A história da
cidade de Mossoró, hoje conhecida nacionalmente pelos seus atrativos culturais
e pelos grandes resultados econômicos que tem alcançado ao longo dos últimos
anos, é repleta de fatos curiosos que justificam o perfil do povo mossoroense,
que consegue crescer nas dificuldades e superar as barreiras, buscando sempre
dias melhores. Desde o início demos demonstrações de que somos diferentes, de
que conseguimos avançar no tempo.
SOMOS GUERREIROS
A nossa origem
nos remete aos índios Monxorós, cujo perfil descrito pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) é o seguinte: tinham estatura baixa, eram
bastante ágeis, o formato da cabeça era achatado e, o principal, eram hábeis
guerreiros e silenciosos.
Segundo
estudos do pesquisador potiguar Luiz Câmara Cascudo, citado pelo IBGE, as
primeiras penetrações na área do que hoje é o município de Mossoró teriam
ocorrido por volta de 1600. Cartas e documentos da época falavam sobre o
encontro de salinas, que foram exploradas pelos holandeses Gedeon Morris de
Jonge e Elbert Smiente até 1644.
NOSSA FORMAÇÃO
O distrito de
Mossoró foi criado em 27 de outubro de 1842, conforme o IBGE, através da
resolução provincial de número 87. Em março de 1852, o distrito foi elevado à
categoria de vila. Virou cidade somente em 9 de novembro de 1870, através de
lei provincial.
Até alcançar a
atual formação, com aproximadamente três mil quilômetros quadrados, Mossoró
passou por diversas mudanças, incorporando e desmembrando territórios. Foi
assim com a área que hoje é as cidades de Assu, Governador Dix-Sept Rosado,
Baraúna etc.
ABOLIÇÃO DOS
ESCRAVO
O dia 30 de
setembro é a maior festa cívica comemorada na cidade. Desde 13 de setembro de
1913, a data foi decretada feriado, como uma forma de homenagear todos que
participaram das lutas pela abolição da escravatura. Hoje, 30 de setembro é dia
de muita festa.
Diferente dos
outros municípios brasileiros, Mossoró foi pioneira na libertação. Todo o
processo foi concluído cinco anos antes que o restante do país fosse
contemplado através da chamada Lei Áurea, que decretou a ilegalidade da
escravidão no território nacional.
De acordo com
os documentos históricos, o povo mossoroense foi o primeiro, entre os
norte-rio-grandenses, a fazer campanhas sistemáticas pela liberação dos seus
escravos. Em 1848, o deputado geral pelo RN, Casimiro José de Morais Sarmento,
falou durante sessão sobre os benefícios que seriam alcançados com a
transformação dos escravos em trabalhadores livres:
"Concorda
em que o trabalho do escravo não é necessário. No Rio Grande do Norte há poucos
escravos, e quase toda a agricultura é feita por braços livres. Conhece muitos
senhores de engenho que não têm senão quatro ou cinco escravos, entretanto que
têm 20, 25 e 40 trabalhadores livres, e se não os têm em maior número, é pelo
pequeno salário que lhes pagão. Disto se convenceu o orador quando ali foi
presidente, porque em consequência de elevar o salário a 400 reis por dia,
nunca lhe faltarão operários livres para trabalharem na estrada que teve de
fazer".
Os registros
históricos mostram que não éramos uma cidade escravocata. Em 1862, tínhamos
apenas 153 escravos, em meio a uma população de 2.493 habitantes. Em termos
percentuais, equivaliam a apenas 6,137%. Essa falta de vocação escravista se
deu pela falta de engenhos, onde geralmente os escravos eram empregados.
Tínhamos mais criações de gado.
Mesmo assim,
fomos pioneiros no movimento libertário. Mas isso tem uma justificativa. O ano
de 1877 foi terrível para a região nordeste, com uma seca devastadora que durou
até meados de 1879. Houve um êxodo em massa para a região litorânea, na fuga da
seca.
Foi nesse
período que Mossoró passou a receber maior quantidade de escravos, que eram
enviados pelos ricos fazendeiros como uma forma de amenizar os prejuízos
trazidos pela falta de água. Assim, o comércio escravista floresceu rapidamente
junto aos mossoroenses.
Nesse
contexto, onde a cidade passou a viver realmente a cultura da escravidão, é que
foi despertado o sentimento de piedade. Ainda segundo os registros históricos,
os primeiros ideais libertários surgiram no Ceará, nosso estado vizinho, em
1881, e logo chegaram por aqui.
Em 6 de
janeiro de 1883 foi criada, em Mossoró, a Sociedade Libertadora Mossoroense,
cujo objetivo era lutar pela libertação. De acordo com os historiadores, a
ideia é atribuída à Frederico Antônio de Carvalho, da Loja Maçônica de 24 de
junho. A presidência provisória da entidade ficou ao encargo de Raimundo Lopes
Galvão, que logo ganhou adesão de personalidades ilustres da sociedade
mossoroense, naquela época, dando força ao movimento.
A diretoria
definitiva fica formada por: Joaquim Bezerra da Costa Mendes, como presidente;
Romualdo Lopes Galvão, como vice-presidente; Frederico de Carvalho, primeiro
secretário; Dr. Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque, que exercia a função de
orador.
A Sociedade
Libertadora Mossoroense tinha um código legal, criado com um único artigo, sem
parágrafos. A norma dizia o seguinte: "todos os meios são lícitos a fim de
que Mossoró liberte os seus escravos", deixando claro quais eram os objetivos
daquela entidade.
Nessa época,
ainda de acordo com os levantamentos históricos, a cidade de Mossoró contava
apenas com 86 escravos. Em 10 de junho, 40 deles foram alforriados.
A ideia logo
tomara conta de toda a população, que aos poucos foi aderindo ao movimento e,
sem muita resistência, foi liberando seus escravos. Muitos mossoroenses não
fizeram nem questão de receber as indenizações que foram oferecidas pelo
governo na época, fruto do espírito libertador que havia tomado de conta dos
mossoroenses, que hoje se mantém.
O dia 30 de
setembro de 1883 foi a data designada para a liberação total dos escravos; e o
objetivo foi alcançado. No dia 29 de setembro, o Presidente da Libertadora
Mossoroense dirige a Câmara Municipal de Mossoró um ofício, agora transcrito na
íntegra:
Ilustríssimos
Senhores Presidente e Vereadores da Câmara Municipal.
A Sociedade
Libertadora Mossoroense, por seu Presidente abaixo assinado, tem a honra de
participar a V. Sªs que, amanhã, 30 de setembro, pela volta do meio-dia, terá
lugar a proclamação solene de Liberdade em Mossoró. E, pois, cumpre-me o grato
dever de convidar V. Sªs e seus respectivos colegas, representantes do
Município, para que se dignem de tomar parte nessa festa patriótica que marcará
o dia mais augusto da cidade e do município de Mossoró.
A emancipação
mossoroense é obra exclusiva dos filhos do povo; a esmola oficial não entrou
cá.
Sua Majestade,
o Imperador, quando lhe comunicamos a próxima libertação do nosso território,
foi servido de enviar a dizer-nos pelo Senhor Lafayette, Presidente do Conselho
de Ministros, que nos agradecia. A libertação está feita e ninguém apagará da
história a notícia do nosso nome. Os mossoroenses são dignos de ser olhados com
admiração e respeito hoje e daqui a muito tempo, por cima dos séculos.
A Sociedade
Libertadora mossoroense se congratula com V.Sªs por tão fautoso acontecimento.
Deus guarde a
V.Sªs Ilustríssimo Senhor Romualdo Lopes Galvão, digno Presidente da Câmara
Municipal desta cidade de Mossoró.
O Presidente
Joaquim Bezerra da Costa Mendes.
Sala das
Sessões da Sociedade Libertadora Mossoroense, 29 de setembro de mil oitocentos
e oitenta e três.
O histórico 30
de setembro de 1883 foi comemorado pelos mossoroenses, que ainda hoje fazem uma
belíssima festa para relembrar a atitude pioneira que foi tomada pelos nossos
antecessores, mais uma prova de que sempre fomos um povo à frente do seu tempo.
A cidade
amanheceu em festa. Ao meio-dia, a Sociedade Libertadora Mossoroense se reúne
na Câmara Municipal (hoje funciona o Museu Histórico Lauro Escóssia). O
Presidente da Sociedade, Joaquim Bezerra da Costa Mendes, abre a memorável
sessão, que começa com a leitura de diversas cartas de alforria dos últimos
escravos de Mossoró. Feita a liberação oficial, Joaquim declarou: “livre o
município de Mossoró da mancha negra da escravidão”.
Na cidade foi
criado o Clube dos Spartacos, que era composto, em sua maioria, por
ex-escravos, tendo sido eleito para presidente o liberto Rafael Mossoroense da
Glória. Ainda de acordo com as pesquisas históricas, o objetivo desta entidade
era dar abrigo e amparo aos novos trabalhadores livres, tanto aqueles que já
eram da terra, quanto àqueles que vinham para cá.
Mossoró,
oficialmente livre da escravidão, logo passou a ser procurada por escravos que
conseguiam fugir de outras regiões. O pessoal da Spartacos assumiu o papel de
troca de choque dos abolicionistas, lutando para que os escravos não voltassem
aos seus donos.
Esse
“problema” foi gerado devido à antecipação do povo mossoroense, que não esperou
pelo decreto nacional, assinado pela Princesa Isabel, libertando os escravos do
Brasil. Por aqui, a escravidão já havia acabado cinco anos antes quando o resto
do país foi atingido.
CONTINUA...
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