Seguidores

sábado, 11 de março de 2017

MÁRIO SÉRGIO ROSADO VENTURA 5 DE JULHO DE 1959 – 8 DE MARÇO DE 2017.

Por Jerônimo Dix-huit Rosado Ventura

Escolhi esta foto, devido ao grande teor de sentimento que ela traz consigo. Representa o momento em que, muitos anos depois de lá ter estado pela última vez, meu irmão entrava na casa da Fazenda Bamburral, de propriedade do meu avô, localizada em Governador Dix-Sept Rosado, Rio Grande do Norte.

Ele era assim: puro sentimento. Era diferente. Diferente de tudo e de todos. Trilhou o seu próprio caminho, não dando ouvidos aos paradigmas sociais vigentes. Contentava-se com muito pouco. Um jardim (sua paixão), animais por perto e uma companheira para amar e partilhar do seu mundo único.

Desde pequeno, aprendi a amar e respeitar o meu irmão mais velho. De inteligência muito acima da média, fugia aos padrões habituais, para o que quer que fosse. Tinha vontade própria.

A despeito de sempre ter sido muito afável, no colégio, não deixava que nenhum encrenqueiro mexesse com nossa mãe, comigo ou com nossas irmãs. Era e sempre foi um xerife. Acostumei-me a viver sob sua proteção, achando-me o cara mais descolado do colégio. Quem ousaria me atacar, sabendo que eu era o irmão do Mário?

Mário Sérgio Rosado Ventura

Tinha uma maneira de ser muito peculiar. Era o preferido da minha mãe, do meu avô, da minha avó, das minhas tias. Como conseguia? Não sei. Confesso que nunca tive inveja, apenas constatava o fato, já que minha admiração por ele superava qualquer sentimento vil.

Há cerca de dez anos, estive em sua casa em Friburgo. Era uma noite de inverno, ele me levou a um cômodo da casa, abriu um armário e começou a me mostrar várias fotos da nossa infância. Uma das caixas continha os pertences do nosso avô Dix-Huit, falecido há alguns anos. Abriu-a e retirou a carteira de senador dele. Olhamos um para o outro e choramos abraçados, visualizando de imediato todo um passado que tivemos juntos, meu avô, ele e eu.


A vida nos afastou. Ele foi para Friburgo e eu para o Rio Grande do Norte.
 
Fumava, era tatuado, gostava da noite, surfava e andava de skate. Mesmo sendo o oposto do que sou, construímos desde a infância, um liame, que nunca mais se desfaria.

Jerônimo Dix-huit Rosado, dona Naide e Liana Maria a primeira filha - Jornal de Fato

Há dois dias, fui surpreendido com a notícia de sua morte. Eram quatro horas da manhã, quando minha irmã Liana me enviou uma mensagem dizendo que o estado físico dele havia se deteriorado. Estava internado desde a noite anterior, com hemorragia digestiva. Levantei-me e me dirigi ao computador para comprar a passagem para ir a Friburgo. Poucos minutos depois, nova mensagem de voz, dizendo que ele tinha falecido. Veio uma sensação de desconforto, um mal-estar, aquela dúvida, quando nos perguntamos se estamos mesmo acordados.

Ele se foi.

Agora restava-me somente ir ao Rio para estar com minha mãe e irmãs. Morando distante, não haveria tempo de chegar ao enterro.

Aquela sensação de opressão foi aumentando, à medida que falava com familiares e amigos. E se manteve até o dia seguinte, quando fui ao cemitério visitar o seu túmulo. Nosso tio Carlos, nossa tia Gracinha e eu colocamos flores e choramos a sua passagem para outra esfera.

Ele se foi, deixando minha mãe desolada e todos nós com muita saudade.

A morte é inexorável para todos nós. Mas a sensação de perda, especialmente quando vem de forma abrupta, o seu peso, veio a desmoronar o raciocínio teórico que eu havia edificado. Foi muito maior do que imaginava. Acredito que aquela imagem de nós quatro, irmãos criados para ultrapassar os dédalos da vida, ruiu, deixando a parte lúdica que trazíamos conosco desde a tenra infância de lado e impondo-nos a falibilidade e efemeridade de nossa passagem terrestre.

Meu mano partiu e deixará saudades para sempre. Irmãos são pessoas que se somam, formando uma unidade. Nós quatro não formamos mais uma unidade, pelo menos nesta nossa passagem telúrica, mas permanecerá a unidade anímica, de espíritos que traçaram os seus destinos para conviver, aprender e se amar mutuamente.

Jerônimo Dix-huit Rosado Ventura

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário