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quarta-feira, 7 de junho de 2023

LAMPIÃO E LUIZ GONZAGA

Por Clerisvaldo B. Chagas
Capa de disco do Rei do Baião (Foto: Divulgação)

Lá nas paragens de Exu, Pernambuco, quando Gonzaga ainda era menino, queria porque queria conhecer o Virgolino Ferreira que atingia o Ápice da fama. Acompanhando o velho Januário, tocador de fole, pelos bailes da região, o futuro sanfoneiro ia treinando com o instrumento e a música que se traz no sangue.

Todos já sabiam que Lampião também tocava sanfona de oito baixos. Esse era um dos ferrenhos motivos pelos quais Luiz queria conhecê-lo, embora tenha dito mais tarde que Virgolino tocava desafinado e que havia gente no bando que tocava direito.

A família de Luiz não queria contato com o bando de Lampião, alegando as atrocidades cometidas pelo bandido. Pelas pistas escorregadias da entrevista do cantador, vamos nos situar em 1926.

Quando correu o boato de que Lampião iria a Juazeiro do Norte, Luiz Gonzaga animou-se uma vez que Exu era ponto de passagem do cangaceiro. E no segundo boato, quando se falou na aproximação do marginal, muitas famílias de Exu abandonaram suas casas e foram se esconder no mato.

Gonzaga protestava em ficar, mas a mãe não consentiu. Passaram a noite em um esconderijo da caatinga. No outro dia, na dúvida, a mãe de Gonzaga indagou se ele tinha coragem de ir até à rua, saber se Lampião já havia passado. Gonzaga foi. E quando retornou ao esconderijo, veio brincando aos gritos que todos corressem que Lampião estava chegando. O resultado é que levou uma boa pisa de todos.

O povo que havia corrido para passar a noite no mato se arrependeu e voltou. Somente sua família permaneceu isolada na caatinga. O futuro artista diz que perdeu a única oportunidade de conhecer Lampião, além de levar a surra.

Tempos na frente, já no Rio de Janeiro, Gonzaga iniciava a vida com a sanfona e tocando coisas alheias, em trajes elegantes. Quando começou a tocar em indumentária de cangaceiro e compondo suas músicas nordestinas, as portas começaram a se abrir. Assim o Brasil ganhou um dos maiores artistas da história e se fechou para um possível cangaceiro medíocre do grupo de Lampião.

A música de Gonzaga fez o Brasil feliz.

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de março de 2018

Crônica 1.857 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

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