Por William Rosson Editor de Cultura
Um livro muito estragado é o início de tudo. O professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) José Romero Cardoso de Araújo, paraibano da gema, estava em João Pessoa quando recebeu de um amigo, Zacarias Sitônio, um exemplai desgastado pelo uso do livro de "Lampião - Sua História". O livro foi escrito em 1926 por Érico de Almeida, um antigo jornalista que atuou durante oito anos no jornal paraibano "O Norte".
O tempo havia estragado o livro e era praticamente impossível conseguir os originais. Por isso, Romero como estudioso e crítico do movimento do cangaço, resolveu resgatá-lo e, com o apoio da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), conseguiu colocar novamente no mercado a biografia do cangaceiro mais famosos do país.
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Essa biografia foi solicitada, sob encomenda, pelo então presidente do Estado da Paraíba, Dor João Suassuna, um dos grandes integrantes da campanha contra o banditismo rural. O deputado e chefe político da cidade de Princesa, coronel José Pereira de Lima, bancou os custos. Érico de Almeida seria a pessoa mais indicada por sua habilidade em escrever e colher os dados. Ao ser designado para escrever o livro, Érico viajou para localidades como Pajeú e Navio em Pernambuco - "estudando lugares e convivendo com o que há de pior".
Érico dissera em "Lampião - Sua História" o verdadeiro perfil do rei do cangaço. Lampião não era herói coisa nenhuma e, dessa forma, acaba de vez com a polêmica que vem rendendo debates e discussões ao longo de todos estes anos. Com o apoio do bando, sua ação era ofensiva. Ele era bandido na forma literal da palavra, diz o professor Romero, que diz ter como defender sua tese.
Calculista - Segundo o autor do livro, Lampião era um bandido frio e muito calculista. "Ele não consentia os seus comparsas exporem-se, somente atacando quando antevê probabilidade de vitória", conta o trecho sobre o perfil do cangaceiro. A julgar por um dos episódios relatados na biografia, Lampião era tão calculista que às vezes parecia covarde. Talvez seja fácil entender, já que na invasão de Mossoró um ano depois da obra ser lançada, ele sequer entrou na cidade, enviando somente seus representantes e um bilhete - que virou relíquia em exposição no Museu Municipal Lauro da Escóssia.
Romero se preocupou em republicar o livro pela ortografia da época. Almeida consegue deixar bem claro a vida de Lampião e o que o fez entrar no cangaço, a princípio num grupo comandado por Sinhô Pereira, até algumas invasões em alguns Estados do Nordeste. "Esta é apenas uma biografia parcial. Lampião sequer imaginava em invadir Mossoró. Talvez ele imaginasse o quando a cidade era desenvolvida naquela época, não se atreveria nem em chegar perto", relata o professor da UERN.
O livro termina com uma notícia de última hora de que Lampião teria sido pego numa emboscada e estava gravemente ferido. Não seria um ferimento mortal, mas a arapuca preparada por Liberato Correia rendeu-lhe uma promoção pelo Governo de Pernambuco. Junto com o rei do cangaço dez cangaceiros também estavam feridos. mesmo assim, ninguém sabia onde estava escondido o bandido.
Leia trecho da obra de Érico de Almeida
O bandido cuja frieza de temperamento ressalta a primeira vista, limita-se a responder laconicamente a alguma pergunta que lhe dirigem, considerando-se o o maior cangaceiro em tática de guerra, não consentindo os seus comparsas exporem-se, somente atacando quando antevê probabilidade de victória.
Prefere as emboscadas, não aceitando a luta em campo, raso, ainda que seja insignificante o número de inimigos a enfrentar, a não ser nos casos extremos, para tentar fuga.
Quando do cerco da cas do sargento Clementino Furtado, de quem é inimigo fidagal, em Santa Cruz, do município de Trunfo, o bandido que estava acompanhado de 45 facínoras, não consentiu seu irmão Levino penetrar no interior da mesma, onde se encontrava aquele inferior com quatro companheiros apenas.
No mais aceso da peleja, travou ele com o irmão, que o taxava de covarde, o seguinte diálogo:
- De que serve você entrar e morrer?!
- Você que ser beato, retrucou Levino, compre um rosário e se entregue ao governo. Eu não entendo cangaceiro assim...
Tréplica Lampião:
- Eu é que não entendo cangaceiro como você... você morrendo aqui, inda nós matando esse povo todo, não dá para compensar o prejuízo.
E segurando no braço de Levino, que teimava em avançar, sentencia-lhe conselheira:
- Você veve pouco e, Kelé (Clementino) não tem medo de caretas.
Neste comenos intervem na conversa o outro irmão, o Antonio Ferreira:
- É Exaro. Se Kelé tivesse medo de caretas já teria se entregado com seis horas de fogo. Mas, parou, para não gastar munição. O cabra que ali entrar se acaba como sabão na mão de lavandeira...
Ainda tagarelaram, eis senão quando aparece um troço de soldados do destacamento de Triunfo, fazendo fugir Lampião e toda a caterva, apesar dos protestos de Levino, que preferia combater.
Fonte: Jornal
"Gazeta do Oeste"
Cidade:
Mossoró-Rn
Data: 18 de outubro de 1998
Ano: ?
Número: ?
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira
Este jornal
foi a mim presenteado pelo pesquisador do cangaço e sócio da SBEC - Sociedade
Brasileira de Estudos do Cangaço Francisco das Nascimento (Chagas Nascimento).
Desculpem-me alguma falha na digitação, sou um pouco cego.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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