Contaremos
hoje a história, não de um cangaceiro desconhecido, mas, uma que quem participa
é o próprio Lampião, quando ajuda um amigo, amigo de infância, até de escola,
em seu casamento, no povoado São José.
Os relatos
abaixo citados são de Quitéria, filha de Manoel Bezerra de Macena, mais
conhecido como Doca, e de dona Isabel Ferreira da Luz, conhecida por Isabel de
Doca.
Vamos ao
relato de Dona Quitéria...
"Entre as
terras desses guardiões, no povoado de São José, a 6km de Alagoa Nova, morava
Doca. Manoel Bezerra de Macena, mais conhecido como Doca, era pai de Quitéria,
de China e de Zé de Doca. Casou-se com a manairense Isabel Ferreira da Luz,
conhecida por Isabel de Doca e que era tia de Didi Pereira da Silva. Todos
esses nomes são de pessoas bem conhecidas dos manairenses. Ambos são
descendentes dos primeiros fundadores da Fazenda São José. Ele, descendente de
José Bizerra Leite, ela de Ignacio ou de Felix Ferreira da Luz.
Na juventude,
Doca teria estudado algumas aulas junto com Virgulino Ferreira, construindo
certa amizade, mantendo-a mesmo depois que este enveredou pelas trilhas do
cangaço.
Nos anos 20,
junto com Marcolino, comunicaram um local, julgado seguro, que permitiu a
Lampião apoiar-se por vários anos nas imediações do Pau Ferrado.
Doca teve um
desentendimento com o chefe do povoado onde residia e isso passou a trazer-lhe
certos desconfortos. Quando resolveu casar-se com a manairense Isabel Ferreira
da Luz, queria que a celebração ocorresse no São José, onde morava. O chefe da
localidade mandou um recado a Doca informando que não permitiria que houvesse
festa no casamento. Seria muita gente e ia fazer muito barulho. Naquela época,
casamento tinha que ter o baile, mas ninguém podia ir contra uma ordem de um
mandatário local.
Lampião soube
dessa notícia e mandou um recado para Doca: “Amigo, pode contratá o sanfoneiro
e organizá o baile que ninguém vai atrapaiá.”
No dia 23 de
novembro de 1923, depois do casamento, chegou uma tropa armada. Vieram “passar
a guarda” no casamento (garantir a tranquilidade). “Lampião apitou num apito e
mandou chamar Pai”. Pai foi e Lampião disse “pode botá o baile que eu quero vê
quem num qué escutá”.
A festa
aconteceu, o sanfoneiro tocou e nada interrompeu a alegria. Atrás da casa, sob
as árvores, ficaram os cabras, aos quais foi servido um farto jantar. Há quem
diga que eram 17, outros afirmam que eram 40 cangaceiros. Doca chamou Lampião
para jantar dentro da casa e, ali pela madrugada, o convidado disse: “a festa
tá boa, Doca, mas eu vou imbora.”
Lampião levou
como presente de casamento, para Doca, uma garrafa de fino vinho francês,
envasado em garrafa de cristal decorado (foto a direita). Para Isabel, levou
uma “vorta (colar) de muito bom tamanho, vorta de ouro e mais um pá de dois
brinco” (foto a esquerda). Quitéria conta que, muitos anos depois, Isabel
trocou por um cavalo, somente os brincos. “Mas o cavalo morreu. O cavalo era de
Filiciano, mas Filiciano morreu. Ele deu os brinco a Maria de Zé Grande, mas
Maria de Zé Grande Morreu. Depois eu não sei mais não, acho que ninguém teve
sorte com eles (os brincos)”.
Não somente na
época do casamento, mas em outros momentos de lazer, na sala da casa de Doca
tinha uma mesa onde Lampião fazia suas refeições e se distraía, jogando cartas
de baralho. A mesa tinha uma grande gaveta, com fundo falso.
“Na revorta de
30 pai amarrou dois fuzi debaixo da gaveta (no compartimento do fundo falso).
Os sordado vieram, quebraram tudo, inxero a casa de buraco de tiro, mas quando
a guerra acabou nós chegô do Brejo (Triunfo) e nós chegô e tava lá os dois
rife, a Puliça num achô.”
Uma bandeja em
grosso alumínio era o prato utilizado pelo cangaceiro para sua alimentação. A
casa ainda mantém-se de pé e é cuidada pela filha mais velha do casal que nos reconta
essas histórias."
(Transcrito)
Fonte http://www.manaira.net
FUNAAD - Fundação Antônio Antas Diniz - Manaíra - PB
FUNAAD - Fundação Antônio Antas Diniz - Manaíra - PB
Foto Fundação
Ct.
Fonte II: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo:
Ofício das Espingardas
Http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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