Por Sálvio Siqueira
Lampião tinha
uma maneira diferenciada de agir. Não entrava em combates sem necessidades,
pois, além de lhe custar desperdício de material bélico, perdia-se vidas.
Após a morte de Lampião, chacinado juntamente com mais dez cangaceiros na grota
do Riacho Angicos, em terras sergipanas, a margem direita do rio São Francisco,
em 28 de julho de 1938, as dificuldades, que já eram muitas, ficaram
insuportáveis para o restante dos cangaceiros.
Lampião e o cangaço começam a morrer logo depois da ordem do Presidente Getúlio
Vargas, passada do Palácio do Catete, na Capital do País, Rio de Janeiro - RJ,
na época, exigindo um basta, um extermínio, um fim, aos grupos de bandoleiros
que assolavam os quatro cantos dos sertões nordestino.
O 'Rei Vesgo' fora a mola mestra em todos os aspectos que dizem respeito a
sobrevivência da horda de bandidos durante os quase vinte anos em que comandou
o Cangaço. Tinha seus contatos, fornecedores de alimento, vestimenta, munição,
armas e informações em várias localidades dos Estados nordestinos por onde
passou. Sabia onde mandar buscar “o quê”, e “a quem”, fosse preciso para
abastecer seus 'cabras'. Tornou-se, de certo tempo em diante, um comerciante
mor, entre asseclas e fornecedores. Se na máfia fosse, seria o ”Padrinho” de
cada membro do bando. Comprava munição e armas, caras, mas, sabia repassar
ganhando.
Uma das maiores realizações guerrilheiras que o 'Cego' fez, foi a divisão do
grupo em subgrupos. Facilitava seus deslocamentos, escondiam-se melhor os
vestígios, enganando os comandantes de volantes, deixando-os com várias
informações de diferentes lugares ao mesmo tempo. Isso, junto a rapidez de
entrar, pegar e sair, nos ataques as pequenas povoações, eram atos que não
davam chances de um eventual confronto com volantes. A maioria das brigadas que
realizou com as volantes foram em locais escolhidos por ele. Ele, usando de
várias maneiras e formas, conseguia colocar os soldados aonde, antes, tinha
imaginado que estariam. Com isso, vários combates foram ocorridos com a
volante, pensando ser caçador, e era, na verdade, a caça. Estando, de uma hora
para outra, com inimigos em três ou quatro frentes de batalha, pois, o “Rei dos
Cangaceiros”, anteriormente, tinha dividido o grupo em flancos direito e
esquerdo, retaguarda e, ele mesmo comandava na brigada, a vanguarda.
Quando, em sua histórica saga, estudamos alguns pequenos confrontos que se
deram ao acaso, ele mesmo foi ferido, além de perder vários homens.
Com sua morte, em 28 de julho de 1938, também morreu esse lado pensador,
calculador, do cangaço.
Dentre os chefes dos subgrupos tais como Labareda, Português, Zé Sereno,
Corisco e outros, não havia um único que soubesse usar das artimanhas que usara
seu grande chefe. Lampião não repassou para nenhum deles os nomes dos ‘grandes
e fortes’ contados fornecedores de munição e armas. A ‘arrecadação monetária’
foi à zero. O terror, temor, sentido pelas pessoas quando recebiam os famosos
“bilhetes de Lampião”, também se acabaram. Ninguém obedecia mais aos pedidos de
extorsões mandos pelos chefes dos subgrupos sobreviventes. Além de ser uma
esperteza, não passar para ninguém que eram os ‘grande contatos’, pois ele, o
‘Capitão Virgolino’, seria o único distribuidor aos asseclas, era também uma
maneira de proteger sua própria vida. Com certeza, algum espertinho sempre
tinha pensamentos em matar o “Rei” e conquistar seu lugar de liderança.
A literatura cangaceira cita, quase que unânime, que Corisco seria seu
sucessor. Corisco não tinha esse dom de raciocínio. Era homem de briga, valente
e de ação, não de planejamento, além de só viver embriagado, deixando o comando
do grupo com Dadá. Labareda, apesar de valente, vivia de pegar migalhas nas
roças e casas de sertanejos, Português era um frouxo sem domínio e Zé Sereno,
em pouquíssimo tempo, torna-se um dos maiores perseguidores de cangaceiros,
principalmente de Corisco.
E assim, a agonia da fase terminal do cangaço se intensifica com a morte de seu
chefe mor, começando a descida para seu ponto final. A cada dia, após o dia 28
de julho de 1938, apaga-se um pouco, a existência daquele Fenômeno Social, que
surgira dentro de outro Fenômeno Social, denominado “Coronelismo”, por volta de
1765, na zona da mata da Capital pernambucana, com o famigerado bandido José
Gomes, o Cabeleira...
Fotos Benjamin
Abrahão
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