Por: Rangel Alves da Costa*
OS DESEJOS PROIBIDOS
O tempora! O mores! Que tempos, que costumes! Assim se pronunciou o romano Cícero ao se referir à decadência moral de sua época. Caberia agora repetir tal expressão latina diante desses tempos modernos e tecnologicamente desenfreados?
Mas claro que sim. O progresso tecnológico não veio acompanhado do aperfeiçoamento moral do ser humano. Muito pelo contrário, quanto mais se inova mais o indivíduo deixa de se reconhecer enquanto portador de valores e deixa-se triturar pelos absurdos que chegam multiplicados, pois tudo em série.
E o mais absurdo ainda é que pretendem ver como alijados desse mundo novo todos aqueles que lutam para manter suas virtudes; todos aqueles que se mantêm distanciados da luxúria e da devassidão, das entregas fáceis e da vulgarização corporal e sexual; todos aqueles que não pretendem ocultar sua religiosidade, sua fé e sua devoção. Assim, quem não se deixa levar pela enxurrada dos modismos perversos passou a ser visto como inapto ao exigente convívio social.
Parece verdadeiro absurdo, mas atualmente não seria demais afirmar que pessoas são proibidas de ser como intimamente desejam, de não praticar aquilo que a sociedade maléfica e perniciosa pretende, de se abster de não se transformar forçosamente em algo imprestável para atender aos anseios dos novos tempos. Ora, aos olhos de muitos não há pecado maior nesses dias do que não viver se entregando a pecados.
Só mesmo muita força e persistência, destemor e determinação, para a pessoa se impor como deseja ser e não se desvirtuar pelos caminhos errôneos a cada momento mostrados. Que não se duvide o quanto sacrifício será para vencer os cochichos do mal, as graciosidades perversas, os convites da perdição. É como se flores do mal, belamente enfeitadas numa cesta de intemperança, fossem todos os dias colocadas à porta como num irrecusável convite ao erro.
Se a pessoa for fraca realmente se deixará levar, pois as lições imprestáveis chegam na televisão, no olhar adiante da janela, no mundo lá fora. Em grande parte, a sociedade se tornou escola maior de tudo que seja fútil, vulgar, imprestável, desonesto e imoral, e dela a pessoa não pode fugir com facilidade. Ademais, chega um amigo e até um parente insistindo para que faça exatamente aquilo que o íntimo não deseja e a personalidade não permite.
Em muitas situações, os desejos íntimos, os anseios da personalidade, os reclamos pessoais se tornam proibidos. E proibidos porque o mundo perverso e pervertido não comunga com aquele que procura viver em castidade, na pureza possível, com jeito conservador próprio de ser. A sociedade não acata e procura reprimir a inocência, a singeleza, a correção moral, as virtudes positivas.
Nesse desvão da vida, muitos desejos sempre tidos como normais se tornaram proibidos, impossíveis de se realizar, principalmente porque é muito difícil encontrar outra pessoa que comungue dos mesmos sentimentos de preservação moral. Assim, se tornaram desejos proibidos o amor verdadeiro, o namoro sem apelações, o diálogo como forma de compreender o outro e o mundo ao redor.
Tornaram-se desejos proibidos amar ao próximo como a si mesmo, demonstrar respeito aos mais velhos, ser piedoso com os mais necessitados, dar a mão àquele que precisa de ajuda para se erguer, olhar e sorrir para o outro sem que isto seja compreendido como má intencionalidade, procurar partilhar a alegria e a felicidade, dialogar palavras recheadas de boas lições, pedir sem ter que dar nada em troca, oferecer sem que o ofertado ache que tem de retribuir.
É proibido principalmente ser verdadeiro, honesto, ter um bom egoísmo para se achar importante e capaz acima de tudo, vaidoso na preservação própria, orgulhoso dos atos não corrompidos. E certamente vão querer proibir, mas jamais conseguirão afastar o seu desejo permanente e infinito de ter Deus no coração.
Poeta e cronista
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