Por Geraldo Maia
A mais antiga
descrição que existe de Mossoró do passado é de autoria do viajante inglês
Henry Koster, que em 1810 realizou uma jornada fabulosa pelo interior do
nordeste, indo de Recife a Pernambuco a cavalo, ida e volta, observando e
anotando tudo o que via. No trajeto de Koster estava o pequeno arraial de Santa
Luzia, que não passou despercebida aos olhos observadores do viajante inglês.
Para o historiador Câmara Cascudo, “é o primeiro e melhor depoimento
sociológico e etnográfico da região.”
Henry Koster
vivia desde dezembro de 1809 em Pernambuco, onde possuía engenho em Itamaracá.
Era conhecido na região como Henrique da Costa. Falava fluentemente o português
e veio para o nordeste brasileiro fugindo do inverno europeu, por estar
acometido de tuberculose. Morreu em por volta de 1820 no Recife.
Das
observações feitas durante a jornada de Recife a Pernambuco, Koster publicou um
livro em Londres, no ano de 1816, com o título de “TRAVELS IN BRAZIL” ,em dois volumes. Em 1817
era lançada uma segunda edição que foi traduzida para português pelo
historiador Câmara Cascudo e publicada pela Brasiliana, São Paulo, em 1942, com
o nome de “VIAGENS AO NORDESTE DO BRASIL”. É através desse trabalho que ficamos
sabendo como era Mossoró em 1810. Vejamos trechos da descrição de Koster:
“A 7 de
dezembro, às dez horas da manhã, chegamos ao arraial de Santa Luzia, que consta
de duzentos ou trezentos habitantes. Foi edificado em quadrângulo tendo uma
igreja e casas pequenas e baixas.
Pude reencher
minhas garrafas de bebidas e consegui suprir-me de rapaduras. São tijolos de
açúcar escuro ou de mel, fervido até suficiente consistência ao resfriar,
tornando-se desta maneira mais portáteis e menos sujeito a liqüefazer-se
durante o transporte. No dia anterior à nossa chegada a Santa Luzia descansamos
o meio-dia sob umas árvores, junto a uma casinha. Notei uma pele de onça, a
onça pintada, na linguagem da região, esticada sobre varetas de pau. Parecia
ainda fresca. Entretendo conversa com o dono da casa, disse-me ele ter morto o
animal a quem pertencia a pele um dia antes, ajudado por três cães. Fazia
grande devastação, especialmente entre as ovelhas, escapando sempre e nunca
aparecendo no mesmo local duas vezes sucessivas.
Nesse dia
tínhamos passado o leito seco do Panema. Era o terceiro rio que atravessávamos
desde nossa partida do Assu e todos nas mesmas condições.
Santa Luzia
está situada na margem setentrional do rio sem água, num terreno arenoso.
Repousamos o meio-dia sob o teto de uma cabana ínfima. Ao centro, as cinzas de
um fogo morto, um banco feito de galhos entrelaçados, eram os indícios que fora
habitada.
Passamos a
fazenda da Ilha, distante de Santa Luzia légua e meia e prosseguimos, depois de
nos abastecermos de água, quatro léguas adiante, até uma casa desabitada.
O caminho pela
manhã seguinte nos levava entre matagais onde marchamos três léguas sobre areia
solta, e outras três léguas pelos charcos. A volta do meio dia passamos perto
de uma choupana onde residia o vaqueiro de uma fazenda e imediatamente
deparamos o monte de areia, chamado Tibáu, junto do qual se vê o mar.
Avançamos
rapidamente pelas areias úmidas, passamos duas choupanas de pescadores, a duas
léguas de Tibáu e, uma légua adiante, deixamos as praias do mar, seguindo um
caminho areiento, que nos conduziu ao povoado de Areias, composto de uma
residência, de aspecto imponente, e cinco ou seis casinhas de palha.”
Pelo relato de
Koster podemos conhecer como era Mossoró em 1810. Duzentos ou trezentos
moradores espalhados em fazendas ao redor da igrejinha que presidia o quadro da
rua de casas pequenas e baixas. Os rebanhos eram rondados pelas onças e a seca
dominava, deixando os rios secos. O mossoroense reagia, matando as feras a tiro
e a faca, ajudado pelo cão fiel, defendendo o gado, pescando nas praias de
Tibáu.
Mossoró
prestou homenagem a Henry Koster, emprestando o seu nome a uma rua do conjunto
Walfredo Gurgel, onde coincidentemente mora o historiador e pesquisador
Raimundo Soares de Brito.
Geraldo Maia.
Economista. Historiador. Escritor.Funcionário da PETROBRAS S.A.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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