do dia e cercou uma casa em escombros onde a volante desconfiou que seria onde estavam os cangaceiros. A desconfiança se confirmaria logo em seguida. Com a proximidade da tropa os cangaceiros liderados por Luiz Padre abrem fogo e de imediato tombam oito militares, um desses acabou morrendo e os outros sete ficaram feridos. Passado o primeiro choque do combate os homens comandados por Zé Caetano readquirem forças e partem para o tudo ou nada contra os cangaceiros, conseguem invadir os escombros da antiga casa provocando a retirada dos cangaceiros. No final do dia chegaria ao local do fogo, o reforço de Theophanes Torres, mas já não havia combate. Sinhô Pereira apesar de presente na área do fogo, não participou diretamente do mesmo, estava com outro grupo de cangaceiros distantes da casa que havia sido cercada, onde se encontrava os homens de Luiz Padre...
CERCO AOS CANGACEIROS E TIROTEIO COM A POLÍCIA NA SERRA DA FORQUILHA, por Valdir Nogueira.
No dia 6/11/1919 o capitão José Caetano de Melo, auxiliado pelos tenentes Manuel da Costa Gomes e Augusto de Lyra Guedes, cercou o grupo de bandidos chefiado por Luiz Padre e Sebastião Pereira, na Serra da Forquilha, nos limites do distrito de Queixada, Belmonte, com Vila Bela, travando-se cerrado tiroteio entre a força e os bandidos. A força foi bastante sacrificada. Os bandidos conseguiram fugir deixando um companheiro preso e gravemente ferido. Um soldado morreu na luta, ficando feridas oito praças. A força policial sofreu uma grande derrota nesse confronto.
LUIZ PADRE ESTÁ FERIDO? Com essa manchete publicou o jornal A Província, na ed. 311, p.1, de 15/11/1919: “Estou informado com fundamento que o bandido Luiz Padre, saiu ferido levemente na região frontal em consequência do tiroteio havido em 6 do corrente. Saudações. (a) – José Caetano, Comandante Força Volante.” No Folheto XVII, intitulado A Primeira Caçada Aventurosa, do Romance D’ A Pedra do Reino e o Príncipe do sangue do vai-e-volta, 2ª Ed. 1972, p. 83, o escritor Ariano Suassuna, rememorou esse acontecimento: “Saímos, tomando o lado do qual se avista, do terraço (do casarão da fazenda Carnaúba), a célebre “Serra da Forquilha”, aquela na qual um dos Pereiras mais valentes do nosso tempo, Sinhô, Chefe venerado de Virgolino Ferreira Lampião, tinha obtido vitória num sangrento combate contra a Polícia e os Carvalhos”.
Sobre esse último confronto da polícia com os cangaceiros, publicou o jornal A Província em 5/12/1919: “E em nome da justiça e do direito, levado pelo sentimento de humanidade que venho pedir agasalho no seu jornal, para estas despretensiosas considerações, a respeito dos últimos acontecimentos de que tem sido teatro Vila Bela; considerações que apenas visam fazer ecoar, ai, com clareza, os tristes fatos que se vem desenrolando aqui e, sobretudo, patentear aos leitores o miserável, triste e desolador estado a que se tem arrastado este município em dias passados, próspero e florescente. Parece que sobre esta região malfadada pesa um tremendo castigo da justiça divina. E é tal, senhores redatores, o estado moral desta malograda cidade sertaneja, que parece achar-se contaminado tudo, saturado o próprio ambiente deste instinto de vingança, de ódios, de paixões e de bastardos interesses.
Preciso se faz, portanto, ser homem forte, de fibratura comum, para se não deixar vencer num meio assim pelo ímpeto das paixões e dos interesses próprios e particulares que fascinam e arrastam os espíritos fracos. É sob a dolorosa impressão de um espetáculo triste que o humilde rabiscador destas linhas escreve. Ao findar da tarde do dia de ontem, 9 do corrente, Vila Bela toda se alvoroçou e de todas as portas das casas da Rua Grande, curiosos procuravam lá para as bandas do poente observar o lúgubre cortejo que se avizinhava, cortejo de soldados estropiados a passos tardos, desprevenidos, sujos e estragados que ladeavam duas redes, uma carga e cavaleiros; eram os feridos do último encontro da força com Sebastião Pereira e Luiz Padre. Não se descreve, nem se pode avaliar o que foi a entrada dessa força, desbaratada pelos cangaceiros.
Um espetáculo não podia ser mais enternecedor. Não é aqui o lugar de descrevê-lo, nem é esse o meu intento. Uma coisa, porém, merece ser reparada: é o carinho e a dedicação com que foram e vem sendo tratados até hoje, 10 de novembro de 1919 (o encontro das forças e consequentemente os ferimentos se verificaram a 8) essas pobres vítimas do dever, esses pobres soldados que se empenharam na patriótica missão de extinguir o banditismo da plaga sertaneja. Atirados aos quartos e salas de um prédio onde deveria funcionar uma escola, se não fora a crise de professores, lá ficaram as vítimas a mercê da sorte e dos cuidados de um pobre velho, sertanejo, curandeiro, que, coitado, de instante a instante os rodeava, até ansioso por fazer-lhes algum bem, de minorar-lhes as dores na absoluta carência dos mais rudimentares cuidados higiênicos. Entre gemidos e ais lá se passou a primeira noite e os miseráveis, coitados, não tiveram nenhum lenitivo às suas mágoas, nenhum bálsamo para acalmar as suas dores.
Hoje estar a findar-se o terceiro dia, depois da triste hecatombe, e, ainda na escola, acobertados de emplastros de angico, cipó vermelho, e quanta raiz de pau existe apropriado à cura dos balaços, segundo a terapêutica sertaneja, devem estar a esta hora os pobres polícias do terceiro.Infeliz corpo de segurança pública, que no sertão tem tão mal segura a vida! Até ontem, cerca de 11 horas, o próprio caldo, o mesmo pão, tanto que ao tratador uma praça pedira um bocado, alegando que só comera no dia anterior ao meio dia, que chegaram por fim, uns magros 5$000, mas o problema continuava insolúvel; quem lhes havia de comprar a carne e cozinhar o caldo? Eis aqui, senhores redatores, no regime atual como se trata o soldado, o elemento de nossa defesa, e a nossa garantia num tempo de coisa direita! Direi aos vossos leitores, contai por ai, que na hoje tão falada Vila Bela, cujo nome mais próprio lhe fora Vila Bélica, uns poucos soldados passaram dias amargurados, fetibundos, mal tratados arquejantes, varados de balas, talvez maldizendo o momento negro e triste em que se fizeram praças. Eis aqui, qual é a sorte do infeliz soldado no sertão nos tempos bons que vão correndo!
Vila Bela, 10 de novembro de 1919”.
EMBOSCADAS,TIROTEIOS E O ATAQUE À FAZENDA CARNAÚBA
Por Valdir Nogueira
No dia 24 de julho de 1921, foram emboscados às 6 horas da manhã quando atravessavam Vila Bela para Leopoldina (Parnamirim), o coronel Jambo, chefe político local ali, acompanhado de sua cunhada dona Francisca Granja e do pai desta, major Ildefonso Cardoso, de dois boiadeiros e dos srs. Antônio Ribeiro Antunes e Odon Alencar, abastados fazendeiros residentes na fazenda “Canto do Buriti”, no município de São Raimundo, no Estado do Piauí, ao atingirem a fazenda “Patos”, município de Vila Bela e propriedade da família Pereira, foram surpreendidos por diversos tiros desfechados por um grupo de cangaceiros composto de cinco indivíduos, chefiados por Sebastião Pereira; das descargas resultaram os bárbaros assassinatos do coronel Antônio Ribeiro Antunes, e de dona Francisca Granja que era esposa do Sr. Rogério Granja, negociante em Custódia.
Três animais pertencentes à montada dos mesmos caíram por terra gravemente feridos. Em seguida os criminosos praticaram um roubo da importância de 1;000$000 em dinheiro, que conduzia o dito Antônio Ribeiro. O saque deixou de ser maior em virtude de terem os referidos boiadeiros guardados as maiores importâncias em dinheiro nas cargas que vinham um pouco atrasadas. O capitão José Caetano, logo que soube do ocorrido, seguiu incontinenti para o local do fato acompanhado de força e dali seguiu ao encalço dos bandidos até a fazenda “Poço do Serrote”, depois fez conduzir os corpos para Vila Bela, tendo antes dali feito seguir uma força no roteiro dos bandidos.
Depois das ocorrências da fazenda “Patos”, no dia 28 de julho, esse mesmo grupo de cangaceiro atacou a povoação de Bom Nome, travando tiroteio com a força do tenente Domingos Geraldo que ofereceu resistência, evitando assim mais um saque. Todavia, naquela ocasião, os cangaceiros conseguiram ainda incendiar uma bolandeira de propriedade do comerciante Cícero Bezerra do Nascimento, e cortaram também o fio telegráfico.
Dias após, novo ataque a mão armada era levado a efeito pelo mesmo grupo de Sebastião Pereira. Desta feita, foi emboscado um grupo de negociantes de Belmonte, sendo-lhe roubadas mercadorias em quantia superior a 20;000$000. Diante dessa ocorrência os ditos comerciantes telegrafaram para Vila Bela solicitando para serem detidas ali as suas cargas de mercadorias até segunda ordem, e informando também que ficaram cientes que o grupo de Sebastião Pereira andou propagando que iria incendiar as cargas do coronel Veremundo Soares, de Salgueiro.
Ao referido grupo, juntou-se um grosso contingente de cangaceiros chefiado pelo bandido Antônio Matilde, que chefiou por sua vez, outro grupo do Estado de Alagoas. Em sendo assim, o numeroso grupo passou a ameaçar de que iria atacar Vila Bela. Ciente do objetivo do grupo de cangaceiros, o capitão José Caetano, seguiu com a força de que dispunha no encalço dos bandoleiros. Na batida dada nas catingas, a citada autoridade encontrou em um serrote entre as fazendas “Carnaúba” e “Humaitá” parte do saque feito ultimamente aos negociantes de Belmonte. Dos vestígios deixados pelos cangaceiros, o capitão José Caetano pode concluir se acharem os mesmos homiziados na fazenda “Carnaúba” do coronel Manoel Pereira Lins.
Ao se aproximar daquele local, foi a força atacada pelos cangaceiros, que entrincheirados na casa-grande da velha fazenda, atiravam pelas “torneiras” (buracos abertos nos cantos das paredes), travando-se renhido tiroteio de que resultou a morte do bandido Luiz Macário, cabra de total confiança. Nascido na fazenda “Baixio”, Luiz Macário, “caboclo forte, raçudo, bom de pontaria e no corpo-a-corpo”, era filho de Macário, antigo escravo do Dr. Arcôncio Pereira da Silva. Considerado um dos melhores homens de Sinhô Pereira, existe a versão que Luiz Macário teria sido morto não pela volante de Zé Caetano e sim por outro cangaceiro. Um “fogo amigo” encomendado por uma mulher que era amante de outro cabra do bando e não gostava de Macário. O chefe cangaceiro nunca conseguiu saber de onde partiu o tiro que fez seu amigo tombar sem vida. Depois dessa peleja, evadiu-se Sebastião Pereira com seu grupo em direção a Bom Nome, porém, no caminho, bem próximo à vila, encontraram com o Sr. João Bezerra do Nascimento (1), no entanto, na ira em que estava possuído, em decorrência da morte de Luiz Macário, desfechou Sebastião Pereira um tiro naquele inocente homem e o matou. As forças do capitão José Caetano se transportaram para o local, não encontrando mais o grupo de criminosos.
Sobre a morte de João Bezerra, quando da única visita ao seu torrão natal, em 1971, 49 anos depois após a sua despedida do cangaço e partida para Goiás, declarou Sebastião Pereira numa entrevista concedida ao Sr. Luiz Lorena: Lorena - Depois de tanta refrega por que se retirou para o Planalto Central do país? Sinhô – A família Pereira (minha família) vivia atormentada em face de minhas ações. Era imperativo mudar a face da história. Lorena – Quais os fatos que mais perturbaram você? Sinhô – Vários. No começo tudo o que eu fazia errado dava certo. Com o passar do tempo tudo o que eu fazia certo dava errado. Lorena – Entre estes, você pode destacar um? Sinhô – Sim. A morte de João Bezerra em Bom Nome. Na forma como eu procedi, acelerou minha decisão. O meu estado de espírito estava de tal forma desajustado que eu já não tinha condição de conduzir as ações do grupo que comandava.
NAS PROXIMIDADES DE BOM NOME POLÍCIA TRAVA MAIS UM TIROTEIO COM O GRUPO DE SEBASTIÃO PEREIRA
Em princípios do mês de novembro de 1921, o delegado de Belmonte, acompanhado de uma força policial, depois de minuciosas indagações, conseguiu descobrir o roteiro do grupo de cangaceiros chefiado por Sebastião Pereira. Tratou de emboscá-lo, o que, com efeito, realizou. Em seguida, rompeu fogo contra o grupo sendo correspondido. Com a força policial participou gente dos Carvalhos: o destemido Antônio Alves de Carvalho (Antônio Cipriano), Mariano Mendes de Moura (esse participou do assassinato de Padre Pereira) e Miguel Umbuzeiro. O tiroteio durou mais de uma hora, terminando com a debandada da polícia, em face do grupo ter se livrado da emboscada. Nesse fogo morreram dois policiais e saíram dois outros gravemente feridos. Outros desapareceram. Consta que os componentes do grupo de cangaceiros nada sofreram. O delegado de Belmonte temendo a derrota do resto da força, diante da audácia dos bandidos, recuou para o povoado de Bom Nome, onde ficou aguardando auxílio. Chegando ao conhecimento do capitão José Caetano, em Vila Bela, a notícia da derrota de seu colega de Belmonte, aquele oficial seguiu, sem perda de tempo, para o povoado de Bom Nome, acompanhado de um contingente de 60 praças, todas bem municiadas. O capitão José Caetano, após pequena demora no referido povoado, enquanto conseguia informações sobre o tiroteio, marchou em demanda do local onde se achava homiziado o grupo de Sebastião Pereira, a fim de dar-lhe combate. No entanto, o Sr. dr. Luiz Correia, tendo recebido comunicação detalhada da derrota da sua força, conferenciou com o coronel Alfredo Duarte, comandante interino da Força Pública do Estado, onde se combinou o melhor meio para combater o grupo de cangaceiros de Sebastião Pereira. Assim ficou acertada a ida de uma força policial para Vila Bela que, incorporada as que ali já se encontravam, poderiam exterminar com o referido grupo de cangaceiros. No dia 19 de novembro de 1921, seguiu para Vila Bela, em carro especial atrelado ao comboio do horário, uma força de 50 praças, sob o comando do tenente coronel Estevão Câmara, comandante do 2ª batalhão. Esse oficial teve como auxiliares o capitão Lindolfo Jorge dos Santos e os segundos tenentes: Francisco Rodrigues (Bigode) e Horácio Carneiro.
Manoel Pereira Lins, conhecido por Né da Fazenda Carnaúba, nasceu no dia 23 de junho de 1868, foi Coronel da Guarda Nacional, filho de Joaquim Pereira da Silva (Joaquim da Carnaúba), exerceu grande liderança no seio da Família Pereira, renomado fazendeiro, foi Prefeito de São José do Belmonte entre os anos de 1902 a 1904, também Vereador em Serra Talhada por três legislaturas, quando precisou nos momentos mais críticos do século passado envolvendo a Família Pereira, também segurou armas. Ao lado do Coronel Antônio Pereira financiou vários gastos nas contendas, faleceu em 1964. Seu Né da Carnaúba foi um dos parentes que aconselhou Sinhô Pereira e Luiz Padre a encostar armas e ir para o planalto central.
Valdir Nogueira comenta: "bela, memorável e aprazível, a capelinha localizada a poucos metros da sede da fazenda, agora solitária, mas calma, modesta e valente, por todos estes anos tem sido, por assim dizer, um verdadeiro marco visual a compor a bonita paisagem sertaneja daquele antigo reduto da família Pereira que no passado teve como um de seus notáveis proprietários o coronel Manoel Pereira Lins, o famoso Né da Carnaúba, hoje sepultado naquele histórico e bucólico templo."
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