Por; José Cícero*
Quem disse que o comércio de vinil está em crise? Para o juazeirense 'Zé Baixim dos discos', tudo isso não passa de intriga da concorrência...
Foto José Cícero
Um minúsculo estabelecimento de duas portas, “espremido” entre os modernos comércios que hoje tomam conta do centro comercial e adjacências de Juazeiro do Norte. Assim é o negócio do simpático e sempre sorridente senhor juazeirense, popularmente conhecido por uma alcunha das mais sugestivas diante do ofício que exerce por mais de três décadas - ‘Zé Baixim dos discos’.
Seu espaço comercial fica situados pras bandas da “caixa d’água” bem ao lado da Biblioteca Pública. Diria que um espaço nobre para uma atividade comercial quase extinta nos dias atuais diante da avalanche da modernidade tecnológica. Um verdadeiro empório da saudade, onde os amantes da música tradicional à moda antiga podem adquirir vinis (Compact e LP) por preços irrisórios e até mesmo pechinchar com o agradável vendeiro. São por assim dizer verdadeiras raridades do cancioneiro musical de todos os tempos.
Há quem ainda o denomine simplesmente de sebo dos discos. Um clássico quartinho, estreito com duas portas no estilo rústico e antigo, repleto de velhos discos pelas paredes e caixas de papelão. Além de pôsteres de artistas, como nos velhos tempos, espalhados por todos os lados. Alguns dos vinis em tão bom estado de conservação que impressiona. Outros nem tanto. Mas que no fundo representam um verdadeiro ato de resistência contra a chamada tecnologia digital. Discos usados, muitos deles com manuscritas mensagens de amor; dedicatórias dos seus antigos donos aos seus entes queridos. Presentes afetivos, cuja lembrança nos toca tanto quanto as canções que preservam nos seus riscados sonoros.
Estar ali apertado entre discos é como um mergulhos no túnel do tempo...
Tantos são os exemplares enfileirados nas prateleiras improvisadas e pelo chão que quase não é possível dar-se mais que cinco passos pelo ambiente em meio a tantas peças. Verdadeiras raridades da música popular brasileira podem ser encontradas no empório do Zé Baixim a preços módicos e até experimentadas no velho aparelho (radiola) faixa por faixa. Como ele mesmo diz: “a preço de banana”. Grandes clássicos de todos os mais variados gêneros e estilos musicais poderão ser encontrados no local, sem esquecer o hit internacional de todos os tempos. Sem esquecer ainda: brega, MPB, Rock, grandes nomes da música caipira (tomada de assalto hoje por uma pseudosertaneja), forró verdadeiro e de raiz, trilhas das grandes novelas, jovem e velha guarda, assim como os maiores nomes da música mundial. Tudo, sem nenhum exagero de expressão, poderá ser encontrado ali, a um passo da mão do 'Zé Baixim dos discos'.
As grandes raridades em vinis estão separadas para reprodução e colecionadores a preços que não ultrapassam os dez reais, enquanto que os discos de menores expressões podem ser adquiridos por até dois reais.
Como a música durante muito tempo tem sido a forma através da qual as pessoas aprenderam a eternizar uma época ou mesmo um momento feliz com toda a sua carga de sentimentos e emoções, o sebo de Zé Baixim tem se transformado por seu turno num verdadeiro flash back como se fosse uma ponte a nos ligar ao tempo pretérito. Uma oportunidade que muitos dos saudosistas utilizam para, por meio desta linguagem universal que é a música, matar saudade e reaver mentalmente grandes emoções dos anos idos e de outros inesquecíveis acontecimentos de outrora.
“Há mais de 30 anos que luto com a venda de discos”, afirma com entusiasmo o proprietário do empório. “Comecei vendendo meus disquinhos pelas calçadas do Juazeiro, com novos e usados. E também fita cassete. Na época a gente disputava com as grandes lojas. Hoje a disputa é com a própria tecnologia dos CDs, mas não vou desistir porque gosto do que faço e faço com amor e dedicação”, disse o vendedor, um dos últimos representantes deste ramo de atividade do Cariri e de todo o estado.
O mais incrível é que o 'Zé Baixim' sabe de cor e salteado todos os nomes dos artistas e a localização exata do disco solicitado pelo cliente em meio a tantas pilhas de discos. Pedi-lhe um Bob Dylan, Amália Rodrigues, João do Vale e Rod Stuart. E depois, Trio Nortista, Charles Aznavour, Beatles, Maurício Reis, Nat King Cole, dentre outros. E ele foi direto ao ponto. Ora, quem engorda o boi é mesmo o olho do dono...
Sempre que vou ao Juazeiro e disponho de tempo dou uma esticadinha até a venda do seu 'Zé Baixim' para trocar algumas ideias sobre discos, as histórias do seu ofício e, claro, vislumbrar o seu material, como se estivesse dando um mergulho no passado. Posto que todas aquelas pérolas raras funcionam ainda agora como grandes novidades, muito mais do que como antigamente (no tempo do bumba) quando foram lançadas. O comércio de discos antigos do 'Zé Baixim' é, sem sombra de dúvida, o mais autêntico baú ou museu das novidades. Uma feliz reminiscência daquilo que ouvimos-dançamos-vivenciamos de melhor, eternizado nas nossas mentes e corações por meio da música, a boa música, diga-se de passagem.
Pelo menos quando estou lá, não encontro nenhuma das ‘bombas’ que ora compõem as chamadas “bundas/bandas de forró”, que hoje promovem verdadeiro assassinato da autêntica música popular brasileira.
Como no passado, sempre que posso trago alguma raridade em forma de LP; doido para chegar em casa e ouvir com sofreguidão na minha “radiola”; apenas com medo de estragar a agulha porque me disseram que não existe mais à venda no mercado.
Na última vez que estive no empório dos discos fui surpreendido pelas presenças de dois alegres garotos procurando algo naquela montanha de discos. Não me contive a entabular algumas perguntas para eles. Achei estranho que duas verdadeiras crianças estivessem como eu interessadas naquilo que muitos “babacas cheio de si” costumam taxar; do alto dos seus preconceitos e falta de conhecimento, de ultrapassado e saudosismo, como se isso fosse uma vergonha, um demérito. Foi quando um dos garotos falou com muita sapiência e propriedade acerca da sonoridade particular dos discos de vinil, coisa que os CDs não proporcionam. Além da qualidade das músicas. Um de 13 anos e outro de 12 (fotos) frequentadores assíduos do local, ao que logo me dissera o proprietário. Procuravam e encontraram os primeiros trabalhos de Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, além de Blitz e Cazuza. Perguntei-os se acaso eles preferiam o CD ao LP. E a resposta foi unânime: “O vinil é muito mais gostoso de ouvir!”. E acrescentou: "a batida e o som são diferentes. Bem mais agradáveis do que no CD", disseram.
Não sei por que carga d’águas... Mas a indústria fonográfica da Argentina, por exemplo, em respeito aos seus consumidores decidiu prosseguir com a fabricação dupla de CD’s e vinil. De modo que, qualquer lançamento musical do momento (e do passado) pode ser encontrado no mercado nos dois gêneros. Será que o Brasil não poderia fazer o mesmo?
Seu espaço comercial fica situados pras bandas da “caixa d’água” bem ao lado da Biblioteca Pública. Diria que um espaço nobre para uma atividade comercial quase extinta nos dias atuais diante da avalanche da modernidade tecnológica. Um verdadeiro empório da saudade, onde os amantes da música tradicional à moda antiga podem adquirir vinis (Compact e LP) por preços irrisórios e até mesmo pechinchar com o agradável vendeiro. São por assim dizer verdadeiras raridades do cancioneiro musical de todos os tempos.
Há quem ainda o denomine simplesmente de sebo dos discos. Um clássico quartinho, estreito com duas portas no estilo rústico e antigo, repleto de velhos discos pelas paredes e caixas de papelão. Além de pôsteres de artistas, como nos velhos tempos, espalhados por todos os lados. Alguns dos vinis em tão bom estado de conservação que impressiona. Outros nem tanto. Mas que no fundo representam um verdadeiro ato de resistência contra a chamada tecnologia digital. Discos usados, muitos deles com manuscritas mensagens de amor; dedicatórias dos seus antigos donos aos seus entes queridos. Presentes afetivos, cuja lembrança nos toca tanto quanto as canções que preservam nos seus riscados sonoros.
Estar ali apertado entre discos é como um mergulhos no túnel do tempo...
Tantos são os exemplares enfileirados nas prateleiras improvisadas e pelo chão que quase não é possível dar-se mais que cinco passos pelo ambiente em meio a tantas peças. Verdadeiras raridades da música popular brasileira podem ser encontradas no empório do Zé Baixim a preços módicos e até experimentadas no velho aparelho (radiola) faixa por faixa. Como ele mesmo diz: “a preço de banana”. Grandes clássicos de todos os mais variados gêneros e estilos musicais poderão ser encontrados no local, sem esquecer o hit internacional de todos os tempos. Sem esquecer ainda: brega, MPB, Rock, grandes nomes da música caipira (tomada de assalto hoje por uma pseudosertaneja), forró verdadeiro e de raiz, trilhas das grandes novelas, jovem e velha guarda, assim como os maiores nomes da música mundial. Tudo, sem nenhum exagero de expressão, poderá ser encontrado ali, a um passo da mão do 'Zé Baixim dos discos'.
As grandes raridades em vinis estão separadas para reprodução e colecionadores a preços que não ultrapassam os dez reais, enquanto que os discos de menores expressões podem ser adquiridos por até dois reais.
Como a música durante muito tempo tem sido a forma através da qual as pessoas aprenderam a eternizar uma época ou mesmo um momento feliz com toda a sua carga de sentimentos e emoções, o sebo de Zé Baixim tem se transformado por seu turno num verdadeiro flash back como se fosse uma ponte a nos ligar ao tempo pretérito. Uma oportunidade que muitos dos saudosistas utilizam para, por meio desta linguagem universal que é a música, matar saudade e reaver mentalmente grandes emoções dos anos idos e de outros inesquecíveis acontecimentos de outrora.
“Há mais de 30 anos que luto com a venda de discos”, afirma com entusiasmo o proprietário do empório. “Comecei vendendo meus disquinhos pelas calçadas do Juazeiro, com novos e usados. E também fita cassete. Na época a gente disputava com as grandes lojas. Hoje a disputa é com a própria tecnologia dos CDs, mas não vou desistir porque gosto do que faço e faço com amor e dedicação”, disse o vendedor, um dos últimos representantes deste ramo de atividade do Cariri e de todo o estado.
O mais incrível é que o 'Zé Baixim' sabe de cor e salteado todos os nomes dos artistas e a localização exata do disco solicitado pelo cliente em meio a tantas pilhas de discos. Pedi-lhe um Bob Dylan, Amália Rodrigues, João do Vale e Rod Stuart. E depois, Trio Nortista, Charles Aznavour, Beatles, Maurício Reis, Nat King Cole, dentre outros. E ele foi direto ao ponto. Ora, quem engorda o boi é mesmo o olho do dono...
Sempre que vou ao Juazeiro e disponho de tempo dou uma esticadinha até a venda do seu 'Zé Baixim' para trocar algumas ideias sobre discos, as histórias do seu ofício e, claro, vislumbrar o seu material, como se estivesse dando um mergulho no passado. Posto que todas aquelas pérolas raras funcionam ainda agora como grandes novidades, muito mais do que como antigamente (no tempo do bumba) quando foram lançadas. O comércio de discos antigos do 'Zé Baixim' é, sem sombra de dúvida, o mais autêntico baú ou museu das novidades. Uma feliz reminiscência daquilo que ouvimos-dançamos-vivenciamos de melhor, eternizado nas nossas mentes e corações por meio da música, a boa música, diga-se de passagem.
Pelo menos quando estou lá, não encontro nenhuma das ‘bombas’ que ora compõem as chamadas “bundas/bandas de forró”, que hoje promovem verdadeiro assassinato da autêntica música popular brasileira.
Como no passado, sempre que posso trago alguma raridade em forma de LP; doido para chegar em casa e ouvir com sofreguidão na minha “radiola”; apenas com medo de estragar a agulha porque me disseram que não existe mais à venda no mercado.
Na última vez que estive no empório dos discos fui surpreendido pelas presenças de dois alegres garotos procurando algo naquela montanha de discos. Não me contive a entabular algumas perguntas para eles. Achei estranho que duas verdadeiras crianças estivessem como eu interessadas naquilo que muitos “babacas cheio de si” costumam taxar; do alto dos seus preconceitos e falta de conhecimento, de ultrapassado e saudosismo, como se isso fosse uma vergonha, um demérito. Foi quando um dos garotos falou com muita sapiência e propriedade acerca da sonoridade particular dos discos de vinil, coisa que os CDs não proporcionam. Além da qualidade das músicas. Um de 13 anos e outro de 12 (fotos) frequentadores assíduos do local, ao que logo me dissera o proprietário. Procuravam e encontraram os primeiros trabalhos de Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, além de Blitz e Cazuza. Perguntei-os se acaso eles preferiam o CD ao LP. E a resposta foi unânime: “O vinil é muito mais gostoso de ouvir!”. E acrescentou: "a batida e o som são diferentes. Bem mais agradáveis do que no CD", disseram.
Não sei por que carga d’águas... Mas a indústria fonográfica da Argentina, por exemplo, em respeito aos seus consumidores decidiu prosseguir com a fabricação dupla de CD’s e vinil. De modo que, qualquer lançamento musical do momento (e do passado) pode ser encontrado no mercado nos dois gêneros. Será que o Brasil não poderia fazer o mesmo?
José Cícero
É Professor, Poeta e Escritor.
Secretário de Cultura de Aurora-CE.
É Professor, Poeta e Escritor.
Secretário de Cultura de Aurora-CE.
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