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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

LAMPIÃO EM SERGIPE

Por: Luiz Antonio Barreto

Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião como assinava, morreu em Sergipe em 28 de julho de 1938. Atacado de surpresa por força alagoana na Gruta do Angico, município de Poço Redondo no sertão...
Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião como assinava, morreu em Sergipe em 28 de julho de 1938. Atacado de surpresa por força alagoana na Gruta do Angico, município de Poço Redondo no sertão “sanfranciscano”, seu corpo, depois de decepada e levada a cabeça como troféu de guerra, ficou exposto naquela região sergipana com o da sua companheira Maria de Déa, ou Santinha, a Maria Bonita, e cangaceiros- uma dezena deles - que participavam da reunião dos grupos naqueles dias de desconfiança. A cena da morte de Lampião aconteceu quase dez anos depois das suas primeiras e famosas incursões em Sergipe, em 1929, que representam um capítulo especial na vida do cangaceiro e das quais se ocuparam, mais recentemente, Oleone Coelho Fontes da Bahia, Antonio Amaury de São Paulo e Vera Ferreira, filha de Expedita e neta de Virgulino e de Maria Bonita, de Sergipe. Carira, no oeste sergipano, vizinho ao sertão baiano, parece ter sido o primeiro ponto da presença de Lampião com seu grupo, em Sergipe em 1º de março de 1829 e marcaria um roteiro de visitas por vários municípios do Estado, no vai e vem cíclico que ainda não foi devidamente mapeado e nem registrado textualmente como deveria. A visita de Lampião a Carira foi rápida, precedida de uma comunicação ao Delegado e indicava uma viagem maior chegando até Frei Paulo. Na madrugada do dia 2 de março, depois de conversar com o povo, dar sua versão de como entrou no cangaço e zombar da Polícia, que chegava nos lugares sempre depois de sua saída, Lampião acompanho de 6 homens, voltou para o interior baiano passando pelas terras do Coronel João Sá, chegando já com 10 homens na Fazenda Capitão, em Jeremoabo. A visita seguinte, a Poço Redondo em 19 de abril de 1929, permitiu um encontro de Virgulino Ferreira da Silva com o padre Artur Passos, Pároco de Porto da Folha então celebrando missa naquele povoado como fazia periodicamente. Um diálogo duro entre o cangaceiro e o padre, marcou a presença do grupo em frente da Igreja quando Lampião pediu permissão para assistir missa com seus “rapazes”. Para o padre celebrante, virando-se do altar para o povo viu além do sol fora da capela, cabeças descobertas, sem armas, de braços cruzados, atentos, respeitosos, olhos pregados nele (o Capitão), “Esses homens cujas vidas têm sido um amontoado de crimes, delitos e abominações, mas homens todavia”. Lampião tomou lápis e papel e fez uma lista dos seus homens informando nome, apelido, idade e entregando-a ao padre com observações de defesa. Tinha Lampião 29 anos e estava acompanhado do seu irmão Ezequiel, o Ponto Fino, de 20 anos, Virgínio Fortunato, o Moderno, com 28, Luiz Pedro da Silva, o Esperança, com 24, Cristino Gomes da Silva, o Corisco, com 23, Mariano Gomes da Silva, o Pernambuco, com 25, Hortêncio Gomes da Silva, o Arvoredo, com 24, José Alves dos Santos, o Fortaleza, sem indicação de idade, José Vieira da Silva, o Lavareda, com 27, e Antonio Alves de Souza, o Volta Seca, com 18. Diante de Virgulino Ferreira da Silva, o padre Artur Passos diz: “Alto, acaboclado, robusto, andar firme e compassado, cabeça um tanto inclinada, o olho direito inutilizado, com uma grande mancha branca, olhos brancos de aro de ouro, ou metal dourado, um sinal preto na face direita. Na cabeça, grande, alto, vistoso chapéu de couro, ainda novo, bem trabalhado, a imitar os antigos chapéus de dois bicos, com as pontas para os lados, tendo as largas abas da frente e de detrás erguidas e enfeitadas. Uma estreita tira de couro, ornada, o prende a testa, uma outra à nuca, e uma terceira, o barbicacho, aos queixos. Este chapéu fica, assim, bem seguro e apesar da altura não deve cair com facilidade. Cabelos estirados, cortados à Nazarena, inteiramente bem barbeado. Blusa e calças - perneiras de caqui. Aos pulsos – guarda – pulsos – de couro, de uns quatro dedos de largura. Anéis em todos os dedos, teria na ocasião uns 5 ou 6 na mão direita e uns 6 ou 8 na mão esquerda.” Padre Artur Passos dá em seu testemunho dos jornais, longa descrição da figura quase cavalheiresca do cangaceiro, já integrada ao imaginário do povo brasileiro, especialmente nos estados do Nordeste, onde era tido como “governador” e como “interventor” do sertão. O vigário de Porto da Folha continua construindo a imagem que fez de Lampião: “Duas grandes cartucheiras de um lado e duas iguais do outro, cruzam-se sobre o peito. A cintura, à quisa de cinturão, uma larga cartucheira com dois ou três ordens de cartuchos. Tudo bem enfeitado de ilhoses e placas de metal. Na mão, inseparavelmente, a arma terrível que tantas mortes já vomitou, no rápido crepitar, no lampejar contínuo do qual, segundo consta, se origina o seu nome de guerra. Esta arma não é rifle. É sim um mosquetão de cavalaria, ou coisa semelhante, arma de cinco tiros que tem o ponto curvo. A frente, passando entre as cartucheiras, o já conhecido punhal, de uns três palmos, cabo e bainha de metal branco, arma forte, bonita, mau grado a aplicação que tem, de ótima têmpera. Ao lado e às costas, pendentes de fortes bandoleiras, as sólidas mochilas, bem recheadas de balas, formando uma larga e saliente roda, de grande peso. Tudo isto liga-se ao corpo de modo tal, que forma uma couraça fixa, sem lhe prejudicar os movimentos rápidos. Ao voltar-se para qualquer parte e em qualquer posição, nada desse arsenal se desloca. Usa uma espécie de sapatos de grossas solas e bem feitos. Traz esporas e rebenque e, ao montar, calça umas luvas de pano marrom que cobrem apenas as costas das mãos. Anda sempre bem barbeado. Em tudo guarda serenidade e presença de espírito. Este o homem.” Descrevendo todo o bando, padre Artur Passos diz: “Estes dez homens, moços, fortes, robustos, musculosos, formam um verdadeiro esquadrão sui generis, assim, mais ou menos, igual e formidavelmente uniformizados. Diversos deles, nomeadamente o Moderno, trazem, além dos guarda – pulsos de couro, pulseira nos pulsos e pendentes dos dois bicos quue formam as abas dos grandes, altos e vistosos chapéus. Cabelos bons, cortados à Nazarena, barbeados todos. Trazem muitos anéis em todos os dedos, mas nem os anéis e nem as pulseiras são de grande valor. Alguns trazem cobertas, ou cobertores, bem bordados, sob as cartucheiras, ornadas, bem como as correias das armas, de ilhoses brancos e rodelas de metal. Tal a sua disciplina, que formam um tanto compacto e homogêneo. Alguns são calados e reservados. Não mostram, porém, face carrancuda, nem os vi com maus modos. Não têm, inclusive Lampeão, cara repelente, como imaginamos nos bandidos em geral, devendo frizar, porém, o olhar especial de um deles, o fedelho de 16 a 18 anos, que os acompanha. Estão bem armados, todos, trazendo alguns 2 ou 3 revólveres e, ao que parece, bem municiados. Apenas uns 3 ou 4 estão armados a rifles, os demais, como Lampeão, trazem mosquetão de cavalaria. Observei bem que são destemidos e valentes.” (continua) * Trecho do ensaio O Encontro de Lampeão com o Padre, do livro O Incenso e o Enxofre. Permitida a reprodução desde que citada a fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet"
Extraído do blog: Luiz Antonio Barreto

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