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terça-feira, 2 de agosto de 2016

HENRY KOSTER E MOSSORÓ EM 1810

Por Geraldo Maia

A mais antiga descrição que existe de Mossoró do passado é de autoria do viajante inglês Henry Koster, que em 1810 realizou uma jornada fabulosa pelo interior do nordeste, indo de Recife a Pernambuco a cavalo, ida e volta, observando e anotando tudo o que via. No trajeto de Koster estava o pequeno arraial de Santa Luzia, que não passou despercebida aos olhos observadores do viajante inglês. Para o historiador Câmara Cascudo, “é o primeiro e melhor depoimento sociológico e etnográfico da região.”

Henry Koster vivia desde dezembro de 1809 em Pernambuco, onde possuía engenho em Itamaracá. Era conhecido na região como Henrique da Costa. Falava fluentemente o português e veio para o nordeste brasileiro fugindo do inverno europeu, por estar acometido de tuberculose. Morreu em por volta de 1820 no Recife.

Das observações feitas durante a jornada de Recife a Pernambuco, Koster publicou um livro em Londres, no ano de 1816, com o título de “TRAVELS IN BRAZIL” ,em dois volumes. Em 1817 era lançada uma segunda edição que foi traduzida para português pelo historiador Câmara Cascudo e publicada pela Brasiliana, São Paulo, em 1942, com o nome de “VIAGENS AO NORDESTE DO BRASIL”. É através desse trabalho que ficamos sabendo como era Mossoró em 1810. Vejamos trechos da descrição de Koster:

“A 7 de dezembro, às dez horas da manhã, chegamos ao arraial de Santa Luzia, que consta de duzentos ou trezentos habitantes. Foi edificado em quadrângulo tendo uma igreja e casas pequenas e baixas.

Pude reencher minhas garrafas de bebidas e consegui suprir-me de rapaduras. São tijolos de açúcar escuro ou de mel, fervido até suficiente consistência ao resfriar, tornando-se desta maneira mais portáteis e menos sujeito a liqüefazer-se durante o transporte. No dia anterior à nossa chegada a Santa Luzia descansamos o meio-dia sob umas árvores, junto a uma casinha. Notei uma pele de onça, a onça pintada, na linguagem da região, esticada sobre varetas de pau. Parecia ainda fresca. Entretendo conversa com o dono da casa, disse-me ele ter morto o animal a quem pertencia a pele um dia antes, ajudado por três cães. Fazia grande devastação, especialmente entre as ovelhas, escapando sempre e nunca aparecendo no mesmo local duas vezes sucessivas.

Nesse dia tínhamos passado o leito seco do Panema. Era o terceiro rio que atravessávamos desde nossa partida do Assu e todos nas mesmas condições.

Santa Luzia está situada na margem setentrional do rio sem água, num terreno arenoso. Repousamos o meio-dia sob o teto de uma cabana ínfima. Ao centro, as cinzas de um fogo morto, um banco feito de galhos entrelaçados, eram os indícios que fora habitada.

Passamos a fazenda da Ilha, distante de Santa Luzia légua e meia e prosseguimos, depois de nos abastecermos de água, quatro léguas adiante, até uma casa desabitada.

O caminho pela manhã seguinte nos levava entre matagais onde marchamos três léguas sobre areia solta, e outras três léguas pelos charcos. A volta do meio dia passamos perto de uma choupana onde residia o vaqueiro de uma fazenda e imediatamente deparamos o monte de areia, chamado Tibáu, junto do qual se vê o mar.

Avançamos rapidamente pelas areias úmidas, passamos duas choupanas de pescadores, a duas léguas de Tibáu e, uma légua adiante, deixamos as praias do mar, seguindo um caminho areiento, que nos conduziu ao povoado de Areias, composto de uma residência, de aspecto imponente, e cinco ou seis casinhas de palha.”

Pelo relato de Koster podemos conhecer como era Mossoró em 1810. Duzentos ou trezentos moradores espalhados em fazendas ao redor da igrejinha que presidia o quadro da rua de casas pequenas e baixas. Os rebanhos eram rondados pelas onças e a seca dominava, deixando os rios secos. O mossoroense reagia, matando as feras a tiro e a faca, ajudado pelo cão fiel, defendendo o gado, pescando nas praias de Tibáu.
Mossoró prestou homenagem a Henry Koster, emprestando o seu nome a uma rua do conjunto Walfredo Gurgel, onde coincidentemente mora o historiador e pesquisador Raimundo Soares de Brito.

Geraldo Maia. Economista. Historiador. Escritor.Funcionário da PETROBRAS S.A.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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