Por Rangel Alves
da Costa*
A espera
atormenta o ser. Nada mais aflitivo que esperar, esperar e esperar. Mesmo o
encontro marcado, a data confirmada, a certeza da chegada, ainda assim uma
verdadeira aflição a cada instante. Quanto mais o tempo passa mais a
expectativa aumenta, e também o tormento pelo relógio que corre e sem nada
avistar.
Esperar é ato
tão angustiante que envolve o tempo, a idade e a até mesmo a vida. A espera
está no calendário, no relógio de pulso e de parede, no sino da igreja, na
porta e na janela, no olhar e no coração. A espera está na estrada, na
distância, na curva, no vento, no pensamento.
A espera faz o
coração apertar, o tempo parar, o tempo correr, o olho secar de tanto olhar e
nada avistar. E da janela se avista o horizonte, da porta se avista o mundo, da
estrada se avista a curva, da curva se avista ao longe, mas nada avista o que
tanto deseja que chegue. Instantes cruéis onde até o vento parece chegar
trazendo recados.
Há gente que
espera o carteiro, o leiteiro, o vendedor de picolés. Há gente que espera pelos
corredores, que anda de lado a outro, desejoso que chegue logo o anúncio do
nascimento do filho. Há gente que espera nas filas, nos corredores dos
hospitais, nas salas de recepção. E é um tempo que nunca passa, um chamado que
nunca chega, um tormento que não acaba.
Há gente que
desiste de esperar, que simplesmente desacredita que qualquer coisa possa
acontecer. Impossível que se mantenha hora após hora esperando a notícia, o
encontro, a chegada. Ninguém merece enlouquecer esperando eternamente o que talvez
nem se recorde mais de sua existência. Mas sofrimento terrível quando a saudade
reacende a vontade de encontrar.
Dizem que
somente na natureza são cumpridos os compromissos de espera. Mais cedo ou mais
tarde tudo acontece. As estações têm tempo certo para chegar e partir, as
árvores derrubadas têm tempo certo para renascer, os renascimentos sempre
surgem após as devastações. As demoras são somente para desacreditar o homem,
que com sua foice espera mais um tronco para destruir.
Mas nem todo
mundo desiste de esperar, ainda que os anos passem e tudo pareça impossível de
acontecer. Assim aconteceu com alguém que dia após dia esperava a chegada de
outro alguém. Ou talvez de uma carta ou qualquer notícia já antiga de tanto
esperar. Não se sabe ao certo se cinco anos ou mais, dez ou mais anos, apenas
se sabe que esperou e esperou.
Todo dia, logo
amanhecer, abria a porta e olhava adiante, ao longo da estrada, pelas suas
curvas, procurando avistar algum vulto vindo naquela direção. Fazia a mesma
coisa ao abrir a janela. Qualquer barulho que ouvisse lhe despertava a atenção,
qualquer formação de poeira já lhe parecia a estrada sendo caminhada por alguém
que vinha.
Ao sentar na
calçada, debaixo do sol ou às sombras do entardecer, outra coisa não fazia
senão lançar o olhar pelas distâncias. Era um olhar tão triste que parecia
chorado, sofrido, angustiado. Era um olhar no brilho da esperança e na sequidão
dos desesperançados. Mas o tempo passava e nada de vulto ou sombra, de passos
ou acenos.
De vez em
quando subia na pedra mais alta e lá do alto tentava avistar o que tanto
esperava. Sua aflição era tamanha, sua angústia tão dilacerante, que até mesmo
entre as nuvens procurava avistar algum sinal. Mas depois descia desconsolado,
ainda mais entristecido, e novamente retornava à sua cadeira na calçada. E para
esperar.
Mas um dia,
antes que o sol espalhasse pelas nuvens suas tintas vermelhas de despedida, ele
foi surpreendido com um vulto ao longe. Levantou quase num pulo, correu pela
estrada naquela direção, e lhe pareceu avistar quem tanto esperava. Porém não
suportou a emoção e caiu ao chão. Não pôde mais sentir a mão acariciando seu
rosto e a voz dizendo: O mais triste dos reencontros. Vai com Deus, meu amor!
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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