Por: Alcyr Veras - economista e professor universitário
A história de vida do cearense Delmiro Gouveia, um pequeno comerciante de algodão e couro no interior de Pernambuco, que alcançou grande projeção e notoriedade em todo o Nordeste, tem início com a instalação, em 1903, de uma minúscula fábrica de linhas de coser (com a marca "Linhas Estrela"), na localidade denominada Pedra, em pleno sertão alagoano, próximo às margens do Rio São Francisco.
Para muitos, considerado como um "visionário sonhador de ilusões", Delmiro Gouveia foi o primeiro a inspirar-se na idéia do aproveitamento da cachoeira de Paulo Afonso para a instalação de uma Usina Hidrelétrica.
Em 1909, na expectativa de contar com apoio de políticos do Nordeste, Delmiro trouxe ao Brasil a missão econômica norte-americana Moore, ao mesmo tempo em que fez contatos com as empresas Bromberg do Rio de Janeiro e a W.R. Brand Company de Londres, à qual havia encomendado projetos de eletrificação. Decepcionado por não ter obtido o apoio necessário do então recém eleito presidente do Estado de Pernambuco, General Dantas Barreto, para a construção da sonhada hidrelétrica, Delmiro resolveu, mesmo sozinho, levar adiante sua idéia. Encarando o desafio com obstinada força de vontade, disse aos amigos: "a partir desta pequena fábrica firmarei meu empreendimento. Muita coisa virá em seguida. Levarei energia elétrica por este mundo afora. Irrigarei as terras, nosso sertão vai progredir. Abrirei estradas de rodagem acompanhando a rede de alta tensão por Alagoas, Pernambuco e estados vizinhos". O extraordinário é observar que tudo isso viria a acontecer quarenta anos após sua morte, com a construção da Hidrelétrica de Paulo Afonso.
Em pouco tempo, Pedra transformou-se numa pequena "cidade industrial" utilizando como matéria prima o algodão seridó. Em 1915, o excursionista Plínio Cavalcante, ao visitá-la, assim se expressou: "nunca mais se apagará de meus olhos deslumbrados a risonha miragem daquela cidadezinha tão branca e limpa que, à primeira vista, julguei tratar-se de um grande algodoal de capulhos alvejantes".
Vítima de emboscada, Delmiro Gouveia foi assassinado a tiros no dia 17 de outubro de 1917. Era um homem destemido e de reconhecido carisma popular. Sua morte até hoje é cercada de intrigantes mistérios e enígmas. Há várias versões a respeito do crime. Teria sido de natureza passional; ou por motivação política de autoria de seus adversários; ou ainda de ordem econômica pela disputa de mercado com a concorrente multinacional Machine Cotton (das linhas corrente laranja) que, semanas antes daquele fatídico dia, teria feito milionária proposta de compra, irrevogavelmente recusada por Delmiro. Um homem simples do povo de Pedra, indignado com seu covarde assassinato, disse: "atiraram nele para matar a fábrica". Outro incondicional admirador dedicou-lhe esta singela quadra: "Quando o enterro de Delmiro foi pela rua passando/parece que a gente ouvia a Cachoeira chorando".
Publicado em Tribuna do Norte
Autor: Alcyr Veras
Nota: Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, chegou a transportar algodão em lombos de animais para a fábrica do coronel Delmiro Gouveia, em Pedra, no Estado de Alagoas. Só que no perído que ele trabalhou para Delmiro, era honesto e trabalhador.
Nota: Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, chegou a transportar algodão em lombos de animais para a fábrica do coronel Delmiro Gouveia, em Pedra, no Estado de Alagoas. Só que no perído que ele trabalhou para Delmiro, era honesto e trabalhador.
Extraído do blog:
"O Cangaço em Foco",
do escritor, pesquisador do cangaço e Delegado de Polícial Civil no Estado de Sergipe, Dr. Archimedes Marques
grande+idealista+nordestino
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