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domingo, 5 de maio de 2013

"Uma das balas de Antonio Silvino atravessou o coração de minha tia Filonila"

Por: Cícero Dias(*)

O Jundiá era um engenho cheio de histórias. Um dos mais ricos em histórias do Nordeste brasileiro. Histórias como a da passagem de Lorde Carnovon por Pernambuco, no século passado. Lorde Carnovon era o famosos descobridor do túmulo de Tankamon no Egito.

Chegou no Recife com uma grande comitiva e como não havia na cidade um bom hotel para acolhê-lo, foi hospedar-se no Jundiá a convite de meu avô. Contavam-se histórias desta comitiva atravessando os canaviais da zona da mata, debaixo de chuvas torrenciais, com suas carruagens e cavalos carregados de bagagens. Ficou por um mês hóspede do meu avô no Jundiá. Houve também dramas no Judiá. 

Certa vez, um bando de cangaceiros invadiu e atacou o engenho. Era o bando do temido Antônio Silvino, cangaceiro dos sertões. Não era comum esse tipo de ataque aos engenhos. Os cangaceiros eram bandidos oriundos do sertão, era no sertão que eles atacavam fazendas, roubavam gado, assaltavam pequenas cidades.

Raramente eles vinham até a zona da mata, região dos canaviais. Mas   Antonio Silvino tinha ouvido falar das grandes riquezas do meu avô, homem possuidor de muitos engenhos de açúcar e outras propriedades.

Antonio Silvino Silvino resolveu então atacar os engenhos do meu avô. O primeiro ataque do cangaceiro foi precisamente contra o engenho Judiá, onde todos, vivíamos inclusive meu avô. Aliás, neste ataque só não prenderam meu avô porque ele estava na usina e não na Casa Grande.

A Casa Grande do Jundiá ficou cercada pelos cangaceiros de Antonio Silvino. Armou-se um grande tiroteio na frente da casa e uma das balas de Antonio Silvino atravessou o coração de minha tia Filonila,, que morreu instantaneamente. Os cangaceiros finalmente fugiram. Eu era pequeno, devia ter seis anos, mas me lembro da grande tristeza que se abateu sobre o Jundiá com a morte da tia Filonila.

(*) Um dos mais importantes pintores brasileiros. Reside em Paris. Transcrito do livro Cícero Dias Ano 20, editora Index, Rio de Janeiro. 1993.

Fonte:
Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano IX
Julho de 1995

Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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