Por: Hélio Pólvora
A credulidade
do sertanejo — e, de resto, de outros segmentos incultos — é (ou era) espessa e
opaca. Anda sempre com o nome de Deus na boca, a propósito de tudo e de nada.
Engrossa uma agenda de penúrias e expectativas de salvação que lhe endurece a
alma, que o transforma em estoico extremado, sobretudo nas estiagens longas e
advento da seca.
Pelo menos até um passado recente, o sertanejo fazia-se alto credor do Reino dos Céus, sem dar prioridade ao reino na terra pregado pela Teologia da Libertação — uma dissidência pragmática no apostolado católico submisso ao instalado poder de mando, a cuja sombra viceja. Promessas repetidas de satisfatória vida eterna cansam; melhor antecipar a participação na mesa do consumo.
É de lamentar-se, apenas, que tal mudança de rumo propicie a subida de notórios malfeitores sanguinários aos altares, para culto idolatra de setores de pensamento ideologicamente fanatizados. Seria este o caso do argentino-cubano Ernesto Guevara, em quem alguns exegetas ancoram o “guerrilheiro” Lampião, na qualidade de antecipador.
Mas o Rei Vesgo, vale repetir, não tinha programa revolucionário em mente. Era protagonista de uma revolta inconsciente, indefinida, mais de natureza pessoal, familiar e comunitária. Agia instigado por injustiças econômicas e sociais flagrantes, mas, crédulo que era do perdão divino (e da história, convém frisar), absolvido que se sentia pela bênção de padres, comungou com gosto e fervor espiritual de missas paroquianas.
Pelo menos até um passado recente, o sertanejo fazia-se alto credor do Reino dos Céus, sem dar prioridade ao reino na terra pregado pela Teologia da Libertação — uma dissidência pragmática no apostolado católico submisso ao instalado poder de mando, a cuja sombra viceja. Promessas repetidas de satisfatória vida eterna cansam; melhor antecipar a participação na mesa do consumo.
É de lamentar-se, apenas, que tal mudança de rumo propicie a subida de notórios malfeitores sanguinários aos altares, para culto idolatra de setores de pensamento ideologicamente fanatizados. Seria este o caso do argentino-cubano Ernesto Guevara, em quem alguns exegetas ancoram o “guerrilheiro” Lampião, na qualidade de antecipador.
Mas o Rei Vesgo, vale repetir, não tinha programa revolucionário em mente. Era protagonista de uma revolta inconsciente, indefinida, mais de natureza pessoal, familiar e comunitária. Agia instigado por injustiças econômicas e sociais flagrantes, mas, crédulo que era do perdão divino (e da história, convém frisar), absolvido que se sentia pela bênção de padres, comungou com gosto e fervor espiritual de missas paroquianas.
Padre Cícero e Benjamim Abraão - o único homem que filmou Lampião nas caatingas do Nordeste Brasileiro
Além da
devoção ao Padre Cícero, o taumaturgo de Juazeiro do Norte, até hoje cultuado
pelas populações nordestinas como milagreiro, e em processo de santificação,
Lampião desfrutou da amizade — e por que não dizer favores? — de alguns padres.
O “Padim Ciço”, por exemplo, entregou-lhe a patente de capitão dos Exércitos
Patrióticos, para que enfrentasse a Coluna Prestes – fato que só teria ocorrido
uma vez, e antes. Nesse lance, Lampião julgara-se rastreado pela polícia.
O padre Artur Passos chegava ao povoado sergipano de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo em lombo de burro, meados de agosto, para celebrar missas em louvor da padroeira. Hospedava-o Teotônio Alves Lima, o China, pessoa influente, de convidados à mesa, sabedor de sua amizade secreta com Lampião, sustentada pelo coiteiro Mané Félix.
O padre Artur Passos chegava ao povoado sergipano de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo em lombo de burro, meados de agosto, para celebrar missas em louvor da padroeira. Hospedava-o Teotônio Alves Lima, o China, pessoa influente, de convidados à mesa, sabedor de sua amizade secreta com Lampião, sustentada pelo coiteiro Mané Félix.
O coiteiro de Lampião Mané Félix - O último coiteiro que esteve com Lampião antes da sua morte, na madrugada de 28 de Julho de 1938 ´na Grota de Angico - SE
Lá pelas tantas, avisado e fingidor, porque no púlpito
combatia o cangaço, o padre sumia-se a cavalo, com o recadeiro e uma provisão
de aguardentes e alimentos. No acampamento confessava os cangaceiros,
absolvia-os e não desdenhava um baralho, durante horas, enquanto bebiam vinho
de jurubeba e cachaça apurada. Segundo narra o cronista Rangel Alves da Costa,
quando o fogo lhe subia às ventas Padre Artur danava-se a dedilhar uma sanfona.
Rangel Alves da Costa
Do exposto até aqui transparece que o cangaço, mais que banditismo foi um meio de vida. O próprio Rei Vesgo teria dito ao padre Emílio Ferreira, em 1929: “Hoje em dia a vida só é boa para o soldado e para o bandido”. O Brasil penava uma fase dura de insegurança institucional, estava longe da industrialização ensaiada por Getúlio Vargas. A crise do café, maior bem de exportação, deve ser pesada na Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.
http://www.vidaslusofonas.pt/lampiao.htm
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Pois é meu caro pesquisador Mendes, agradecido pelo lembrete, e estou entendendo que você fracionou um texto amplo de Hélio Pólvora em vários textos para adequar ao estilo do blog. Todos eles passam pela minha impressora e são colocados em encadernação para as necessárias citações. São textos excelentes para a minha compreensão.
ResponderExcluirAbraços,
Antonio Oliveira - Serrinha