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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

PENEDINHO: A COVARDIA E A TRAIÇÃO DE UM CANGACEIRO.

Por Rangel Alves da Costa

O cangaceiro Penedinho nasceu nas entranhas sertanejas do então distrito de Poço Redondo. Batizado como Teodomiro, era filho de Mané Pequeno e Dona Calu. Estes, levados pelas secas grandes e pela falta de meios para o ganha-pão, então foram morar em Canhoba, nas terras de Antônio Caixeiro, proprietário da Fazenda Borda da Mata e amigo e protetor de Lampião.

O convívio nas terras de um protetor de cangaceiros foi despertando no jovem um estranho e perigoso desejo, o de se tornar cangaceiro. E assim aconteceu, tendo na cangaceirama recebido a alcunha de Penedinho e logo passando a servir no bando de Juriti. Cangaceiro destemido, porém arrogante, deseducado, de poucos amigos. Gostava de olhar os demais com olhos e cabeça rebaixados, sem demonstrar estima por ninguém, sempre com ares de arrependimento e como se quisesse dizer que aquele mundo não era o seu. Sabia, contudo, que uma vez entrado no cangaço somente em arriscada fuga, em estado de grave enfermidade ou varado de balas seria possível se distanciar daquele mundo. Quer dizer, havia sido atraído pela fama de Lampião e seus bandoleiros, mas o arrependimento parecia lhe corroer, ainda que no convívio de primos, vez que tanto Canário como Adília eram seus parentes. Não se sentiu entristecido nem tampouco revoltado quando Lampião, sua Maria Bonita e mais nove cangaceiros foram emboscados e chacinados ao alvorecer daquele 28 de julho de 38, na matança da Gruta do Angico, nos sertões ribeirinhos de Poço Redondo. Não sentiu um tantinho assim de aflição ainda que três parentes seus também tivessem sido dizimados. Pelo contrário, viu naquela matança a oportunidade que tanto procurava para sair daquela vida de temores, perigos e correrias. Com a morte do Capitão, o cangaço estava sem sua liderança maior e seu fim logo se aproximaria. E ele, Penedinho, teria novamente a liberdade que tanto almejava. O problema é que a morte do coração do cangaço não permitiu que, de imediato, as portas fossem abertas para que cada cangaceiro seguisse para onde quisesse. Onze haviam morrido na empreitada de sangue, mas um monte de cangaceiros ainda restava escondido ou espalhado por todo lugar.

E estes sobreviventes passaram a ficar na mira dos mosquetões, a interessar aos algozes e a serem duramente perseguidos por comandantes de volantes e outras forças militares. Fugindo do fogo da morte e da tempestade agonizante que se formou após a derrocada de Lampião e Maria Bonita, Penedinho foi forçado a se embrenhar nos matos ao lado de Juriti e sua companheira Maria, e de Canário e sua companheira Adília. Após percorrem alguns esconderijos, então decidiram seguir até a Fazenda Cururipe, de propriedade do pai do também cangaceiro Cajazeira (Zé de Julião, que perdeu sua Enedina no mesmo fogo da morte). Perto da sede da povoação, a permanência ali seria para facilitar contatos que possibilitassem uma entrega mais segura às forças policiais. Juriti, Maria, Canário e Adília, queriam, pois, se entregar, mas Penedinho não, pois sua intenção era outra e já estava com tudo premeditado. Contudo, a ninguém revelou seus planos. As negociações para as entregas ainda nem tinham começado quando o estado avançado na gravidez de Adília fez tudo atrasar. Somente quando esta foi transferida para a região de Propriá é que novamente começaram a se pensar num plano de entrega. Mas já havia se passado tempo demais e então Juriti resolveu ir procurar ajuda com o seu sogro Rosalvo Marinho, pai de sua Maria. Quando o casal partiu, então no Coito do Cururipe ficaram somente Canário e Penedinho. Foi então que os planos de Penedinho foram se transformando em oportunidade. Estar só com o companheiro de Adília, ainda que este fosse também seu primo, era como ter à mão uma chave libertadora. Jamais pensou em se entregar pelo simples fato de que era covarde, era medroso demais, e se arrepiava inteiro só em pensar em ser preso como um cangaceiro comum e daí sofrer na pele as agruras de um reles bandido. Então buscou na memória o que já tinha ouvido falar: cangaceiro que mata cangaceiro é perdoado ou tem a pena muito diminuída. E foi por isso que resolveu matar Canário. Penedinho aproveitou um instante de distração do companheiro e lhe deu um tiro certeiro de mosquetão. Com a morte consumada, o traidor rumou em direção ao quartel de comando de Zé Rufino na baiana Serra Negra, vizinho a Poço Redondo, para dar conta de seu feito e assim receber as benesses alardeadas. O comandante Zé Rufino, sempre ávido pelos espólios do cangaço, rapidamente se dirigiu ao Cururipe para confirmar. Confirmou, cortou a cabeça de Canário e retornou com a degola e com as riquezas encontradas. Em tudo, além da traição em si, em Penedinho se avolumam ainda outras características próprias de um covarde. Esperou que Juriti e Maria partissem para perpetrar seu plano, não deu chances ao outro se defender, não respeitou o sangue familiar nem o parentesco, e assim fez porque morria de medo de ser preso e tratado como um bandido comum. Matou à traição, apenas isso. Apenas a covardia de um covarde. Saliente-se por último que não procede a versão segundo a qual a morte de Canário havia sido encomendada a Penedinho por Antônio Caixeiro, o Senhor da Borda da Mata, pelo fato de que o companheiro de Adília havia tentando extorqui-lo. O Coronel não precisava de terceiros ou de um pé-rapado para tal feito, bastaria avisar ao amigo Lampião. Nas fotos abaixo, o primeiro é Penedinho, e o segundo é Canário.

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