Por: Geraldo Maia do Nascimento
Nos anos cinqüenta, o Nordeste brasileiro sofreu uma das maiores secas já registradas, deixando a terra calcinada e a população faminta. Por essa época, foi lançado um apelo à generosidade do povo do Sudeste e Sul, em favor dos flagelados nordestinos, através de uma campanha intitulada: “Ajuda Teu Irmão”. Os poderes públicos, além de não tomarem qualquer providência substancial, pareciam desfrutar a comodidade que lhes proporcionava a iniciativa popular.
Revoltados com o fato, o poeta Zé Dantas compôs, em parceria com Luís Gonzaga, uma toada-baião com o título de “Vozes da Seca”, onde protestavam contra o comportamento dos governantes. Dizia a letra:
“Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista
nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado
temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê.
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage.
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos”.
O fato mostra que, mesmo sendo um conceito de difícil apreensão por classes sociais mais abastadas, é justamente um artista popular o que vai definir com exatidão o conceito de plena cidadania, onde estabelece uma relação de contrato com o governante, autônoma e independente, e para além do conformismo passivo do assistencialismo demagógico.
“Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista
nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado
temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê.
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage.
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos”.
O fato mostra que, mesmo sendo um conceito de difícil apreensão por classes sociais mais abastadas, é justamente um artista popular o que vai definir com exatidão o conceito de plena cidadania, onde estabelece uma relação de contrato com o governante, autônoma e independente, e para além do conformismo passivo do assistencialismo demagógico.
Zé Dantas e Luis Gonzaga, com essa letra, estabeleceram uma das mais vigorosas afirmações da cidadania brasileira, ao contrário do que muitos intelectuais de esquerda iriam tentar insinuar nos anos de chumbo da década de 60/70.
Mais de cinquenta anos se passaram do protesto de Gonzaga e Zé Dantas e, no entanto, pouca coisa mudou no cenário político. A toada continua tão atual quanto era no seu lançamento a mais de meio século. Por tudo isso passamos a refletir: o que realmente mudou no Brasil com relação às secas do sertão? Que programas foram implantados para que o nordestino do campo não fique a mercê das chuvas? As esmolas públicas foram substituídas por programas de incentivo ao pequeno agricultor? Os atuais programas sociais implantados pelo governo federal tipo “Bolsa Família,” não serão apenas outro tipo de esmolas para o homem do campo sem nenhum incentivo a produção? Os assentamentos rurais, por exemplo, fruto de tantas batalhas e processos jurídicos, têm se mostrado produtivos?
Deixamos a questão em aberta para reflexão do leitor. Apenas lembramos que num regime democrático, como é o nosso, “o governo é o povo”.
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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento
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