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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

CANGAÇO NÃO É CANGA

Por Clerisvaldo B. Chagas, 26 de setembro de 2014 - Crônica Nº 1.268

As histórias de Virgolino ganharam o mundo recheadas de mentiras cabeludas. A própria Wikipédia diz que Lampião era ex-coronel da Guarda Nacional. Nunca jamais havia visto uma coisa absurda dessa! Mas alguém escreveu isso e mandou para lá. Já pensou, amigo, Lampião como coronel da guarda nacional!


Até alguns sociólogos quando chegam aos seus limites procuram esticar a corda com teorias nada condizentes. Quero me referir hoje a esse negócio que uns copiam do primeiro que disse que Cangaço vem de canga de botar em junta de bois; viver debaixo da canga e assim por diante. Nunca engoli essa teoria. Cangaço no Nordeste nunca foi canga e grande distância tem.

Cangaço nos sertões nordestinos sempre foi ossada; esqueleto; caveira; magro demais. Nem precisamos ir tão longe. Veja dois cantadores de embolada em dia de feira-livre, no sertão:

“Se eu te pegar
Como peguei a codorniz
Como-lhe a carne por dentro
Deixo o cangaço pra Luís”.

Resposta do adversário:

“Se eu te pegar
Como peguei o nambu-pé
Como-lhe a carne por dentro
Deixo o cangaço lá em pé”.


Portanto aí está o verdadeiro significado de cangaço. A própria Dadá de Corisco afirmava que cangaço é esqueleto, ossada.

Por outro lado já foram citadas milhares de frases como esta, no Nordeste: “Você está muito magro, tá só o cangaço”. Quer dizer, só os ossos.

Cangaço significa, pois, ossos, ossadas, esqueleto, magro demais; última escala social; os restos; os ossos; o que não presta; o não aproveitável. Cair no cangaço: cair no restolho da vida, na marginalidade, virar caveira, algo sem serventia.

Nascido e criado no sertão de Alagoas, não poderia deixar passar brejeiro o cavalo das ilusões.
       
Cangaço não é e nunca foi canga de botar em bois; nem viver sob o jugo da canga. Nem que seja o papa que tenha dito. Ora!



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