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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

“Moreno: Os últimos cangaceiros do bando de Lampião estão dando o adeus ao mundo”, por Severino Coelho .

Por: Severino Coelho   
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Os últimos cangaceiros do bando de Lampião estão dando o adeus ao mundo terreno, levando na mente espiritual uma carga de fatos sanguinários, história de valentia e o descarrego de misticismo que assolavam as caatingas no sertão nordestino.
Um dos últimos que partiu, no dia 06 de setembro de 2010, Belo Horizonte – Minas Gerais, com nome de batismo ANTÔNIO INÁCIO DA SILVA, apelido Moreno, com 100 (cem) anos de idade completos, nascido na cidade de Tacaratu – PE, filho de Manuel Inácio da Silva (Jacaré) e Maria Joaquina de Jesus.
Na década de 1930, casou-se com Durvalina Gomes de Sá, cangaceira conhecida por Durvalina, Depois que Moreno abandonou o cangaço, clandestinamente, adotou o nome de José Antônio Souto e ela passou a chamar-se de Jovina Maria da Conceição Souto.
Convém lembrar que, o leitor não deve confundir com um outro cangaceiro, alcunhado de Moreno, que foi registrado com o nome de JOAQUIM LAURINDO DE SOUZA, nascido no ano de 1898, casado com Luísa Alves Batista.
Este faleceu no dia 13 de fevereiro de 1936, apesar de ser cangaceiro também, era um desafeto de Lampião, inclusive, foi assassinado pelo próprio bando de Virgulino Ferreira da Silva.
A foto abaixo mostra o casal de cangaceiros pertencentes ao grupo de Lampião e Maria Bonita, José Antônio Souto e Durvalina Gomes de Sá.
Antônio Inácio da Silva – O Moreno, nasceu no dia 01 de novembro de 1909, em Tacaratu, Pernambuco. Filho de Manuel Ignácio da Silva e Maria Joaquina de Jesus. Antônio foi batizado na cidade de Mata Grande, Alagoas, no dia 06 de março de 1910, portanto, quatro meses e cinco dias depois do nascimento.
Os padrinhos de batismo foram Martinho Affonso Leite e Joaquina Maria da Conceição. Quem realizou o batismo foi o vigário Manoel Firmino Pinheiro. Manuel Ignácio e sua esposa tiveram dez filhos, sendo quatro homens e seis mulheres: Floro Ignácio da Silva, Otaviano Ignácio da Silva, Justo Ignácio da Silva, José (Jacaré) Ignácio da Silva, Firmina (Minô) Maria da Conceição, Maria São Pedro, Minervina Maria da Conceição, Técula (Santa) Maria da Conceição e Maria José da Conceição. Manuel teve que mudar-se de Tacaratu, por ter praticado um crime, levando toda sua família, estando Antônio Ignácio com poucos anos de nascido.
O lugar escolhido por Manuel Ignácio para se esconder, chamava-se Brejo Santo, Ceará, por já ter alguns familiares nesta cidade. Na cidade de Brejo Santo, a família ficou por muitos anos. Antonio Ignácio aprendeu a ler com o professor Manuel da Paz.
Maria José casou-se com Manuel Basil, tendo com ele, duas filhas: Edite e Alexandrina. Maria José viria a separar-se depois e voltaria a morar em Tacaratu, onde se casou novamente, desta vez com Manoel Miguel.
Manuel Ignácio tinha inclinações musicais e dele veio o incentivo que motivou os filhos tocarem alguns instrumentos. Maria José tocava violão e cantava. Otaviano dedilhava com perfeição, as cordas de um cavaquinho e também tinha uma excelente voz. José tocava rabeca e fazia versos rimados.
Antônio tocava pé de cabra, um tipo de sanfona pequena muito utilizada no nordeste, principalmente nas décadas de vinte e trinta. José ganhou o apelido de Jacaré por gostar de cantar, repetidas vezes, uma velha canção que falava de um jacaré.
Em Brejo Santo, Jacaré formou um grupo, que diziam que andavam aterrorizando as pessoas, por isso, teve que fugir junto com o amigo Róseo Moraes, depois de um forte cerco policial, indo encontrar guarida na cidade alagoana de Piranhas, ao lado do coronel José Rodrigues, desafeto de Delmiro Gouveia.
Jacaré casou com Maria Lima, uma moça de Água Branca, Alagoas, que trabalhava na tecelagem da Fábrica da Pedra. Quando da morte de Delmiro Gouveia, Jacaré e Róseo Moraes foram acusados como sendo os matadores deste conhecido sertanejo considerado um homem rico.
Com a repercussão do crime Jacaré fugiu para Brejo Santo, ficando sob a proteção do major Zé Inácio. O major quando ficou sabendo do crime, comunicou as autoridades piranhenses, sobre o paradeiro de Jacaré.
A prisão do acusado não se demorou e enquanto era recambiado do Ceará para Alagoas, na divisa do Ceará com Pernambuco, nas imediações de São José do Belmonte, Jacaré foi friamente assassinado, como queima de arquivos com o temor de que ele poderia denunciar homens importantes da sociedade, como mandantes do crime daquele que viria a ser considerado um dos maiores progressistas do sertão nordestino.
Antes de ser transferido, Jacaré mandou um bilhete para o pai, que trazia a seguinte quadra:
“Yone e Lionely
O perverso traidor
Eu vingo e vingarei
Seja lá em quem for.”
Sem que se tenha certeza do crime, Jacaré pagou com a vida, a vida de um sertanejo valioso e eternizado por suas obras referenciais e dignas de elogios e considerações.
Maria José, depois que se separou do primeiro marido, casou novamente com um rapaz de Tacaratu vindo residir novamente nesta cidade, onde tocava e cantava na igreja. Antônio Ignácio, com 16 anos de idade, voltou para Tacaratu e ficou morando algum tempo com a irmã Maria José.
Na sua cidade natal Antônio envolveu-se em uma confusão e teve que sair da cidade, retornando para Brejo Santo e de lá, seguindo para Missão Velha, próximo a Juazeiro do Norte, Ceará, onde pretendia ser policial.
Quando Antônio chegou a Barbalha, um rapaz falou que ele não poderia ser policial, pois ele era menor de idade. O sonho estava adiado. Antônio seguiu sem rumo certo, chegando a Cajazeira do Rio do Peixe, Paraíba.
Nesta cidade ele foi preso por ter sido confundido com o cangaceiro Volta Seca e só foi liberado depois que constataram que ele não fazia parte do cangaço. Saindo de Cajazeira do Rio do Peixe, andando aproximadamente trinta e seis quilômetros, encontrou uma fazenda onde pediu guarida e conseguiu emprego na plantação de um roçado.
O dono da fazenda, um senhor chamado André, era negociador de peles, que as revendia em Rio Branco, Pernambuco (hoje Arcoverde). Na fazenda de André, uma sobrinha do proprietário era encarregada da ordenha do leite dos animais. Essa jovem enamorou-se de Antônio e o convidou para ir um dia tomar leite com ela.
Antônio respondeu que só poderia ser no domingo que era seu dia de folga. Uma agregada de André, chamada Antoninha, notando a aproximação dos dois jovens, chamou Antônio e falou para que ele tivesse cuidado, pois a sobrinha do patrão não era mais virgem e tinha “se perdido” em troca de uma novilha de gado.
Com a intenção de fazer um grande rebuliço, Antoninha disse para o patrão André que Antônio andava comentando que a sobrinha dele não era mais virgem. André procurou Antônio para esclarecer os fatos:
- Antônio, Antoninha me disse que você anda dizendo que minha sobrinha não é mais moça?
- Olha André, quem me contou foi sua agregada. Eu sou chegante aqui de pouco tempo e como é que eu ia saber de uma conversa dessa? Eu não saio de sua casa!
- Pois olhe, quando for ao finalzinho da tarde e eu for liberar o pessoal do serviço, ela vai estar lá e aí a gente vai esclarecer esta conversa, ela vai ter que provar isto!
Antônio concluiu sua tarefa diária e ao entardecer, como havia combinado, se dirigiu a casa de André. Quando Antônio chegou à fazenda, o alpendre da residência estava repleto de gente, entre as pessoas encontravam-se os pais da moça, a agregada Antoninha, um funcionário da fazenda chamado Nêzero, o proprietário André e seu irmão Ananias. Quando Antônio foi se aproximando, Antoninha se adiantou e perguntou:
- Ôh seu Zé, que história foi essa que você foi contar pra André?
- Aquela mesma que você me contou!
- Mentira sua!
- Dona Antoninha! Eu não sou homem de mentira. A senhora fale a verdade, não venha jogar a culpa pra mim não, eu tô chegando de pouco tempo e não sei do procedimento da moça não!
- É mentira sua!
Neste momento Antônio perdeu a cabeça e esmurrou a orelha de Antoninha, que caiu de imediato. O marido de Antoninha investiu contra Antônio, e este sacou de uma faca peixeira e a cravou no peito do rapaz. O marido de Antoninha caiu junto da esposa, se estrebuchando e poucos segundos ele morreu. Antônio ainda empunhando a faca ensangüentada advertiu:
- Aqui e agora, eu só conheço como amigo, aquele que não se encostar perto de mim!
André, ante do choro desesperado de Antoninha, desabafou:
- Quem matou seu marido foi você mesmo, com o danado do seu fuxico!
Antônio pediu para jogarem suas roupas fora que ele queria fugir. Nêzero deu um sinal para Antônio e foram se encontrar em um ponto logo adiante:
- André vai pagar a você!
- Não, eu só quero minhas tralhas que estão aí!
Nêzero foi buscar as roupas de Antônio e este seguiu sua viagem, levando nas costas o peso de um crime cometido, acontecido por causa de uma das maiores pragas que encandeava o Sertão Nordestino: “o fuxico”. A fuxicada só termina nessas coisas.
Antônio caminhou durante dias, parando nas roças e fazendas, dormindo muitas vezes ao relento e passando sede e fome, com o sol a tostar-lhe a pele já morena. Depois de peregrinar por tortuosos caminhos, ele conseguiu chegar a uma das mais belas regiões nordestina: As verdes serras da pernambucana cidade de Triunfo. Antônio pediu trabalho na fazenda do coronel João Cordeiro, no Município de Santa Cruz da Baixa Verde:
- Eu tô precisando trabalhar doutor e queria que o senhor me arrumasse alguma coisa!
- Eu estou sem trabalho agora!
- Eu tô viajando e tô precisando!
- Olha! ... Como você está me contando essa história que está precisando, eu vou deixar você trabalhar uma semana aqui, por 500 réis o dia!
- Eu aceito!
Depois de cinco dias de trabalho, o coronel pagou o serviço e convidou Antônio para trabalhar por mais dois meses, pagando 1.000 réis ao dia. Antônio trabalhou por quase três meses, recebeu o pagamento, seguiu caminho, sem antes agradecer ao coronel João Cordeiro pela oportunidade e pela confiança que ele havia lhe dedicado.
A fazenda Baixa Verde tornou-se um dos pontos de reabastecimento e descanso para Lampião e seu grupo, sempre que o cangaceiro passava naquela localidade, abastecendo os bornais de carne seca, farinha e rapadura, alimentos sempre encontrados na casa do coronel João Cordeiro de Lima e sua esposa dona Maria de Souza Lima, pais do doutor Zé Cordeiro.
O médico Zé Cordeiro exercia a medicina e tratou Lampião de um ferimento no calcanhar, além de ter dons para a poesia repentista e do dedilhar da viola, tendo sido amigo do famoso Rei do Baião, Luiz Gonzaga.
Antônio tomou rumo sem destino, indo parar em Alagoa de Baixo (hoje Sertânia). Nesta nova trilha, um dos agregados do coronel João Cordeiro, um jovem chamado também de João, resolveu acompanhar Antônio.
Nesta cidade eles trabalharam abrindo estradas, em uma árdua tarefa de transportar pedra e areia em um carrinho de mão. Depois de dias cansativos, chegou uma migração, contratando pessoal pra trabalhar nas proximidades da capital pernambucana, em um lugar chamado São Paulo. Os trabalhadores deixaram o serviço que estavam realizando, pegaram suas contas e embarcaram no trem.
Antônio que até então estava indeciso quanto ao seu destino, demorou um pouco pensando qual decisão tomar e quando constatou que poucos amigos ficariam naquele trabalho, resolveu também embarcar seguindo a migração.
Para descontentamento dos dois amigos Antônio e João, eles ficaram sem o salário porque a empresa não tinha mais dinheiro em caixa, devido o grande número de gente que trocou de trabalho. Antônio ficou perambulando na estação, se despedindo e vendo os amigos lotarem os vagões do trem.
João deu um jeito e entrou em um dos vagões, sem ser percebido. Quando a Maria Fumaça deu o sinal de partida com um longo e estridente apito e sua caldeira quente moveu as engrenagens que acionaram as rodas de ferro, Antônio olhando os amigos que acenavam, não se conteve e pulou, pendurando-se em um dos vagões, deixando para trás o trabalho e o dinheiro a que tinha direito.
Em Pesqueira, com uma parada para reabastecer o trem com água e lenha, um funcionário da estrada de ferro repreendeu Antônio:
- Moço, você não pode viajar desse jeito não!
Antônio respondeu:
- Eu preciso ir de todo jeito!
O funcionário chamou um guarda e Antônio foi obrigado a descer. O trem foi reabastecido e tocou outra vez, dando o seu silvo de partida e assim que começou a andar, Antônio jogou-se de novo, segurando-se às ferragens de um vagão. Depois de um longo caminho, o trem chegou a Bezerros e o funcionário novamente repreendeu Antônio:
- Moço, você não pode ir dessa maneira!
- Eu vou de todo jeito! Respondeu o enfurecido rapaz.
O funcionário não tendo outra solução, embarcou o jovem em um dos apertados vagões e o trem seguiu, parando em Vitória de Santo Antão, onde os peões desembarcaram e foram acomodados em caminhões que os transportaram até as proximidades de Sirinhaém e Camela, em um arraial chamado São Paulo.
Neste local tinha tanto bicho de pé, devido a uma grande criação existente de porcos, que alguns funcionários que contraíram os germes, quase ficaram aleijados. O remédio para acabar com os bichos foi despejar e espalhar uma enorme quantidade de garapa azeda de cana de engenho.
Antônio ficou por alguns meses trabalhando nesta localidade, ganhando 3.000 réis por dia. Começou trabalhando na escavação de terra e no transporte de carrinho de mão, exercendo depois as funções de Cavoqueiro e Marteleteiro a 5.000 réis o dia.
Com o árduo e fatigante trabalho, pelas condições precárias da obra, vários funcionários adoeceram e Antônio foi um deles, contraindo uma forte cesão. A doença abalou profundamente os ânimos de Antônio e por durante seis meses ele ficou sendo auxiliado por amigos e por algumas prostitutas que faziam ponto nas proximidades da obra e acabaram se tornando amigas de Antônio.
Totalmente restabelecido, Antônio partiu para outra empreitada, indo prestar seus serviços nas usinas de beneficiamento de açúcar. Em Santo Amaro de Sirinhaém, Antônio trabalhou nas usinas Estreliana e Jaguaré, exercendo a função de Turbineiro e Ensacador.
Novo caminho trilhado, e o jovem chegou à divisa de Pernambuco e Alagoas onde foi trabalhar nas usinas Serra Grande e Catende, na função de empilhador de sacos. Demorou-se pouco nesta última fazenda por ter trocado tapas com um rapaz de cor negra que o havia perturbado, durante um amontoamento de sacos.
Antônio seguiu para trabalhar na usina O Barquinha, de propriedade do coronel Antônio Fontes, na fazenda Santo Amaro. Em Santo Amaro, em dia festivo, Antônio foi divertir-se um pouco e enquanto dançava com uma moça, aproximou-se um sargento com dois soldados e lhe fizeram as seguintes recomendações:
- Hei, você já foi soldado?
- Não!
- Então dance direito com essa moça!
Antônio continuou dançante até que um dos soldados se aproximou e perguntou:
- Cadê o punhal?
- Eu não tenho punhal!
- Você tá falando muito aborrecido! Venha aqui fora comigo!
Antonio seguiu os soldados. Lá fora, os soldados mandaram Antônio dar um passo para trás e assim que ele atendeu, os policiais começaram a açoitá-lo com varas de pau-bica. Antônio começou se defendendo com os braços e depois correu até um cercado que estava próximo e arrancou uma estaca, confrontando os soldados que recuaram.
Dias depois o comandante intimou Antônio para comparecer à delegacia e lá, depois de longos minutos de conversa, selaram nova amizade.
O policial mandou por Antônio, uma carta para apresentar-se à polícia. Antônio ainda pediu outra carta de recomendação ao coronel Antônio Fontes. No quartel, Antônio passou dez dias limpando armas e fazendo faxina, até o dia que chegou um comandante que recrutava jovens para a fileira dos combatentes do Estado.
O comandante leu as cartas de Antônio, pediu os documentos e Antônio falou que não tinha documentos. Duas filas foram feitas e Antônio ficou na fila dos dispensados. O sonho de ser policial estava acabado.
Sem alternativa, o jovem seguiu caminho indo trabalhar nas fazendas Chã Preta e Tanque Dágua, seguindo depois para cidade de Palmeira dos Índios e logo após chegando a Santana do Ipanema, onde ficou algum tempo exercendo a profissão de barbeiro.
Antônio trabalhava em uma barbearia e diante da pouca presença de fregueses combinou com o dono para ficar trabalhando apenas nos sábados, domingos e feriados, passando os restos dos dias trabalhando na lavoura.
Feito o acordo, Antônio foi arranjar trabalho na fazenda Pedra D’água, de propriedade do senhor Jovino, pai da futura cangaceira Maria, de Pancada. Antônio plantava e cuidava das criações de Jovino, ficando depois, também encarregado de cuidar da casa e dos animais de Antonim, um senhor que possuía uma fazenda junto à de Jovino.
Antônio dividia seus dias lutando nas plantações, colheitas, pastoreando ovelhas e na barbearia. Dia após dia de labuta diária que consumia suas horas, o sol minguava suas forças, a sua juventude perdia-se na falta de opção.
As esperanças afogavam-se nas enxadadas das areias quase sempre secas da caatinga. Como tantos sertanejos fortes que embalados na confiança de uma vida mais digna, envelheceram dedicando seus préstimos a uma convivência pacífica e honrada, vivida no mais absoluto abandono das oligárquicas rurais.
Naqueles socavões, Antônio travaria contato pela primeira vez com homens de vestes estranhas a seu mundo simples. Enquanto abria fendas para depositar as sementes germinantes, Antônio se surpreendeu com a chegada de alguns cangaceiros. Era Virgínio, Luiz Pedro, Maçarico, Fortaleza e Salviano (Medalha), primo de Durvalina.
Os cangaceiros conversaram por alguns minutos e depois entregaram uma carta destinada ao senhor Antonim, pedindo dinheiro e dizendo a data que voltariam para pegarem a encomenda. Antônio não conseguiu esquecer aqueles homens diferentes.
Ele guardou a correspondência e na primeira oportunidade que teve a apresentou ao velho Antonim, que a leu e deixou 200 mil réis para ser entregue aos cangaceiros. Dois meses se passaram até que Antônio tivesse novamente a visita dos Bandoleiros das Caatingas.
O jovem Antônio entregou a quantia deixada por Antonim e sendo convidado por Virgínio e Luiz Pedro para tomar um café onde eles estavam arranchados, não se fez de rogado e aceitou o convite, de imediato. No coito, Antônio permaneceu por três dias, totalmente conquistado pelo estilo de vida do cangaço.
A prova de fogo. No terceiro dia, alguns cangaceiros chegaram ao coito, trazendo amarrado um coiteiro que os havia denunciado a polícia. O homem foi entregue para Antônio matar.
Virgínio deu uma “mauser” para Antônio realizar o crime e ele seguiu a risca a empreitada, disparando a arma no peito do sentenciado, que caiu inerte no meio do acampamento, sendo vítima de uma lei imposta em nome do silêncio.
O matador foi rebatizado depois do crime, quando Luiz Pedro deu-lhe o apelido que serviu de senha para a entrada no bando, saindo de cena o sertanejo Antônio Ignácio da Silva e surgindo o cangaceiro “Moreno”.
Moreno adotou a partir daí, um diferenciado estilo de vida. Nesta mesma hora lhe entregaram um rifle com munições e poucos minutos depois, Moreno teria mais uma prova de fogo, quando encontraram alguns policiais e trocaram tiros, colocando os soldados em desordenada fuga.
O rifle de Moreno apresentou problema e ele não conseguiu disparar nenhum tiro. Depois do combate Moreno queixou-se a Luiz Pedro do acontecido e de imediato, o velho cangaceiro, trocou o rifle por um mosquetão, arma que Moreno só se apartou em 1940 quando abandonou o cangaço.
Deixavam para trás um filho, nascido quando o bando ainda existia, o menino não pôde ficar entre os cangaceiros, pois seu choro poderia denunciá-los. Foi, então, dado a um padre, que o criou. Em Minas Gerais, o casal teve cinco filhos. Um deles, Murilo, conta que o pai foi agricultor, carvoeiro e comerciante.
Por precaução, Moreno passou a se chamar José Antônio Souto. Durvalina tornou-se Jovina Maria. E o passado virou segredo até para os filhos. Aos poucos, porém, o casal deixou escapar a existência do primeiro filho, e os outros decidiram procurá-lo.
Em 2005, Inácio, o menino deixado com o padre, finalmente reencontrou os pais, para a alegria da família. A participação do casal no cangaço acabou conhecida por todos, virou livro ("Moreno e Durvalina - Sangue, amor e fuga no cangaço", de autoria do historiador de João de Sousa Lima) e até filme, ainda não lançado. O sonho de Moreno era vê-lo na telona.
Um dos maiores medos de Antônio Inácio da Silva era ter a morte por decapitação, como fizeram com os seus pares do cangaço. Ele, como um dos sobreviventes do bando de Lampião, Moreno, trazia consigo o temor de ser pego pela macacada e ser degolado e pressentia que a morte de todos do grupo de Lampião era aterrorizante.
Viúvo há dois anos, ele morreu aos cem anos, após sofrer parada cardiorrespiratória, em Belo Horizonte, atendendo a um desejo seu, houve explosão de fogos no seu enterro, para comemorar o fato de ele ter morrido sem ter sido decapitado.
O seu pedido foi ouvido e atendido pelas suas forças protetoras de sua vida.
João Pessoa, 05 de maio de 2011.
Severino Coelho Viana - Pombalense - Promotor de Justiça na Capital
CONTATO: scoelho@globo.com Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
NOTAS DE REFERÊNCIA:
a b Ex-cangaceiro passa por cirurgia em BH Jornal O Tempo — acessado em 7 de setembro de 2010
a b c Um dos últimos cangaceiros do bando de Lampião morre em BH Portal Terra — acessado em 7 de setembro de 2010
a b c "Morre cangaceiro Moreno aos 100 anos" - Diário do Nordeste, de 07/09/2010.
a b "Antônio Inácio da Silva (1909-2010) - Moreno, um cangaceiro de Lampião" - Folha.com, acessado em, 07/09/2010.
a b c "Morre em MG último homem do grupo de Lampião" - Estadão, de 07/09/2010.
Livro –MORENO E DURVALINA – Sangue, Amor e Fuga no Cangaço – Autor – Historiador – João de Sousa Lima.
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Extraído do blog: "Rádio Liberdade"


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